“Estou dizendo, Johan Hill realmente amadureceu!”, exclama alguém ao celular antes de uma sessão para indústria e imprensa do Festival de Toronto. A reação é sobre Anos 90, a estreia do ator na direção de um longa-metragem. A qualidade do filme justifica a afirmação - Hollywood está pronta para levá-lo a sério -, mas seu recorte sobre a vida de um garotinho adorável e problemático é sobretudo fruto da visão de um artista extremamente sensível.
Hill, que também assina o roteiro, narra as experiências de Stevie (Sunny Suljic) na passagem da infância para a adolescência em meados da década de 1990. Sua jovem mãe (Katherine Waterston) parece mais preocupada com aventuras amorosas, enquanto seu irmão mais velho (Lucas Hedges) usa a violência como mecanismo de defesa. Stevie fica sozinho, sem pertencer a lugar nenhum, até que encontra um grupo de skatistas na periferia de Los Angeles.
Na camaradagem dos novos amigos, e também nos seus problemas, Anos 90 retrata uma fase confusa da vida. Hill, porém, toma cuidado para não tratar seus personagens como idiotas. Sim, eles são adolescentes e falam muita besteira - e de forma pouco articulada. Nas entrelinhas, contudo, existem pessoas complexas e com diferentes perspectivas sobre a vida. “Tem horas que não aguento essa m*rda”, reclama Stevie logo depois de uma briga com a mãe. “Todos têm as suas m*erdas para lidar. Quando você olha de perto, não quer trocar a sua m*rda pela dos outros”, aconselha Ray (Na-kel Smith).
Os diálogos naturais e a estética autêntica, inclusive pelo “formato MTV” 1.33:1, tornam o filme uma viagem no tempo. Até a falta de pudor - ou noção - em relação a sexo e drogas é típica da época. A ousadia rende momentos engraçadíssimos e também chocantes. Para quem viveu a adolescência nos anos 90 e hoje está na casa dos 30 anos é inevitável não ver os próprios erros na tela (mesmo que sejam apenas indumentários) e ponderar: o que eu estava pensando?
Ao mesmo tempo, a narrativa é atemporal. A fofura de Stevie, que aparenta ser mais jovem do que é, acende um instinto de proteção. A dor dele é maior do que a simples necessidade de pertencer. Hill olha para todos os aspectos da sua vida, também encontrando culpa e raiva nas suas ações. A atuação de Suljic traduz todas essas camadas, que mostra entender seu personagem mesmo nas cenas difíceis.
Anos 90 sinaliza o alcance de um cineasta de personalidade forte e habilidade notável para direção de atores. Entre risadas e lágrimas, essa não é apenas prova da maturidade profissional de Hill, mas da sua capacidade para criar uma história única.
Ano: 2018
País: EUA
Classificação: 16 anos
Duração: 85 min
Direção: Jonah Hill
Roteiro: Jonah Hill
Elenco: Sunny Suljic, Lucas Hedges, Katherine Waterston