O Amante de Lady Chatterley é romance de época que vai além das cenas quentes

Créditos da imagem: Netflix/Divulgação

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Crítica

O Amante de Lady Chatterley é romance de época que vai além das cenas quentes

Filme da Netflix é adaptação de romance que gerou polêmica por conteúdo erótico

Omelete
4 min de leitura
09.12.2022, às 15H49.

À época de seu lançamento, há quase 100 anos, O Amante de Lady Chatterley, escrito por D.H. Lawrence, gerou polêmica por suas passagens eróticas e teve sua publicação censurada no Reino Unido por décadas. Hoje, a mais nova adaptação cinematográfica desse clássico da literatura britânica, disponível na Netflix, provavelmente está atraindo mais público pelo burburinho causado por suas cenas quentes, em geral não tão comuns em filmes sobre romances de época. Mas, como declara uma personagem da trama, essa é uma história de amor - e também de busca pela própria liberdade.

A atriz Emma Corrin, intérprete da jovem princesa Diana em The Crown, é quem dá vida à protagonista, Connie Reid, recém-casada com Clifford Chatterley (Matthew Duckett). O rosto radiante da noiva é a primeira imagem que vemos na tela, mas a promessa de felicidade dura apenas uma noite: no dia seguinte, ele vai para o front da Primeira Guerra Mundial. Quando retorna, meses depois, tudo muda. Agora dependente de uma cadeira de rodas, ele e a esposa deixam Londres e rumam para a imponente casa da família no interior. Ali, Connie ocupa seus dias cuidando do marido e fazendo breves passeios, mas ela sente falta da rotina na capital, da irmã e confidente, Hilda (Faye Marsay), e da vida a dois que havia imaginado com o marido.

Se antes a sra. Chatterley se sentia segura ao lado de Clifford - gentil e atencioso, como ela mesma diz -, com o passar do tempo, a situação fica mais angustiante. Dentro daquela espaçosa mansão, ela se sente enclausurada. A falta de sexo entre o casal é um problema, mas não o único. A cada dia, seu marido se mostra mais distante e indiferente, priorizando a escrita do primeiro romance ou as reuniões de negócios. Isolada nesse relacionamento de mão única, Connie encontra refúgio junto de alguém tão solitário quanto ela: Oliver Mellors (Jack O'Connell), o guarda-caça da propriedade.

Seu interesse pelo funcionário e seu despertar sexual acontecem aos poucos. Primeiro, ela flagra o funcionário tomando banho na área externa do chalé onde vive. Sem mencionar a indiscrição involuntária, ela mantém uma conversa extremamente formal com Oliver, mas o que viu é o bastante para atiçar sua libido. Ao chegar em casa, ela tira a roupa diante do espelho e se masturba. A partir daí, a nudez, que aparece em vários momentos da narrativa, é um ingrediente acrescentado à história de forma gradual e muito consciente. E é interessante ver como o filme, que tem direção da cineasta francesa Laure de Clermont-Tonnerre e roteiro de David Magee, conduz a progressão da intimidade entre os amantes.

A primeira transa de Connie e Oliver, por exemplo, é carregada de desejo reprimido de ambas as partes, mas os dois quase não se tocam. Só no segundo encontro eles conseguem expressar um pouco melhor o que estão sentindo e, a cada despedida, deixam de ser estranhos um para o outro. Connie agora é uma mulher que pede para não ser chamada de maneira formal (“Estou cansada de cavalheirismo”), transa ao ar livre e toma banho de chuva nua ao lado do amante.

Importante destacar que, antes mesmo do começo do affair, Connie tinha uma "licença" do marido para uma relação extraconjugal. Ele queria um herdeiro e, para isso, estava disposto a abrir mão da fidelidade da esposa. Em teoria, esse acordo a libertaria da culpa pela traição, mas o caso com Oliver toca em outras feridas que vão além da simples moralidade e expõem o que realmente está em jogo ali. Os rumores do envolvimento da patroa com um homem de classe social inferior podem colocar tudo a perder numa comunidade que se mantém à custa das aparências. O julgamento vem de todos os lados, incluindo os empregados e a própria família.

Essa, aliás, é uma questão que distancia o casal, talvez mais até do que a falta de afinidade na cama: suas visões de mundo são bem diferentes. Ela é uma mulher atenta e interessada no mundo ao seu redor, enquanto Clifford é um homem esnobe e egocêntrico, que quer dedicação exclusiva da esposa 24 horas por dia. Essa tarefa ela assumiu por um bom tempo e o cenário só mudou com a interferência de Hilda, que sugere à irmã contratar uma cuidadora para o marido, a sra. Bolton (Joely Richardson, atriz que interpretou Lady Chatterley na minissérie da BBC, em 1993). 

Connie é do tipo que se solidariza com as reivindicações dos trabalhadores da mina da região que protestam por melhores condições de trabalho. Por isso, não tolera a postura de Clifford, que se vê como alguém superior pelo simples fato de pagar um salário a quem trabalha para ele. Nessa sociedade de papéis bem demarcados e preconceitos diversos, recai sobre a protagonista a responsabilidade de deixar, ela mesma, de ser apenas mais uma propriedade do marido e, sim, autora da própria história.

Nota do Crítico
Bom
O Amante de Lady Chatterley
Lady Chatterley's Lover
O Amante de Lady Chatterley
Lady Chatterley's Lover

Ano: 2022

Direção: Laure de Clermont-Tonnerre

Elenco: Jack O'Connell, Emma Corrin

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