“Aqui é a base de controle para Major Tom. Você realmente conseguiu e os jornais querem saber a marca de camisa que você usa.” Esse trecho traduzido da música “Space Oddity”, de David Bowie, é perfeito para resumir a relação que Jakub Procházka tem com o governo tcheco em O Astronauta. O personagem de Adam Sandler é enviado para os confins do sistema solar em uma missão que pode salvar o mundo, mas é obrigado a fazer propagandas na viagem para atender os seus patrocinadores. Filho de uma nação antes comunista, o protagonista se vê abraçado pelo capitalismo enquanto vaga rumo ao desconhecido.
Considerado uma celebridade, Procházka recebe atenção de todo mundo, mas ainda se sente o homem mais solitário da galáxia. Sozinho em direção a uma misteriosa nebulosa, ele sente saudade de Lenka (Carey Mulligan), a esposa grávida que deixou na Terra. Com o tormento da culpa, sua viagem espacial se torna uma jornada de autodescoberta quando ele encontra Hanus (Paul Dano), uma gigantesca aranha alienígena que o obriga a revisitar as próprias memórias e se redimir do egoísmo de explorar o desconhecido por conta própria.
Qualquer pessoa que já tenha tomado contato com o existencialismo na ficção científica espacial (nem é preciso voltar no tempo até 2001 ou Solaris, basta qualquer exemplar recente, como o exame da renúncia e da culpa em Ad Astra) tende a analisar O Astronauta em equivalência. O longa-metragem dirigido por Johan Renck (Chernobyl) se baseia no livro homônimo de Jaroslav Kalfar, mas apresenta um mundo em crise sem se importar em desenvolver a fundo que crise é essa. O roteiro do inexperiente Colby Day resume a dinâmica a um homem arrependido das próprias escolhas e uma criatura alienígena obstinada a confortá-lo.
Isso não seria um problema se o filme trabalhasse a aproximação e a relação dos dois com alguma aptidão para tal. Quando Renck e Day tentam criar uma carga dramática mais densa sobre a jornada de Procházka, o resultado é um misto de desconforto e vergonha, e a aproximação esperada se torna uma grande sensação de desconexão com o personagem e sua história.
Mesmo com o experiente Max Richter (A Chegada) como compositor, O Astronauta não faz jus ao bom histórico de odisseias espaciais de Hollywood. Partindo da confortável premissa de que não há som no vazio do espaço, o filme trabalha a trilha sonora com um despojamento que se traduz em cena como indisposição.
Na contramão do som, o desenho de produção de Jan Houllevigue, que trabalhou com Renck em clipes de Bowie, se esmera nos detalhes (como a versão teiosa de Paul Dano) e na ambientação (como na preocupante nebulosa no final do sistema solar, rica em cores e proporção). Lamentavelmente, O Astronauta perde a oportunidade de unir seu silêncio autoimposto ao bom CGI para criar cenas convincentes de contemplação ou de imersão.
Esse subgênero do scifi existencial continua preservando seu prestígio. Só isso justifica unir Adam Sandler, Carey Mulligan e Paul Dano em um filme que de resto almeja uma profundidade narrativa que está longe de alcançar.
Ano: 2024
País: EUA
Duração: 107 min
Direção: Johan Renck
Elenco: Paul Dano, Adam Sandler, Carey Mulligan