Mads Mikkelsen em O Bastardo (Reprodução)

Créditos da imagem: Mads Mikkelsen em O Bastardo (Reprodução)

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Crítica

Nikolaj Arcel escancara fragilidade das monarquias no poderoso O Bastardo

Épico histórico traz Mads Mikkelsen em eterna contradição

Omelete
3 min de leitura
Pedrinho
19.09.2024, às 09H41.

A firmeza e a obstinação são os traços mais marcantes de Ludvig Kahlen durante quase toda a duração de O Bastardo. O personagem de Mads Mikkelsen é inspirado no ex-capitão do exército dinamarquês, que explorou e cultivou a selvagem Jutlândia da Dinamarca - que agora compreende a grande maioria do país - em meados do século XVIII. Considerada infértil e inflexível, a terra se dobrou apenas à insistência de Kahlen.

Ele se apresenta inicialmente como um humilde soldado aposentado que deseja tentar colonizar as terras abandonadas pelo reino. Porém, logo se revela que sua postura subserviente na realidade escondia a grande ambição de se tornar um membro da alta sociedade dinamarquesa, como seu pai, um nobre anônimo que rejeitou seu bastardo e o enviou para o exército. Essa imparável fome de poder faz nosso protagonista agir como um nobre mesmo vestido em trapos, e não se abalar diante das agruras da natureza.

Mas, ainda que os desafios da lavoura pareçam insolúveis, Kahlen enfrenta problemas ainda maiores nos nobres salões de seu rival Frederik Schinkel (Simon Bennebjerg). Vilão da história, Schinkel é um filho mimado de um finado explorador, responsável por expandir os territórios do rei. Porém, à sombra do pai morto, ele usa da violência e da ebriedade para esconder sua personalidade infantil e egocêntrica. É nesse personagem que o diretor e roteirista Nikolaj Arcel investe sua crítica às monarquias.

Longe do controle do rei e com um poder herdado dos feitos do pai, Schinkel comanda suas terras com mão de ferro e se considera dono do gigantesco urzal. Pela lei, toda terra infértil pertence à coroa dinamarquesa, mas isso é ignorado pelo jovem. Em contrapartida, o rei que domina o lugar sequer sabe o que acontece em suas terras, enquanto seus conselheiros governam ao seu bel-prazer. Diante desse jogo das cadeiras sobre quem domina a terra abandonada, Arcel brinca com a dinâmica monarquista, que deixa sempre o avanço do país em segundo plano.

Toda essa história ganha força através da brilhante atuação de Mikkelsen, que constrói ao lado de Amanda Collin (como Ann Barbara, esposa de Kahlen) uma história forte, cheia de contradições. A dinâmica da dupla marca a dualidade do coração de Kahlen, que começa a colocar outras prioridades em sua balança pessoal - de repente, o soldado do rei se afasta da sombra da coroa e começa a valorizar mais pessoas que os títulos e terras que a realeza podem fornecer.

O Bastardo explora o pior que uma sociedade governada por poucos pode oferecer, mas se concentra também em contar a história do nascimento do amor em um coração que nunca recebeu nada parecido. Explorando os problemas das monarquias na visão de um homem obstinado, o filme revela-se, enfim, uma história realista, mas que se permite sonhar.

Nota do Crítico
Ótimo
O Bastardo
Bastarden
O Bastardo
Bastarden

Ano: 2023

País: Dinamarca/Suécia/Noruega/Alemanha

Duração: 127 min

Direção: Nikolaj Arcel

Roteiro: Nikolaj Arcel, Anders Thomas Jensen

Elenco: Simon Bennebjerg, Amanda Collin, Mads Mikkelsen

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