O nome de mais destaque nos créditos de O Magnata é o do cantor e compositor Chorão, do Charlie Brown Jr., ainda que ele não seja diretor nem protagonista, mas autor da idéia que foi transformada em roteiro por Bráulio Mantovani e Messina Neto. O nome de Chorão está lá, claro, para atrair a massa de fãs da sua banda, e como tal O Magnata começa funcionando muitíssimo bem.
Começa com "atitude", esse produto da moda que se ganha na tampa do refrigerante. Magnata (Paulo Vilhena) tem atitude. Dá rolê armado, ganha as minas com sua banda de rock, sai com os manos do skate e rouba Ferraris só pra zoar. A vida bandida de Magnata é o mesmo gangsta style dos videoclipes - o diretor estreante do filme, Johnny Araújo, já assinou vários clipes do CBJ, como o premiado "Só por uma Noite" - e a identificação imediata com o público-alvo começa aí.
magnata
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Não é o tipo de filme que apenas emula o gosto popular, mirando numa reserva de mercado. Chorão, Araújo, Vilhena e companhia sabem falar as gírias do seu público, e O Magnata é um filme bastante autêntico do que diz respeito à caracterização do gueto, ao retrato da cena skatista e da música alternativa paulistana nos arredores do Metrô Armênia.
Mas daí vêm os problemas. Filmar halfs e shows é fácil. Começa a ficar difícil quando há uma história pra contar.
Coração de emo
Magnata tem uma razão para ser metido a pária: seu pai morreu, deixou-lhe herança milionária, e a sua mãe (interpretada por Maria Luísa Mendonça) é uma perua alcoólatra. O fato de ser Maria Luísa Mendonça a escalada para o papel é sintomático, com aquela cara de louca de quem acabou de deixar Querô largado à própria sorte. A partir do momento em que insere esse drama do protagonista, O Magnata se compromete a desenvolvê-lo, e o faz toscamente.
De rebelde sem causa, o personagem de Vilhena vira incompreendido. Perdeu-se na vida por falta de pai e mãe. O filme isenta o personagem de culpa e encontra outros responsáveis por suas irresponsabilidades. Não cabe julgar aqui se Magnata é um alter-ego de Chorão, mas o fato é que, enquanto roteirista, Alexandre Magno Abrão justifica o lacrimoso nome artístico. É de um sentimentalismo sem fim esse O Magnata.
Não vou entregar o final, mas é fácil perceber o momento em que aflora o emo que existe lá dentro: na constrangedora cena em que Magnata, descendo a Imigrantes, telefona para casa... Chorão vira o rosto para não vermos a lágrima, desvia o assunto, sobe ao palco, enche sua pista em Santos para filmar os amigos, mas no fundo O Magnata é o manifesto solitário de um coração doído, com tendência a mártir, pedindo desesperadamente por colo.
Ano: 2006
País: Brasil
Classificação: 14 anos
Duração: 102 min