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Os Parças | Crítica

Comédia com Whindersson Nunes tinha potencial, mas no final só é uma bagunça

30.11.2017, às 18H24.
Atualizada em 30.11.2017, ÀS 19H02

Os Parças poderia ser definido em uma palavra: “bagunça”. Mas não no sentido de “a galerinha se mete em confusão”, típico de Sessão da Tarde. A bagunça do filme é uma questão de roteiro mesmo: há muita piada para pouca história.

O filme parte de uma premissa que tinha potencial. Oscar Magrini esconde no seu escritório quatro pessoas e, como retribuição, exige que eles o ajudem a organizar um casamento, atividade que quer oferecer na sua empresa fajuta, recém-inaugurada no centro da cidade. Porém, ao descobrir que o seu primeiro cliente é o maior contrabandista da região, ele decide fugir com o dinheiro e deixar para o quarteto a responsabilidade de lidar com o figurão violento.

Uma ideia simples, mas que não foi bem construída. Os quatros se juntam porque ouviram tiros e correria e, como pessoas sensatas, saíram com a multidão para se proteger. O policial, que presenciou a desordem, opta por proteger o atirador e ir atrás de apenas alguns indivíduos. Por quê? Não faz sentido. O pilantra vivido por Magrini os chantageia a ficar, mas ele mesmo é o primeiro a ir embora. Não bastasse isso, a ideia de um figurão milionário, capaz de se livrar até mesmo da Lava Jato, contratar uma empresa que acabou de lançar um site é forçar “um pouco” a barra.

De todo o modo, ao longo do filme acompanhamos as diversas situações que o grupo se envolve na tentativa de não decepcionar o contrabandista, desde a prova do vestido até as despedidas de solteiro. Mas, da forma que foi montado, a impressão que fica é a de uma obra retalhada, que esquece trechos da trama em certos momentos para, tempos depois, os relembrar como fatos importantes. Possivelmente, esses momentos funcionariam melhor se fossem sketches de humor, mas dentro de uma obra fechada, em que o fio condutor é a narrativa e não as piadas, o resultado é caótico.

A decisão de escalar Whindersson Nunes e Tom Cavalcante revela o interesse de atrair diferentes gerações para o cinema e, provavelmente, nisso o longa será bem-sucedido. Mas, ao lado do youtuber, o humorista ficou datado, como a própria ideia de imitar o Fábio Jr. Não há problema em aproveitar seu arsenal de personagens e imitações - algumas delas até funcionam como antes -, mas as piadas dele, assim como a maioria das presentes no filme, já foram usadas à exaustão ou, simplesmente, não têm o mesmo apelo de anos antes. No final, o ponto alto do elenco fica mesmo a cargo da dupla Nunes e Tirullipa, que claramente têm química.

Embora use - muitas vezes sem motivo - recursos já batidos na comédia, como rir de peido e o famoso gemidão do zap, até existem piadas com objetivos mais interessantes. Em meio a um exagero e outro, o roteiro dá espaço para fazer uma crítica bem-humorada ao preconceito contra o nordestino, explícita na cena em que os quatro estão sentados no bar. O estereotipado paulista da Mooca, interpretado por Bruno de Luca, faz comentário sobre a “cabeça chata” deles. Não apenas ninguém ri, como Tirullipa devolve a gentileza. Pena que a piada também não é boa.

Vale reconhecer, porém, a importância de colocar na tela atores fora do eixo Rio-São Paulo. Além de ser pertinente para o cenário do filme, inverte uma prática comum nas produções nacionais: dessa vez, é o sotaque e a própria figura do paulista que ganham reproduções caricatas. Infelizmente, diante de tantos problemas e excessos, esta quebra de padrão fica muito pequena e quase passa despercebida.

Com a participação de Neymar, o final deixa brecha para uma sequência. Para dar certo, é preciso de fato estruturar uma nova história, sem se deixar refém de piadas que parecem engraçadas, mas que não servem para a narrativa. Talvez Os Parças tenham mais sorte na Europa do que na 25 de Março.

 

Nota do Crítico
Ruim
Os Parças
Os Parças
Os Parças
Os Parças

Ano: 2017

País: Brasil

Classificação: 14 anos

Duração: 95 min

Direção: Halder Gomes

Roteiro: Cláudio Torres Gonzaga

Elenco: Tom Cavalcante, Whindersson Nunes, Bruno de Lucca, Tirullipa, Paloma Bernardi, Milhem Cortaz

Onde assistir:
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