Michael B. Jordan em cena de Pecadores

Créditos da imagem: Warner Bros./Divulgação

Filmes

Crítica

Sexy e vibrante, Pecadores é o melhor trabalho da carreira de Ryan Coogler

Diretor retoma parceria com Michael B. Jordan em seu filme mais pessoal até agora

Omelete
4 min de leitura
17.04.2025, às 08H49.

É interessante que o retorno de Ryan Coogler ao cinema autoral desde Fruitvale Station - A Última Parada, de 2013, seja o seu filme mais vibrante e pessoal. Após sucessos bilionários com grandes franquias como Creed e Pantera Negra, o cineasta norte-americano buscou em suas próprias origens o caminho para contar uma história sobre as divisões raciais e de classe nos Estados Unidos, um país que esgota seus cidadãos pretos e vulneráveis há séculos, e que faz uso do horror como alegoria para expor o pecado dentro de cada um de nós.

Como já é tradição em sua filmografia, Coogler volta a usar o prisma do entretenimento para contar histórias muito mais profundas do que aparentam ser. Pecadores é um drama histórico comovente e visceralmente bem pesquisado que apresenta o blues como a música do diabo, tal como o gênero era rotulado na época pela preconceituosa alta-sociedade estadunidense do início do século XX, antes de lutar para reformulá-lo à sua própria maneira, amarrando suas origens à mitologia presente em religiões de matriz africana enraizadas nas crenças dos descendentes de escravos.

Na trama, o cantor e compositor de R&B Miles Caton estreia como ator no papel de Sammie, um talentoso guitarrista e cantor de blues adolescente que também é filho de um pregador. Sammie é primo dos irmãos gêmeos, Smoke e Stack, ambos interpretados de forma visceral por Michael B. Jordan. Os dois se envolveram em conflitos de gangues em Chicago, onde trabalhavam para o folclórico Al Capone, e retornaram à sua cidade natal no Sul de Mississipi, um dos estados mais segregacionistas dos EUA, com uma fortuna para investir em sua própria casa de show, um lugar para a população negra beber, dançar e se divertir sem encarar o preconceito.

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Por mais que o marketing tenha apresentado Pecadores ao mundo como um filme de vampiros, há muito mais no subtexto de Coogler do que uma simples história de horror. A mística por trás das criaturas funciona como alegoria para trazer à tona o pecador dentro de nós, como o laço que conecta as pessoas em um âmbito sobrenatural. Acima de tudo, Pecadores discute a realidade da América negra, uma ideia que, na narrativa proposta pelo diretor, se estende da adoção da criminalidade como uma forma de transcender a opressão até o literal "acordo com o diabo" que Robert Johnson, um dos pais do blues, teria feito em sua jornada para obter riqueza e fama.

Ao se inspirar na história de sua própria família para delinear a jornada de Smoke e Stack, Coogler parece tratar Pecadores como um acerto de contas com o passado. Seus personagens escutam as músicas que seus antepassados escutavam e vivem na mesma realidade sombria em que viviam. Em vários momentos o cineasta parece celebrar essa história como uma ode à liberdade que a população preta buscava - e encontrava - nas casas de festa como a que os gêneros idealizaram. E ele o faz de maneira tão sublime que a mágica desta sequência nos atinge como se, assim como no filme, quebrasse as barreiras do tempo.

Jordan brilha como os gêmeos protagonistas - Smoke é mais maduro e tem uma mentalidade mais voltada para os negócios, sempre de olho em Stack, cujo espírito livre e desleixado é destacado desde o início -, mas o ator consegue identificar a vulnerabilidade em ambos os personagens, abraçando o papel duplo como o melhor de sua carreira. Seus interesses amorosos são cruciais para o desenvolvimento dos irmãos; a Mary de Hailee Steinfeld transmite um calor e uma ânsia de ser notada por Stack quase sensual, enquanto a Annie de Wunmi Mosaku é terna e igualmente sedutora, como a mulher que Smoke tolamente deixou para trás. À primeira vista, eles poderiam ser os vilões, e ainda assim não conseguimos deixar de notar o lado bom deles, ou pelo menos o compreensível instinto de sobrevivência — e então os verdadeiros demônios aparecem, o que torna essas questões do mundo real irrelevantes.

Pecadores poderia ser descrito como dois filmes diferentes dentro de um único produto - e Coogler peca por isso, já que todo o arco dos vampiros parece deslocado, quase uma sombra do ótimo filme ambicioso sobre blues, racismo e misticismo que acompanhamos no início. Mas o diretor sabiamente reconecta os pontos no final, nos lembrando que Pecadores, acima de tudo, nos mostra como a música pode servir como um canal vivo para toda a dor e o prazer que unem um povo ao longo dos séculos. Em momentos como esse, o diretor afirma que os filmes, assim como as canções, ainda são capazes de crescer e nos atingir com o mesmo poder.

Nota do Crítico
Excelente!

Pecadores

Sinners

Ano: 2025

País: EUA

Classificação: 16 anos

Duração: 137 min min

Direção: Ryan Coogler

Elenco: Jack O'Connell , Hailee Steinfeld , Delroy Lindo , Michael B. Jordan

Onde assistir:
Oferecido por

Comentários (1)

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ML
Matheus Larsen
há 10 dias

Baita filme! Essa crítica traduz muito bem a qualidade da obra.

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