Há alguns anos tive a sorte de viajar a Singapura pelo Omelete. Foi a minha primeira viagem à Ásia, lugar que sempre achei muito longe, quase intransponível. Quando cheguei lá, com fuso-horário invertido em relação ao Brasil, duas coisas chamavam atenção: 1. O calor me fazia suar por lugares que nem sabia que existiam no meu corpo; 2. A riqueza do local, uma cidade-estado portuária que concentra um dos maiores PIBs per capita do mundo.
Nesta península onde habitam pouco mais de 5 milhões de pessoas está concentrada a maior população de milionários (em dólar americano) per capita do planeta. E é neste mundo de cartões de crédito sem limites que se passa Podres de Ricos (Crazy Rich Asians, 2018), uma das maiores surpresas da bilheteria deste ano, com faturamento que passa a casa dos 230 milhões de dólares. Nada mal para um filme que custou cerca de 30 milhões para ser feito.
Logo na primeira cena, temos um vislumbre deste mundo tão distante do nosso. Em Londres, duas mulheres asiáticas chegam encharcadas em um hotel caríssimo com duas crianças e são tratados com enorme preconceito pelos funcionários do hotel, que mal ouvem o que estão falando e colocam a trupe toda de volta na chuva. Do orelhão, ela liga para um amigo e a situação é resolvida quando ele diz aos funcionários ajudarem a família asiática, que está ali para comprar o lugar.
Corta para Nova York, alguns anos depois. Nick Young, o menino que molhava o chão do hotel em Londres, já tem seus vinte e poucos anos, estudou na cidade que nunca dorme e está em um restaurante com sua namorada. Enquanto os dois conversam sobre a viagem à terra natal de Young para um casamento de seu melhor amigo, a internet age e em pouco tempo a foto dos dois chega ao outro lado do globo, com perfil completo. Está armado o cenário que vai levar os dois apaixonados a descobrirem mais um sobre o outro, passarem por momentos difíceis e buscarem formas de reatarem, como em qualquer comédia romântica.
O que diferencia Podres de Ricos, além da riqueza que desfila na tela, é que todo o elenco é asiático. Tente se lembrar quando foi a última vez que você viu um filme de Hollywood com elenco inteiro composto por decendentes de asiáticos? Pode parar de forçar a memória, pois você nunca viu isso. Nem mesmo em adaptações de obras asiáticas, como A Vigilante do Amanhã: Ghost in The Shell, Dragon Ball Evolution, O Último Mestre do Ar... E podemos até olhar para o próprio umbigo e lembrar da recente novela global Sol Nascente, que tinha Luís Melo apertando os olhos para tentar se “parecer” japonês (sem sucesso).
O termo em inglês para a escalação de pessoas brancas para viver papéis de outras etnias é whitewashing e Podres de Ricos mostrou que: 1. Há muitos atores asiáticos bons e que sabem falar inglês sem problema algum; 2. Há muita gente interessada em ver filmes independente de quem está na tela; 3. Ao dar protagonismo aos asiáticos, o projeto abriu os olhos para o mercado interno de orientais que obviamente vão ao cinema e querem se identificar com os personagens e suas histórias.
E como não há nada melhor do que criticar com estilo, a trilha faz um “yellowwashing”, usando hits em inglês cantados em chinês, como por exemplo “Material Girl”, da Madonna, e “Yellow", do Coldplay.
Nota do Crítico
Bom
Podres de Ricos
Crazy Rich Asians
Podres de Ricos
Crazy Rich Asians
Ano: 2018
País: EUA
Duração: 2h min
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