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Quem é morto sempre aparece (The Big White, 2005), de Mark Mylod, é o primo pobre, sem talento e invejoso de Fargo (1996), dos irmãos Coen.
Ambas as comédias de humor negro partem da idéia de que morar em um lugar gélido, coberto de neve, com gente estranha e trabalhos desprezíveis, motiva os atos mais hediondos de desespero na tentativa de fugir dali. Não só essa idéia como as premissas dos dois filmes se assemelham ao extremo. Em Fargo, Jerry (William H. Macy) forja o sequestro da mulher para pegar o dinheiro do resgate e refazer a vida em outro lugar. Aqui, Paul Barnell (Robin Williams) forja a morte do irmão para resgatar o dinheiro do seguro e refazer a vida em outro lugar. A diferença é o que os Coen ambientam seu filme nos confins de Dakota do Norte, enquanto Mylod escolhe como locação o Big White do título original, o Alasca, estado norte-americano gigantesco e gelado, próximo do Pólo Norte. E isso só agrava a condição do personagem de Williams, soterrado por contas a pagar e pela insanidade de sua esposa (Holly Hunter). Mas ele não é o único que está a ponto de dar um tiro na própria cabeça. Barnell tem um rival - como Jerry tinha na ótima policial grávida vivida por Frances McDormand - que não se contentará até desvendar a armação. Ele é Ted (Giovanni Ribisi), o agente da seguradora. Ted não vê a hora de ser promovido para fugir do Alasca. Desmascarar Barnell seria seu passaporte de volta à ensolarada civilização. É fácil enxergar entre os dois filmes elementos que justifiquem um processo por plágio. O clímax cheio de tiroteios, mortes banais e neve encharcada de sangue é o ápice das semelhanças. O espírito de Mylod, porém, é oposto ao dos Coen. Fargo, no fundo, está do lado da policial, contra Jerry. O filme não acredita que o contexto legitime um crime - e isso fica evidente no retrato bizarro, porém emocional e até carinhoso, que é feito da cidade. Com Quem é morto acontece o contrário. Mylod está do lado de Barnell. O filme crê que infringir a lei é, sim, aceitável num lugar como aquele. Ademais, nada no Alasca é muito digno de respeito. A câmera passeia por casas, ruas, escritórios, como se tudo aquilo fosse uma terra pós-apocalíptica, povoada de mortos-vivos. Só se salva o amor que o protagonista nutre pela mulher. E Ted pena todas as conseqüências por duvidar das boas intenções de Barnell. Quem é morto faz a sua opção ideológica e não pode ser condenado por isso. O caso é que ao negar a ligação das pessoas com o espaço, ao inserir uma galeria de personagens como se fossem pára-quedistas no Alasca, Mylod se isenta de criar tipos verossímeis, pessoas que tenham lastro na realidade. Esse descompromisso se revela frouxidão: quando o roteiro exige coerência narrativa, se amontoam caricaturas e situações-clichê. Quem é morto não seria tão ruim se a todo momento não nos fizesse lembrar de Fargo, aliás. Na comparação, de todo modo, vêm à tona as qualidades do filme dos Coen: os sotaques, os costumes, os folclores regionais, tudo aquilo que equilibra a fórmula da bizarrice, a história que se conta, com elementos da realidade, o mundo em que essa trama se passa - que afinal é o nosso mundo, pois de perto ninguém é normal... em lugar algum. Não conseguimos ver ninguém assim, de perto, no filme de Mylod. O Alasca está por toda parte, mas falta o Alasca real em Quem é morto, por assim dizer.
Ano: 2005
País: EUA
Classificação: 14 anos
Duração: 0 min
Direção: Mark Mylod
Roteiro: Collin Friesen
Elenco: Robin Williams, Holly Hunter, Tim Blake Nelson, W. Earl Brown, Woody Harrelson, Alison Lohman, Giovanni Ribisi, Marina Stephenson Kerr, Billy Merasty, Ralph Alderman, Andrea Shawcross, Craig March, Frank Adamson, Ryan Miranda, Ty Wood, Frank C. Turner, Joanne Rodriguez, Eric Epstein, Brenda McDonald, Deena Fontaine
