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Reality: A Grande Ilusão | Crítica

Matteo Garrone reflete sobre realidades e ilusões na cultura italiana

25.04.2013, às 19H07.
Atualizada em 03.11.2016, ÀS 18H00

Muito antes da gênese do Grande Irmão, no 1984 de George Orwell, existia a culpa católica. Em Reality: A Grande Ilusão, Matteo Garrone (Gomorra) parte desse elemento intrínseco à cultura italiana - o medo de um Deus onipresente, onisciente e acusador - e o associa ao fenômeno de reality shows como o Big Brother para uma bem-humorada reflexão sobre as mudanças de paradigma no seu país.

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O estudo parte da vida de um simpático peixeiro de Nápoles (Aniello Arena), conhecido por suas habilidades teatrais, que tem sua vida transformada pela possibilidade de entrar no Grande Fratello. A partir do teste para o programa, a presença de uma entidade observadora se torna constante na vida de Luciano, afetando sua vida familiar e seus negócios (inclusive os ilegais), culminando em um estado paranoico que molda sua existência pelos parâmetros do reality show.

A relação entre o observador divino e o midiático percorrem o filme do início ao fim. Da cena de abertura, onde a câmera começa nos céus e vai se aproximando das atividades mundanas, à sequência final, onde a câmera se afasta gradualmente. A ideia é reforçada por Michele (Nando Paone), o ajudante de Luciano, católico fervoroso, que deixa claro que só existe um observador/julgador a quem o peixeiro deve prestar contas. A câmera inquieta (e incômoda) também se concentra na família, outro elemento inerente à cultura italiana, e sua capacidade de incentivar ou condenar as atitudes do protagonista.

Esteticamente, Garrone tenta misturar o grotesco de Fellini, observando com gosto a obesidade, as deficiências e as cores extravagantes de seus personagens, à tradição do neorealismo italiano, optando por locações reais (principalmente o cortiço onde vivem Luciano e a família) e um elenco formado, em grande parte, por atores não profissionais. Arena, que sensivelmente encarna o protagonista, é o caso mais notório - um ex-mafioso, condenado por três homicídios, que se descobriu ator na prisão e teve sua atuação elogiada no Festival de Cannes (onde o filme levou o prêmio do júri). A fotografia crua de Marco Onorato consegue unir os dois universos cinematográficos italianos e casa perfeitamente com a temática da realidade versus ilusão do filme.

Seja pela Igreja Católica, seja pelo Grande Fratello, a culpa está na essência dos italianos e Reality: A Grande Ilusão consegue abordar a questão com propriedade e bom humor. Seus méritos temáticos só se perdem entre os maneirismos de autor de Garrone, que parece sentir a necessidade de se provar para o público, como se estivesse sendo também observado. Seria coerente, mas o resultado é cansativo e sem brilho.

Nota do Crítico
Bom
Reality: A Grande Ilusão
Reality
Reality: A Grande Ilusão
Reality

Ano: 2012

País: Itália, França

Classificação: 10 anos

Duração: 110 min

Onde assistir:
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