O longa de Jorge Durán (Proibido Proibir), Romance Policial, marca a volta do diretor, que sempre trabalhou no Brasil, ao seu país de origem: o Chile. Antônio (Daniel de Oliveira) é um aspirante a escritor que decide se aventurar em uma viagem ao Chile e dedicar-se a seu livro. Seguindo viagem de carona, ele para em uma cidadezinha que, anos atrás, ainda era um vilarejo perdido no meio do mapa. Andando pelas colinas, Antônio vê um assassinato e, ao se aproximar, descobre que o morto era quem lhe deu carona no dia anterior. Assustado, ele não denuncia o que viu e, assim, vira o primeiro na lista de suspeitos.
Sem poder sair da cidade até que o crime se esclareça, Antônio acaba criando laços com Florencia (Daniela Ramirez) e seguindo o rastro do mistério, enquanto, é claro, finalmente consegue escrever seu Romance Policial. O diretor e roteirista Jorge Durán transporta toda a sensação de ler um livro para às telas. A narração que esclarece as reflexões, os diálogos curtos e de efeito, as atuações marcadas, os deslumbres e idealizações das cenas, tudo é típico da literatura, afinal a trama se passa enquanto Antônio, no fim da sua jornada, lê para o público suas experiências recém escritas em seu livro.
Ramirez desenvolve com consistência o papel teatral de mulher encantadora, estrangeira e misteriosa. Inclusive, o elenco de apoio sustenta o filme quase como em uma peça, sem precisar de muitos reforços ou de figurantes. Os enlaces de sua personagem com o escritor se desenvolve com uma química interessante e a relação entre tapas e beijos, inclusive, combina com a paisagem árida, hostil, e ao mesmo tempo linda do deserto que cerca a cidade. A trilha sonora ajuda a envolver o espectador nas páginas do livro de Antônio que, por si só, instiga uma curiosidade mas não consegue manter o ritmo até o final da trama.
Acontece que nos mais intrigantes romances policiais, os mistérios são desvendados por um detetive sagaz, que, atento às pistas sutis, se dedica a interrogatórios minuciosos, mergulhando tão profundamente no passado dos envolvidos que encontra a peça chave do quebra-cabeça sem que o culpado perceba que ele mesmo a forneceu. Mas o longa não segue a escola Agatha Christie de Mistérios. Como é possível ver na escrivaninha de Antônio, a trama tem as viagens de Jack Kerouac como referência, e assim acaba vagando por um deserto entre o road movie e o romance policial, sem levar o público pela estrada prometida.
Talvez o equívoco seja que, ao invés de seguir a pé pelo caminho das pedras, o diretor coloca logo uma caminhonete que passe por cima dos obstáculos, assim como nas cenas, levantando uma nuvem de areia que impede o espectador de acompanhar o percurso, mas que mostra o desfecho por trás da fumaça, sem exigir brilhantismo algum de seu detetive herói.
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