São mais de 350 Emmys na conta do Saturday Night Live desde sua estreia em 1975. Por lá, já passaram mais de 160 comediantes, em 49 temporadas e quase 1000 episódios. Jason Reitman, diretor de filmes como Obrigado por Fumar, Juno e Ghostbusters: Mais Além, decidiu contar a história dos 90 minutos que precederam o primeiro episódio do SNL em Saturday Night, filme que conquistou o público nas exibições do Festival de Toronto.
O longa é contado do ponto de vista de Lorne Michaels (Gabriel LaBelle), criador do programa, e sua jornada caótica ao longo dessa uma hora e meia antes do lançamento de um show em um formato que nunca havia sido feito: diversas esquetes ao vivo e apresentações musicais, com plateia e exibição em um horário onde parte das pessoas não está em casa - é sábado à noite! - e a outra não estava acostumada a ver um programa de TV de comédia.
Uma das maiores dificuldades desse tipo de história, que necessitaria de um conhecimento prévio sobre o SNL ou seus participantes, é fazer com que o público geral que não mora nos Estados Unidos se engaje. Filmes como Babilônia, de Damien Chazelle, ou Apresentando os Ricardos, de Aaron Sorkin, são alguns recentes que sofreram com isso. A solução da trama contada por Reitman é utilizar a “wikipedia” sobre o programa como informações que vão circulando esse caos que toma conta dos corredores da NBC. Nomes e situações são falados no meio de diálogos onde essas informações não são as principais, mas complementam o todo, como no caso do relacionamento de Michaels e Rosie Shuster (Rachel Sennott), por exemplo, ou as situações envolvendo Chevy Chase (o ótimo Cory Michael Smith) e Garrett Morris (Lamorne Morris).
O grande interesse de Reitman, e também o maior acerto do filme, é focar no resultado final desse caos. É mostrar a jornada para fazer esse produto funcionar. Dessa forma, o diretor passeia com a câmera pelos corredores, estúdio e salas de bastidores com um domínio impressionante, misturando cortes e movimentos rápidos de câmera, com planos-sequências e uma ótima coreografia dos atores. Aliado a isso, Jon Batiste, que também está no filme como Billy Preston, criou uma trilha sonora que mistura jazz com samba e funciona como combustível importantíssimo para a ação da história. Em alguns momentos, com essa criação de tensão, caos e a “tragédia” se aproximando, é impossível não lembrar de Whiplash: Em Busca da Perfeição.
Saturday Night pode até funcionar como um Onde Está Wally? com sua caça por referências e personalidades conhecidas, como Andy Kaufman, Jim Henson, George Carlin, entre muitos outros - até porque não há como negar que o trabalho de caracterização dos atores é impressionante. Mas a alma do filme está na história clássica de superação de obstáculos que, por mais que soe ingênua às vezes (principalmente quando temos que torcer e vibrar por um milionário, dono de canal de TV), ainda convence com o talento dos atores, e principalmente de LaBelle, que nunca nos deixa desacreditar nessa história que muitos já sabem o final.
Engraçado e caótico, Saturday Night reflete o temperamento de alguns dos melhores comediantes que já passaram pelo SNL. E você nem precisa ser especialista no programa - ou ter passado um período nos EUA - para entender isso ao final.
País: EUA
Duração: 1h49 min
Direção: Jason Reitman
Elenco: Dylan O'Brien, Rachel Sennott, Nicholas Braun, Finn Wolfhard, Gabriel LaBelle, Matthew Rhys, J.K. Simmons