Shailene Woodley em Sede Assassina (Reprodução)

Créditos da imagem: Shailene Woodley em Sede Assassina (Reprodução)

Filmes

Crítica

Quando paramos de amar filmes como Sede Assassina?

Thriller de Damián Szifron dá tiro certeiro no coração do “sonho americano”

Omelete
4 min de leitura
27.09.2024, às 09H56.

Não surpreende que a crítica americana tenha demonstrado pouco entusiasmo por Sede Assassina. Afinal, Hollywood está acostumada a trazer diretores estrangeiros para os Estados Unidos e vê-los criar odes cinemáticas à iconografia do país - vide o alemão Wim Wenders e seu Paris, Texas; o britânico Ridley Scott e seu Thelma & LouiseWong Kar Wai, que saiu de Hong Kong para fazer o elegíaco Um Beijo Roubado. Largas planícies alaranjadas, homens de chapéu de caubói e mulheres com o rosto marcado pela poeira, carrões que refletem o brilho do neon em seus capôs encerados, lanchonetes e bares à beira da estrada povoados por tipos taciturnos… enfim, a mitologia americana.

O argentino Damián Szifron, alçado ao palco internacional por conta do sucesso de Relatos Selvagens, não está interessado nessa mitologia americana. Convidado a Hollywood para fazer Sede Assassina, ele escolhe observar outras locações e outros movimentos humanos que tipificam os Estados Unidos: as frias ruas das metrópoles, ladeadas por fachadas luminosas exibindo marcas de luxo; as superfícies ascéticas dos shoppings, quebradas pelos restos de comida deixados em cima das mesas; festas de arromba em coberturas de prédios de luxo; reuniões de família dentro de apartamentos grandes iluminados por luz amarela; casas de subúrbio marcadas pela tela gigante da TV, sempre ligada, ao fundo.

De fato, a primeira vez que encontramos a protagonista de Sede Assassina, a policial Eleanor (Shailene Woodley), ela está respondendo a uma chamada no tipo de restaurante urbano barato que os EUA mitologizaram como o local aconchegante onde pessoas e histórias de um bairro se encontram. Ela está lá, no entanto, porque o dono do lugar parece decidido a expulsar uma moradora de rua que está “demorando demais” para terminar sua refeição - pela qual ela pagou, diga-se de passagem. É a primeira quebra de expectativas entre as muitas que o filme traz em seus minutos iniciais.

Enquanto tenta resolver a situação, Eleanor é convocada para outro canto da cidade, onde um atirador misterioso abateu nada menos do que 29 pessoas nos prédios ao seu redor, perturbando (para dizer o mínimo) festas de Ano Novo de ciadadãos de todas as classes sociais, etnias e idades… enfim, vítimas que não parecem ter conexão nenhuma entre si. Rápida em seu raciocínio quando se aproxima da cena do crime (ela é a única a pensar em filmar os rostos dos moradores que fugiam do prédio onde estava o atirador), a protagonista é recrutada pelo agente do FBI Lammark (Ben Mendelsohn) para uma posição importante na investigação.

00:00/01:00
Truvid
auto skip

Sede Assassina se aproxima sem nenhum pudor da feiúra aleatória da epidemia de ataques armados nos EUA, mas sua maior audácia é localizar e centralizar as raízes culturais da podridão americana: o consumismo e o individualismo como dois lados da mesma moeda; a crueldade interpessoal como sintoma da mentalidade que preza o sucesso a qualquer custo; a desigualdade institucional e econômica como combustível da supervalorização da violência. A câmera de Szifron e do diretor de fotografia Javier Juliá é implacável, passeando placidamente por uma cidade à beira do colapso, que esconde suas rachaduras por trás de vitrines luminosas e simula choque quando uma delas, por puro desespero, resolve retomar o protagonismo.

Como eu disse: não surpreende que a crítica local tenha se incomodado tanto com Sede Assassina que se viu (conscientemente ou não) impulsionada a minimizar suas virtudes - mas isso não tem nada a ver com a gente, aqui no Brasil. Por aqui, e em outros mercados internacionais, o longa de Szifron tem todo o potencial de ser abraçado como um bem-vindo retorno a uma tradição americana que, essa sim, é digna de respeito: a de thrillers policiais com propósito narrativo, apuro técnico e originalidade de personagem. Quando foi que paramos de amar filmes assim? Em algum lugar entre Seven e Os Infiltrados

A morte do “filme médio”, tanto falada nessa era em que apenas grandes franquias se garantem na bilheteria, talvez tenha um pouco ou muito a ver com isso. A expectativa do público, temperada por anos de épicos de US$ 200 milhões que terminam com um raio apocalíptico apontando para o céu, parece apontar que é preciso mais do que atuações cativantes (Mendelsohn está especialmente brilhante aqui, articulando a decepção corporativa e as armadilhas da ambição como poucos poderiam, enquanto Ralph Ineson faz um vilão excelente como de costume), um roteiro cheio de garra e uma direção expressiva para fazer um filme “que valha a pena”.

Eu discordo, e veementemente. Os choques, prazeres e sensações de Sede Assassina são mais do que o bastante para justificar uma ida ao cinema. Sua excelência não é corriqueira, e não merece ser enterrada por debaixo do filme de herói do momento.

Nota do Crítico
Excelente!

Sede Assassina

To Catch a Killer

Ano: 2023

País: EUA

Duração: 119 min

Direção: Damián Szifron

Roteiro: Jonathan Wakeham, Damián Szifron

Elenco: Ralph Ineson , Jovan Adepo , Ben Mendelsohn , Shailene Woodley

Onde assistir:
Oferecido por

Comentários (0)

Os comentários são moderados e caso viole nossos Termos e Condições de uso, o comentário será excluído. A persistência na violação acarretará em um banimento da sua conta.

Login

Criar conta

O campo Nome Completo é obrigatório

O campo CPF é obrigatório

O campo E-mail é obrigatório

As senhas devem ser iguais

As senhas devem ser iguais

As senhas devem ser iguais

O campo Senha é obrigatório

  • Possuir no mínimo de 8 caracteres

  • Possuir ao menos uma letra maiúscula

  • Possuir ao menos uma letra minúscula

  • Possuir ao menos um número

  • Possuir ao menos um caractere especial (ex: @, #, $)

As senhas devem ser iguais

Meus dados

O campo Nome Completo é obrigatório

O campo CPF é obrigatório

O campo E-mail é obrigatório

As senhas devem ser iguais

As senhas devem ser iguais

As senhas devem ser iguais

Redefinir senha

Crie uma nova senha

O campo Senha é obrigatório

  • Possuir no mínimo de 8 caracteres

  • Possuir ao menos uma letra maiúscula

  • Possuir ao menos uma letra minúscula

  • Possuir ao menos um número

  • Possuir ao menos um caractere especial (ex: @, #, $)

As senhas devem ser iguais

Esqueci minha senha

Digite o e-mail associado à sua conta no Omelete e enviaremos um link para redefinir sua senha.

As senhas devem ser iguais

Confirme seu e-mail

Insira o código enviado para o e-mail cadastrado para verificar seu e-mail.

a

Ao continuar navegando, declaro que estou ciente e concordo com a nossa Política de Privacidade bem como manifesto o consentimento quanto ao fornecimento e tratamento dos dados e cookies para as finalidades ali constantes.