"É considerado OK em Hollywood ter cenas de sexo nos filmes, contanto que as pessoas envolvidas não pareçam estar se divertindo. Se elas estão, é pornografia. Se não estão, é arte" - John Waters.
Shame
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A frase do cineasta underground é perfeita para Shame, nova colaboração entre o diretor inglês Steve McQueen e o ator Michael Fassbender (o Magneto de X-Men: Primeira Classe), que trabalharam juntos em Hunger. No filme, o personagem principal, Brandon Sullivan, sofre de erotomania, um distúrbio psicológico que gera compulsão pelo ato sexual. Ele definitivamente não parece se divertir com o problema, que ocupa papel central em sua vida. Brandon busca mulheres no metrô, tem um computador cheio de pornografia no trabalho, masturba-se em banheiros públicos, no chuveiro, contrata prostitutas...
Essa existência, por mais escravizante que seja, porém, é controlada. Brandon tem um vício, mas em momento algum sofre socialmente por ele. Seu chefe aproveita-se de suas habilidades de "pegador" para levá-lo a casas noturnas e faz vista grossa quando técnicos encontram um estoque de pornografia em seu HD. Em casa, o protagonista também não parece sofrer. É solitário, mas resignado.
A reviravolta chega na forma de Sissy (Carey Mulligan de Sedução), sua irmã, que irrompe sem aviso para passar uma temporada no apartamento de Brandon. A presença da jovem desregrada causa um distúrbio no cotidiano viciado do protagonista - que precisa controlar seus impulsos frequentes.
A introdução da personagem causa um rompimento não apenas no que estava estabelecido narrativamente, mas também na estética do filme. Com uma câmera elegante, minimalista, e sets assépticos (que contrastam com o comportamento do protagonista), McQueen reflete a fachada pública de Brandon. Sissy, por sua vez, traz confusão, deixa lixo pela casa e tem um comportamento completamente intrusivo. Cada um, à sua maneira, lida com traumas que o filme sequer deixa subentendidos - só nos resta imaginar o que transformou esses dois - com as excepcionais atuações de Fassbender e Muligan - em pessoas tão danificadas.
McQueen, porém, exagera em sua opção de sequências longas. Em determinado momento há um número de jazz que dura 4 minutos inteiros. Em outro, um encontro em um restaurante mantém a câmera imóvel e sem cortes durante 6 minutos. Entende-se que opção vá ao encontro da estética criada para a existência de Brandon, mas em um filme em que pouco - muito pouco - efetivamente acontece, acompanhar uma sessão de cooper durante 2 minutos é um tanto desinteressante.
Ainda que seja curioso por fazer refletir sobre a privacidade desconhecida de colegas de trabalho, como o texto de Abi Morgan e McQueen opta por manter inexplorados os problemas passados dos dois personagens principais, quando eles finalmente explodem na tela há uma sensação de estranheza. O que houve, afinal? Em sua exploração da compulsão sexual e a natureza das necessidades, Shame mostra os efeitos, mas nunca as causas. Termina vazio, inexplicado. Vemos as consequências, mas ficamos sem entender o passado e absolutamente incertos do futuro. A única sensação real é a de frustração pelo que o filme poderia ter alcançado.
Shame | Trailer para maiores
Shame | Cinemas e horários
Ano: 2011
País: Inglaterra
Classificação: 18 anos
Duração: 101 min
Direção: Steve McQueen
Roteiro: Steve McQueen
Elenco: Carey Mulligan, Michael Fassbender, James Badge Dale, Hannah Ware, Nicole Beharie, Alex Manette, Elizabeth Masucci, Marta Milans