Sob as Águas do Sena diverte quando abraça o caos e o absurdo

Créditos da imagem: Netflix/Divulgação

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Crítica

Sob as Águas do Sena diverte quando abraça o caos e o absurdo

Filme de tubarão em Paris nada de braçada quando assume a falta de noção, mas se perde quando tenta incluir discursos dentro do absurdo

Omelete
3 min de leitura
10.06.2024, às 10H13.

Não tem a menor condição de se levar a sério um filme que conta a história de um tubarão aterrorizando Paris após invadir o rio Sena. Não bastasse a presença da fera, Sob as Águas do Sena, nova produção francesa da Netflix, coloca uma prova de triatlo em plena capital para aumentar a tensão do enredo. Uma pena, porém, que no meio disso exista uma infinidade de subtemas que insistem em tomar espaço da diversão proposta, como sustentabilidade e crises familiares.

Não é como se não pudesse discutir isso no roteiro, mas a forma como o filme o faz torna qualquer debate uma espécie de interrupção na criação do suspense que realmente faria a história envolver o espectador. A trama é conduzida por Sophie (a indicada ao Oscar Bérénice Brejo, de O Artista), uma pesquisadora que perde sua equipe de exploração num ataque fulminante de um tubarão no meio do oceano. Afastada dos mares e dedicada a lecionar na universidade, a professora é cooptada por um grupo de ativistas que busca a atenção do governo para salvar um tubarão que está “preso” no Rio Sena.

Como esperado, Sophie descobre que o tubarão é o mesmo que matou seus companheiros e tenta dissuadir não só o governo de realizar uma prova de triatlo no local, como os ativistas de continuarem a salvá-lo. O que poderia ser uma simples corrida contra um predador em plena Paris se torna, antes de ficar realmente divertido, uma tentativa fracassada de envolver o espectador no drama da professora e no clamor ambientalista do grupo protestante. A proposta é interessante, há de fato uma série de argumentos que cruzam bem com os problemas climáticos que o planeta passa atualmente, mas o roteiro do diretor Xavier Guns (acompanhado por Maud Heywang e Yannick Dahan) se leva a sério a ponto de esquecer qualquer vestígio do suspense, e por ao menos uma hora se transforma em um enfadonho drama ambiental.

Ao chegar no terceiro ato, porém, Gans abraça o caos e cria uma espécie de filme-catástrofe com um tubarão, pincelando o texto de forma astuta com políticos negligentes e policiais subjugados pelo poder público - assim como Tubarão, de Steven Spielberg, um dia fez de forma impecável. O terror de Sob as Águas é bem trabalhado, especialmente quando as câmeras submersas mostram com definição exemplar todo o ambiente e movimentação do elenco - seja ele humano ou animal. O que faz o longa ficar acima da média é a sequência de desastres, assassinatos e perseguições que aparecem nos últimos momentos - e se valesse alguma comparação, assim como o clássico de Spielberg, Gans lembra Roland Emmerich em suas mais inspiradas catástrofes. Se não consegue manter o nível durante toda a duração, ao menos a produção diverte de forma consciente quando esquece as pretensões mais profundas e se entrega à superficialidade empolgante de sua absurda proposta.

Nota do Crítico
Bom
Sob as Águas do Sena
Under Paris
Sob as Águas do Sena
Under Paris

Ano: 2024

País: França

Duração: 1h41 min

Onde assistir:
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