Em Sorria, a psiquiatra Rose Cotter se vê perseguida por uma presença maligna após testemunhar o suicídio de uma paciente em estado aparentemente psicótico. Antes do ato, a paciente insistia que não sofria de alucinações, mas era assombrada por algo desconhecido desde que assistiu a um outro suicídio, na semana anterior. O padrão é claro e nada discreto: seguindo os passos de uma maldição rítmica e contagiosa, à la O Chamado ou Corrente de Mal, o filme de estreia de Parker Finn é simples em sua premissa e seu funcionamento. Por mais que siga fórmulas que funcionam, porém, carece de algum tempero para chamar de seu.
Sosie Bacon, atriz conhecida por seu recente trabalho em Mare of Easttown, ganha o seu primeiro grande papel no cinema dando vida a Rose, e sua atuação é uma das cartas que impedem que Sorria colapse em si mesmo. Ao lado do diretor estreante, Bacon é capaz de traduzir a sensação de assombração perfeitamente bem, também porque Finn se mostra hábil em criar uma atmosfera pouco confiável, repleta de sequências esquisitas e enigmáticas, que procuram transmitir a sensação de pesadelo. Sorria tenta a todo momento manter um clima de estado de pânico, e talvez isso funcionasse bem se o filme não tivesse uma duração prolongada e uma história que já ouvimos tantas vezes antes.
Não há nada errado em seguir fórmulas, principalmente em um gênero tão recheado de boas tradições. Mas a falta de criatividade de Sorria salta aos olhos, inclusive desde sua divulgação, que remete ao recente terror adolescente Verdade ou Desafio, marcado pela perturbação de um sorriso maléfico. Enquanto Rose degringola em uma jornada psicótica isolada, acompanhando acontecimentos e figuras horríveis que ninguém mais consegue ver, Sorria traça um encadeamento já bem conhecido de descrença, acometimento e investigação. Na última chance que Finn tem para inovar, o desfecho de Sorria entrega sua maior frustração, encerrando um percurso cíclico de modo ingrato.
O que salva o projeto é a vontade de Finn de usar todos os recursos que tem em mãos para criar algo único. Sua direção é uma de inquietação, e seus movimentos inusitados de câmera - seja em planos de cabeça para baixo ou na aproximação excêntrica aos seus personagens - são bem-sucedidos em criar o visual de um pesadelo. É uma empreitada traiçoeira por causa do roteiro (também de Finn), mas existe algo satisfatório em ver um diretor novo buscando a todo momento deixar a sua marca. É um começo morno de carreira, mas que pode ter estabelecido um nome promissor no gênero.
Ano: 2022
Direção: Parker Finn
Roteiro: Parker Finn
Elenco: Jessie T. Usher, Sosie Bacon, Kyle Gallner