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Sr. Holmes | Crítica

Filme esboça uma revisão moderna de Sherlock Holmes mas se contenta com a reverência

09.10.2015, às 08H38.
Atualizada em 29.06.2018, ÀS 02H37

Existe uma ótima história escondida dentro de Sr. Holmes (Mr. Holmes, 2015), definida pelo seu período histórico. Nela, 30 anos depois de ter se aposentado e levado uma vida inteira dedicada à lógica e acreditando que "ficção é inútil", Sherlock Holmes se vê diante da Segunda Guerra Mundial e de horrores que superam as piores maldades do seu tempo - e então percebe como a ficção pode ser uma forma de os homens preservarem a esperança.

Essa história percorre de forma tímida mas incisiva o longa que reúne o diretor Bill Condon e o ator Ian McKellen, 17 anos depois de Deuses e Monstros, longa que mantém com Sr. Holmes algumas similaridades. A principal delas é justamente a narrativa de leito de morte que serve para expurgar traumas do passado. Seja em menções discretas (o marido da governanta morto em combate, o menino nas noites de blitz dos bombardeios nazistas) ou em momentos de relativo impacto (a visita a Hiroshima), em Sr. Holmes esses traumas invariavelmente levam a pesadelos da guerra.

Não deixa de ser um momento importante no filme a cena em que Holmes diz que "já faz 30 anos desde a Grande Guerra". Se, na sua memória, o ano de 1947 permanece marcado pela Primeira Guerra Mundial, ao invés de ser definido pelas cicatrizes recentes do Holocausto e das bombas atômicas, então Condon já encontra aí um fio para trabalhar esse arco de revisão da figura de Sherlock Holmes no século 20. Que importância teria o maior detetive de todos os tempos numa era de horrores inexplicáveis?

Acontece que Sr. Holmes não realiza de forma plena essa proposta de ser um filme de revisão. Ela termina diluída - assim como o cinismo característico das releituras mais soturnas do personagem - num projeto de boas intenções e sacadinhas metalinguísticas, com McKellen exercitando seu charme inegável numa trama de mentor e pupilo (quando o detetive, aos 93 anos, conta suas histórias para o filho pequeno da governanta) e, paralelamente, na resolução de um caso mal resolvido que levou à aposentadoria de Sherlock.

Enquanto o caso é mais pensado no filme para que haja um mistério e o detetive possa demonstrar seus dons fenomenais de dedução (e sem os quais, afinal, este não seria um filme de Sherlock Holmes), a relação de mentor e pupilo é que toma o centro da ação e termina definindo o tom do filme, com o primeiro bronco mas bonachão (não demoram duas cenas para Sherlock baixar a guarda para o menino) e o segundo curioso mas insolente. O que temos aqui, no fim, apesar algumas cores mais escuras, é um longa no geral bastante solar, um Sherlock Holmes que sua avó assistiria.

Nota do Crítico
Bom

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