Tempo de Guerra

Créditos da imagem: A24

Filmes

Crítica

Tempo de Guerra é vazio como discurso, mas encontra identidade como filme

Novo filme de Alex Garland é baseado nas memórias de um veterano do Iraque

Omelete
4 min de leitura
17.04.2025, às 07H00.

Adicione Alex Garland à lista de diretores que tentam provar que François Truffaut estava errado quando disse que nenhum longa-metragem de guerra consegue, de fato, ser anti-guerra. O argumento do titã da Nouvelle Vague era que a qualidade cinematográfica da arte deixa qualquer ato, por mais violento que seja, grandioso e empolgante. A telona é um filtro inescapável. Dirigido por Garland ao lado de Ray Mendoza, veterano da guerra do Iraque, Tempo de Guerra parece existir para combater essa ideia, por vezes apresentando a vida do soldado como tediosa, quando não desesperadora. Ao menos, é isso que eu acho que o novo título da A24 tem em mente.

Expresso incerteza porque, como em Guerra Civil do ano passado, Garland toma uma postura que pode ser vista como isentão (se você não gostar do filme) ou de alguém cauteloso (caso você curta). Tempo de Guerra tem material o suficiente para dar voz a quem o interpretará como crítica ao maquinário militar estadunidense, mas também para quem verá essa encenação de memórias como uma peça de recrutamento. O roteiro do filme é baseado no que Mendoza e seu antigo pelotão de SEALs viveram em Ramadi, no ano de 2006, quando foram fortemente atacados depois que sua posição na casa de duas famílias locais – que foram essencialmente feitas de reféns durante todo o ocorrido – foi descoberta pelos oponentes iraquianos. Mas, apesar de ser uma peça tão pessoal, é difícil entender o que Tempo de Guerra quer falar, se é que há algo ali.

00:00/09:08
Truvid
auto skip

Nas notas enviadas à imprensa, Mendoza diz que Tempo de Guerra foi feito como um “lembrete para quem toma a decisão de ir para a guerra de que há pessoas que atenderão a esse chamado para que outros não precisem – e geralmente são os jovens dos Estados Unidos.” É uma declaração que, novamente, apela para os dois lados. Seria esse filme uma celebração, ou um alerta para os jovens? Críticas positivas dirão que os dois são verdades, outras vão detonar a aparente falta de posicionamento do projeto.

Tempo de Guerra
A24

A verdade é que Mendoza e Garland parecem, sim, interessados em homenagear estes homens, especificamente. Quase todo o diálogo de Tempo de Guerra é composto por comunicação via rádio, seja nas ordens estratégicas ou gritos de agonia, e os acontecimentos em questão são apresentados praticamente em tempo real ao longo dos 93 minutos da duração, mas onde há uma escassez de desenvolvimento textual, transborda o carinho de uma câmera paciente e, especialmente, o talento de um elenco recheado de nomes e rostos reconhecíveis da atual juventude hollywoodiana.

D’Pharoh Woon-A-Tai, da celebradíssima Reservation Dogs, vive Mendoza. Ao seu lado estão Cosmo Jarvis (Xógum), Will Poulter (Guardiões da Galáxia Vol. 3), Joseph Quinn (Quarteto Fantástico: Primeiros Passos), Noah Centineo (Recruta), Kit Connor (Heartstopper), Michael Gandolfini (Demolidor: Renascido), Charles Melton (Segredos de um Escândalo) e outros. Suas feições parecem bizarramente jovens para o que estão vivendo, e isso, claro, é o ponto. Aqui estão figuras que outro dia vimos interpretando adolescentes, matando e morrendo em nome de… que? Se, por um lado, o vazio político de Tempo de Guerra afrouxa seu poder argumentativo, ele também desarma qualquer catarse. O triunfo não existe, ao menos não num nível patriótico. Se há algum valor no sacrifício, ele está na relação com o próximo. A trupe, talvez numa tentativa de ter o Resgate do Soldado Ryan de sua geração, parece genuinamente entrosada, e é de longe o maior trunfo da produção, que parece adotar quase uma linguagem anti-cinematográfica na hora de colocar em tela o dia ruim desses soldados.

D'Pharaoh Woon-a-Tai como Ray Mendoza em Tempo de Guerra

A24

Tanto é que os primeiros 30 minutos deste dia em Tempo de Guerra são genuinamente entediantes. Esta é a ideia. O filme pacientemente mostra a rotina dos militares no período de patrulha, quando nada grandioso acontece e há apenas a monotonia de receber atualizações, coordenadas e diretrizes. Garland e Mendoza parecem querer comunicar para nós o estado emocional dos personagens a ponto de sacrificar o magnetismo do próprio filme, uma escolha tão ousada quanto perigosa. E essa abordagem realista pode ser intencional, mas Tempo de Guerra é um filme, não um documento. Por outro lado, a aposta passa a dar alguns lucros quando o tiroteio começa, e somos postos de maneira íntima dentro da ação. Os prantos e berros não soam em nada exagerados. É, de fato, o inferno na terra.

Mais importante, contudo, é outro efeito maior que isso tudo causa: Tempo de Guerra passa a ganhar um caráter curioso, talvez até interessante, como arte. Essa camada experimental e irregular é importantíssima para que o filme evite as armadilhas inerentes à proposta de contar uma história da Guerra do Iraque em pleno 2025. Há gestos que reconhecem esses perigos, como as repetidas tomadas dos americanos aterrorizando os donos da casa onde eles se refugiam, mas a verdade é que Garland e Mendoza não querem (e talvez nem devam) ir além do impacto da experiência superficial, estética e individual. É uma troca que pode limitar o potencial dramático da obra, mas que confere à mesma algo valiosíssimo: uma identidade.

Tempo de Guerra está em cartaz nos cinemas.

Nota do Crítico
Bom

Tempo de Guerra

Warfare

Ano: 2025

País: EUA

Classificação: 16 anos

Duração: 93 min

Direção: Ray Mendoza, Alex Garland

Elenco: Charles Melton , Joseph Quinn , Michael Gandolfini , Will Poulter , Cosmo Jarvis , D’Pharoh Woon-A-Tai , Kit Connor , Noah Centineo

Onde assistir:
Oferecido por

Comentários (0)

Os comentários são moderados e caso viole nossos Termos e Condições de uso, o comentário será excluído. A persistência na violação acarretará em um banimento da sua conta.

Login

Criar conta

O campo Nome Completo é obrigatório

O campo CPF é obrigatório

O campo E-mail é obrigatório

As senhas devem ser iguais

As senhas devem ser iguais

As senhas devem ser iguais

O campo Senha é obrigatório

  • Possuir no mínimo de 8 caracteres

  • Possuir ao menos uma letra maiúscula

  • Possuir ao menos uma letra minúscula

  • Possuir ao menos um número

  • Possuir ao menos um caractere especial (ex: @, #, $)

As senhas devem ser iguais

Meus dados

O campo Nome Completo é obrigatório

O campo CPF é obrigatório

O campo E-mail é obrigatório

As senhas devem ser iguais

As senhas devem ser iguais

As senhas devem ser iguais

Redefinir senha

Crie uma nova senha

O campo Senha é obrigatório

  • Possuir no mínimo de 8 caracteres

  • Possuir ao menos uma letra maiúscula

  • Possuir ao menos uma letra minúscula

  • Possuir ao menos um número

  • Possuir ao menos um caractere especial (ex: @, #, $)

As senhas devem ser iguais

Esqueci minha senha

Digite o e-mail associado à sua conta no Omelete e enviaremos um link para redefinir sua senha.

As senhas devem ser iguais

Confirme seu e-mail

Insira o código enviado para o e-mail cadastrado para verificar seu e-mail.

a

Ao continuar navegando, declaro que estou ciente e concordo com a nossa Política de Privacidade bem como manifesto o consentimento quanto ao fornecimento e tratamento dos dados e cookies para as finalidades ali constantes.