Surpreendente, Toc Toc Toc: Ecos do Além é mais bizarro do que parece

Filmes

Crítica

Surpreendente, Toc Toc Toc: Ecos do Além é mais bizarro do que parece

Subvertendo as expectativas para uma história de amadurecimento, terror com Antony Starr é uma grata surpresa do ano

Omelete
3 min de leitura
29.08.2023, às 14H55.

Se uma criança testemunha acontecimentos sinistros em um filme de terror, você pode apostar que ela será alvo de descrença por todos ao seu redor. É o que acontece com Peter (Woody Norman) em Toc Toc Toc - Ecos do Além. Toda noite, ele ouve batidas em sua parede e uma voz sinistra que pede por sua ajuda. “É só um sonho ruim”, diz a mãe. “É uma imaginação muito fértil”, é a pretensa explicação. Mas claro que o espectador, assim como Peter, sabe melhor do que seus pais, vividos pela dupla Lizzy Caplan e Antony Starr. E enquanto a voz se torna cada vez mais presente na vida do garoto, o terror do diretor estreante Samuel Bodin se desenvolve por um caminho tortuoso admirável, que subverte as expectativas de histórias de amadurecimento dentro do gênero. 

Antes da subversão, o molde parte do consagrado; escrito por Chris Thomas Devlin, o filme remete à narrativa do recente Telefone Preto, ou das histórias de Stephen King, onde crianças se encontram sozinhas e precisam crescer e se virar para encontrar seu lugar em um mundo bárbaro. Peter vive em uma casa sombria, não só escura como quase caindo aos pedaços, e seus pais são instantaneamente estranhos. Não é só que eles não acreditam em Peter: eles insistem em desviar a atenção, em puni-lo por sua insistência e em determinado momento até castigam o garoto com uma noite em um porão insólito. O sufoco que cerca Peter não está somente dentro de casa: ele é perseguido por um bully na escola e vive na sombra de um acontecimento sinistro da cidade, em que uma garotinha sumiu em uma recente noite de Halloween. 

Tudo isso é envolto por uma atmosfera sinistra muito bem construída por Bodin que, até certo momento do longa, aposta mais no jumpscare. É a partir de um pesadelo memorável de Peter - em que tanto Caplan quanto Starr se deliciam em interpretar figuras aterrorizantes - que Toc Toc Toc se despe de restrições e se desenvolve para um terror muito mais bizarro e mais sombrio. É uma escolha surpreendente, que até parece que a história de Devlin mudou de ideia no meio do caminho. Mas nada é inconsistente, e o desvio vem como um susto que vira Toc Toc Toc de cabeça para baixo. 

É claro que evitaremos detalhes sobre a pequena reviravolta de Toc Toc Toc, porque a surpresa é a melhor parte do filme. Basta dizer que o que antes se assemelhava a It: A Coisa, um terror tradicional, meio travadinho e liderado principalmente pelas performances dos três ótimos membros da família, do nada se volta para uma atmosfera tipo Noites Brutais, e nada poderia ser mais gratificante do que isso. A mudança brusca é surreal, mas muito funcional, e seu único deslize é desembocar em uma reta final um pouco mais arrastada.

Incrementado por uma ótima trilha sonora que tira proveito do lado assombroso das melodias infantis (da compositora Sofia Hultquist, creditada como Drum & Lace), Toc Toc Toc é uma fábula que nunca desprende de seu foco: as lições do crescimento, tiradas dos traumas da infância e da independência. Mas aqui, tudo se desvenda de um modo muito mais recompensador do que parecia inicialmente - talvez até porque o filme de Bodin não recebeu toda aquela campanha de marketing tradicional dos filmes de terror de hoje. Seu último acerto é seu desprendimento de explicações, que encerram Toc Toc Toc como um terror maravilhosamente esquisito - e isso é um baita elogio. 

Nota do Crítico
Ótimo
Toc Toc Toc - Ecos do Além
Cobweb
Toc Toc Toc - Ecos do Além
Cobweb

Direção: Samuel Bodin

Roteiro: Chris Thomas Devlin

Elenco: Lizzy Caplan, Antony Starr, Woody Norman

Onde assistir:
Oferecido por

Ao continuar navegando, declaro que estou ciente e concordo com a nossa Política de Privacidade bem como manifesto o consentimento quanto ao fornecimento e tratamento dos dados e cookies para as finalidades ali constantes.