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Tony Manero | Crítica

Em filme chileno, sociopata é obcecado por personagem de John Travolta em Os Embalos de Sábado à Noi

09.04.2009, às 15H00.
Atualizada em 15.11.2016, ÀS 12H07

Raúl Peralta (Alfredo Castro) conhece todos os trejeitos de seu ídolo. Sabe quantos botões há em sua calça branca, conhece melhor que ninguém a forma correta de usar a camisa estrategicamente aberta no peito e, embora não fale inglês, é capaz de repetir diálogos inteiros de seu filme favorito.

Quase todas as tardes ele vai até o cinema ver pela enésima vez Tony Manero brilhar mais que a pista de dança faiscante de Os Embalos de Sábado à Noite (1977).

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A exemplo de seu ídolo, tudo o que ele quer é dançar. Isso é o que se imagina até que Raúl, o Tony Manero do título, mostra até que ponto ele está disposto a chegar para atingir o inatingível.

Nesse momento, o filme de Pablo Larían, o candidato chileno a uma indicação ao Oscar deste ano - que não vingou -, fica verdadeiramente interessante.

O sonho de Raúl é se tornar Tony Manero. Pouco importa que isso seja impossível. Inabalável, ele tinge o cabelo de preto - o vigor da juventude não acompanhou seus cinqüenta e poucos anos - e ensaia com afinco os passos imortalizados por John Travolta na boate, nas noites de sábado. Logo, um concurso esdrúxulo de TV para escolher o Tony Manero chileno parece ser a resposta aos esforços desmedidos do protagonista.

O sonho pueril, a dedicação obsessiva a um herói cinematográfico desperta piedade, reforçado por um cenário degradado - o Chile aterrorizado por batidas militares, em 1978, cinco anos após Augusto Pinochet se instalar confortavelmente no poder.

O filme não explora o golpe militar, porém tampouco deixa os espectadores esquecerem o que há do lado de fora do prédio decadente em que vivem Raúl, a dona de um restaurante fuleiro, sua namorada de meia-idade e a filha dela.

Como se refletisse o exterior, na intimidade dos quartos, na cozinha, no salão, as relações são doentias, mesquinhas, pontuadas pela crueldade de um homem amoral, patético e violento. E todos se mostram fascinados por ele.

Tony Manero é um bom filme. Tem lá seus maneirismos exagerados, bem visíveis nas cenas de assassinatos, mas isso se releva em favor da grande atuação de Alfredo Castro. Em determinados momentos ele chega a lembrar um Al Pacino, do terceiro mundo, evidentemente. O curioso é que em diversas ocasiões, Tony Manero também compartilha uma grande semelhança com outro Tony, o Montana de Scarface (1983).

Nota do Crítico
Ótimo
Tony Manero
Tony Manero
Tony Manero
Tony Manero

Ano: 2008

País: Chile, Brasil

Classificação: 14 anos

Duração: 99 min

Direção: Pablo Larraín

Elenco: Alfredo Castro, Paola Lattus, Héctor Morales, Amparo Noguera, Elsa Poblete

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