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Embora muita gente duvide, críticos de cinema são seres humanos comuns, com defeitos, virtudes e, claro, curiosidade. Por isso, nada mais normal do que bate-papos, discussões e a inevitável pergunta "E aí, o que você achou do filme X?" Quando a tal questão tinha como alvo Trair e coçar é só começar (2006), a resposta mais comum era algo do tipo "Ah, até que é bom, perto do que eu estava esperando..."
Olhando o currículo de duas pessoas envolvidas no projeto, fica mais fácil entender o motivo de tamanha desconfiança inicial. Seus nomes são Diller Andrade e Moacyr Góes. O primeiro é o produtor e o outro, o diretor. Antes de Trair e coçar..., os dois já haviam cometido Dom, Maria, mãe do filho de Deus e Xuxa em Abracadabra, em 2003, e Um show de verão, Irmãos de fé e Xuxa e o tesouro perdido, no ano seguinte.
A marca de três filmes por ano é invejável do ponto de vista numérico. Para se ter uma idéia, Steven Spielberg, que deve ter várias equipes trabalhando para ele, conseguiu em 2005 a façanha de lançar dois filmes, Guerra dos Mundos e Munique, e em seguida resolveu tirar 2006 inteiro para relaxar. Já o incansável Moacyr Góes acha o excesso de tempo que alguns cineastas levam para desenvolver seus projetos um erro, e que estes longos períodos causam um "enferrujamento" nas capacidades destes profissionais. Para ele, quanto mais se produz, melhor.
Cinema express
Mirando a quantidade, porém, o que acaba ficando de lado é a qualidade. Isso fica bem claro neste seu mais recente longa-metragem, que foi filmado e finalizado em um espaço de tempo menor do que a gestação da protagonista Adriana Esteves. O caso mais gritante da falta de cuidado é a montagem. Parece que a única ordem na sala de edição era utilizar todos os ângulos disponíveis, o que acaba tornando o filme uma colcha de retalhos torta, que alinhava de forma desordenada seqüências curtas, mudando a posição de câmera mais vezes que um videoclipe caseiro de hardcore.
Falhas técnicas à parte, a comédia de erros protagonizada pela bem intencionada, mas atrapalhada, Olímpia (Adriana Esteves) deve arrancar sorrisos até dos mais desconfiados. Grande parte dos méritos fica com a própria Adriana. Quem imaginaria que a atriz, conhecida por seus papéis de mocinha, daria uma boa empregada doméstica? É sua Olímpia quem comanda a bagunça. Enquanto busca formas de conseguir um aumento e conquistar o coração do porteiro (Ailton Graça), ela acaba fazendo seus patrões (Cássio Gabus Mendes e Bianca Byington) acreditarem que estão sendo traídos, no dia do seu aniversário de casamento.
No entanto, se Trair e coçar... - baseado em uma peça que está em cartaz ininterruptamente há 20 anos - tem potencial para se tornar um sucesso também como filme, não é pelas suas qualidades como cinema, que quase inexistem. O ponto forte é a força do roteiro escrito por Marcus Caruso, que já levou mais de 4 milhões de espectadores aos teatros. Tanto tempo de palco serviu para diminuir os riscos, aperfeiçoando o timing das piadas e cativando um público que deve correr para o cinema para conferir o resultado final, que é engraçado... apesar de tudo!
Ano: 2006
País: Brasil
Classificação: 10 anos
Duração: 100 min
Direção: Moacyr Góes
Roteiro: Marcos Caruso
Elenco: Adriana Esteves, Cássio Gabus Mendes, Ailton Graça, Bianca Byington, Mônica Martelli, Márcia Cabrita, Mário Schoemberger, Thiago Fragoso, Cristina Pereira, Fabiana Karla, Lívia Rossy, Otávio Muller