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Um Dia | Crítica

História de amor com metas a cumprir faz o necrológio dos "desnecessários" anos 1990

17.10.2014, às 14H57.

No final de Um Dia (One Day), dois homens se reencontram depois de anos, conversam e acertam contas pendentes. Um deles termina com o clássico vamos-combinar, sugere que troquem telefones. O outro responde que "não é necessário", porque "não vamos nos ver nunca mais".

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Essa cena resume o conceito de relacionamento inscrito no filme da diretora dinamarquesa Lone Scherfig, adaptação ao cinema do best seller do escritor David Nicholls. Ao longo de 20 anos, sempre no dia 15 de julho, acompanhamos os vaivéns afetivos de Dexter (Jim Sturgess) e Emma (Anne Hathaway) e outras relações ligadas em função do que é ou não é "necessário".

A trama começa em 1988, quando Dexter e Emma festejam a formatura na Universidade de Edimburgo com uma bebedeira e uma quase noite de amor. Discutem ansiosamente o que farão da vida, como todo formando; ela quer melhorar o mundo, ele quer desfrutá-lo. O que para os dois jovens são sonhos de vida adulta - é possível que eles tenham também outros sonhos, não se sabe - o filme torna compromissos.

A partir disso, toda troca de experiências em Um Dia é pautada pela cobrança, o que automaticamente gera frustrações, como um pacto de sangue aberto em uma noite sem sexo. O problema não é viver de metas, o problema é que isso - na forma como o filme se apresenta - tira do acúmulo de vivências toda e qualquer relevância. O 15 de julho de Um Dia torna-se o Dia da Marmota de Feitiço do Tempo, reproduzido 20 vezes. Nessas duas décadas de repetições as relações obviamente se maquiavelizam, em nome do que é "necessário".

A forma como Um Dia trata os bens culturais dos anos 1990 deixa claro esse desprezo pelo acúmulo de experiências, nas passagens que satirizam o cinema hollywoodiano e a cena acid house da música inglesa, enquanto Emma fica no seu canto lendo A Insustentável Leveza do Ser. Aliás, as pessoas riem do sotaque britânico de Anne Hathaway, mas a verdade é que a sua Emma exagerada - uma distorção da imagem da Frígida Britânica - está em sintonia com o resto do filme, que distorce o pop noventista para desqualificá-lo. Na ótica de Um Dia, filmes como Jurassic Park e mesmo aquela dançarina burra da TV seriam só desvios típicos dessa década "sem função".

Dentro dessa lógica pragmática, não dá pra reclamar do desfecho, que faz muito sentido: quando um personagem conclui sua muito altruísta função (no caso, ajudar a emendar a vida do outro) ele deixa de ser "necessário". A questão é: quem decide o que é necessário? Lone Scherfig certamente se sente confortável nessa posição, tão moralista quanto aquela que a diretora assumiu quando fez Educação.

Um Dia | Cinemas e horários
Um Dia | Trailer legendado

Nota do Crítico
Ruim
Um Dia (2011)
One Day
Um Dia (2011)
One Day

Ano: 2011

País: EUA

Classificação: 12 anos

Duração: 111 min

Direção: Victor Lima

Roteiro: Victor Lima

Elenco: Helber Rangel, Helena Ramos, Alba Valeria, Fernando Reski, Ricardo Faria, Sérgio Guterres

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