Um Lugar pra Recomeçar | Crítica

Trailer Um lugar pra recomeçar An Unfinished Life EUA, 2005 Drama - 107 min Direção: Lasse Hallström Roteiro: Mark Spragg e Virginia Korus Spragg Elenco: Robert Redford, Morgan Freeman, Jennifer Lopez, Josh Lucas, Damian Lewis, Camryn Manheim, Becca Gardner, Lynda Boyd

Não dá pra entender o que o diretor sueco Lasse Hallström viu no roteiro de Um lugar para recomeçar (An unfinished life, 2005). Dono de uma carreira positiva, de filmes como Minha vida de cachorro (Mitt liv som hund, 1985), Regras da vida (The cider house rules, 1999) e Chegadas e partidas (The shipping news, 2001), o cineasta dá um belo tropeção em sua obra mais recente, que aborda de maneira superficial e simplista um dos temas preferidos dos dramas: a relação da família com a perda.

Na história, o rabujento Einar (Robert Redford) é um rancheiro que vive de forma inercial, ainda em choque pela morte do filho, algo que ocorreu há uma década. Deprimido, deixou sua propriedade decair e perdeu a esposa. Seu presente é empregado no trato do velho amigo Mitch (Morgan Freeman), que sofre as seqüelas de um ataque de um urso pardo e na contemplação solitária do túmulo do filho. E assim passam-se os dias até que surge no rancho a pessoa que ele culpa pela tragédia... sua nora, Jean (Jennifer Lopez).

Ela chega falida, fugindo de um namorado abusivo (Damian Lewis) e traz consigo a filha, a jovem Griff (Becca Gardner), neta que Einar não sabia que tinha. Inicia-se assim uma revolução na vida do homem do campo, dividido entre a curiosidade pela jovem e o ódio pela mulher que ele culpa pela sua desgraça.

A premissa é razoável, mas o desenvolvimento do roteiro decepciona. É um festival de metáforas óbvias, de situações manjadas. Se você já viu um drama na vida, adivinhará sem qualquer esforço todo o desenrolar do filme.

Como não há surpresas, fica difícil se relacionar com o filme, de temer pelo destino de seus personagens. Há, porém, o prazer em assistir à atuação de Robert Redford. Ele abraça Einar de tal forma que não há como ignorá-lo. Por outro lado, passa feito um dos tratores do rancheiro por cima de sua colega protagonista, Jennifer Lopez.

Outro problema aí... o quê diabos J-Lo está fazendo no drama? Ela é uma atriz fraca, de pouca expressão, apesar da enorme presença - que o diretor inicialmente parece constrangido em registrar, mas depois toma gosto... e tome calça jeans apertada na Jenny-From-the-Block!

Boas são as cenas entre Einar e Mitch, especialmente a que envolve Griff e uma breve discussão sobre cowboys gays (olha a moda aí). Mas elas são boas por uma única razão. Lembram muito a relação dos personagens de Freeman e Clint Eastwood no excepcional Menina de ouro (2004). Na verdade, Mitch é verdadeira cópia carbono de Eddie, personagem que Freeman viveu no filme que lhe rendeu o Oscar de coadjuvante no ano passado.

Salva-se, em última análise, o urso Bart 2, que prova em Um lugar para recomeçar que tem talento para igualar-se ao seu antecessor, o lendário urso Bart (1977-2000), um dos animais mais famosos de Hollywood. Ei, pelo menos alguém se deu bem no filme...