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Crítica

Um Porto Seguro | Crítica

Nicholas Sparks recria a utopia do amor americano para, mais uma vez, desmanchá-la no final

18.04.2013, às 20H46.
Atualizada em 29.06.2018, ÀS 02H47

Não deixa de ser um pleonasmo o título de Um Porto Seguro (Safe Haven), porque todas as histórias do escritor Nicholas Sparks que viram filmes, como Noites de TormentaUm Homem de Sorte, giram em torno do conceito do porto seguro: um lugar ou um tempo de idílio e utopia, suspensos e irreais, onde amantes podem ser amantes sem se preocupar com nada.

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Sparks parte do velho Sonho Americano para situar essas histórias na costa do Atlântico nos EUA, onde as águas do mar ou dos pântanos do Sul renovam sazonalmente as paixões da gente fotogênica. Desta vez seguimos a história de um viúvo (Josh Duhamel), pai de dois filhos, que tem sua rotina alterada em Southport, no Estado da Carolina do Norte, com a chegada de Katie (Julianne Hough). Ela tenta recomeçar a vida, embora um trauma recente a acompanhe.

Depois de Ryan Gosling e Rachel McAdams em Diário de Uma Paixão, Julianne e Duhamel devem ser os atores mais irritantemente bonitos a fazer um casal de Sparks. O diretor Lasse Hallström e o diretor de fotografia Terry Stacey, que já haviam trabalhado com o autor em Querido John, filmam os amantes da forma mais romantizada possível. O plano se estende para registrar sem cortes a ginástica que Julianne Hough faz para abrir a geladeira na cozinha recém-pintada, e o rosto de Duhamel, quando em close-up, está sempre iluminado e em foco para isolá-lo do contexto, como num filme de Tom Hooper.

"Olha essa luz, está incandescente hoje", diz Julianne olhando para o horizonte ensolarado, como se Um Porto Seguro não fosse contemplado por essa incandescência o tempo todo. Hallström emula o que Terrence Malick tem de mais instagrâmico com a Estética do Bayou de Nicholas Sparks, pessoas lindas no mato, ela mexendo no cabelo e rindo por qualquer coisa, levada para banhos de água fresca com ele, no lindo lago do amor.

Tudo é enlevo em Um Porto Seguro, então quando uma trama policial rompe o éter (o vilão surge, claro, durante a celebração do 4 de Julho, porque estragar a história dos apaixonados significa ameaçar o Sonho Americano), é como se a donzela fosse seguida não por um marido vil ou erros do passado, e sim assombrada pelas regras do cinema de gênero: é preciso uma trama, um trauma, um desenlace, quando no fundo tudo o que os protagonistas querem é não fazer planos ou pensar em problemas. Um amor bem estúpido, na verdade, mas entregue à alienação com graça e beleza.

Só que essa negação às vezes cobra um preço, e Sparks, como num acesso de autosabotagem ou sadismo apenas, resolver trair seus personagens e devolvê-los à "vida real", como no final belas-lembranças-não-curam-o-mal de Diário de uma Paixão. Digamos apenas que acontece no fim de Um Porto Seguro uma reviravolta - daquelas que viram assunto depois da sessão - que desfaz a redoma de encanto construída até ali e mata a ilusão, ao transformar o etéreo, o irreal, numa "questão".

Boa parte do público, pelo menos nos EUA, tem saído do cinema revoltado com o fim de Um Porto Seguro, e talvez não seja só porque a reviravolta é muito absurda, mas principalmente porque esse final estraga o clima do romance. Toda a luz incandescente que encheu Julianne Hough de vida ao longo do filme, afinal, talvez tenha sido só uma falha sensorial, um espectro, uma projeção.

Um Porto Seguro | Cinemas e horários

Nota do Crítico
Regular
Um Porto Seguro
Safe Haven
Um Porto Seguro
Safe Haven

Ano: 2013

País: EUA

Classificação: 12 anos

Duração: 115 min

Direção: Lasse Hallström

Elenco: Julianne Hough, Josh Duhamel, Cobie Smulders, David Lyons, Mike Pniewski

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