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Pense duas, três vezes antes de entrar no cinema para assistir a um filme dirigido por Shawn Levy. O cineasta é desses que dirige sem qualquer traço autoral além da rubrica no cheque dos produtores.
Seu currículo recente não nega: Nos últimos três anos ele cometeu uma trinca de arder os olhos, A pantera cor de rosa, Doze é demais e Recém-casados. E agora aparece à frente deste Uma noite no museu (Night at the museum)... e entrega a exceção que confirma a regra, com uma aventura divertida e repleta de boas idéias.
Não que a comédia seja uma obra-prima do gênero, ou que tenha qualquer tipo de inovação criativa. Uma noite no museu é mera diversão familiar e leve que lembra muito o bom Jumanji - e veja só... até Robbin Williams está nele também.
Parte do apelo do filme pode ser explicada pela ambientação. Há poucas coisas tão fascinantes nas grandes cidades quanto os bons museus e o de História Natural de Nova York , no coração de Manhattan, está entre os mais legais. Trata-se de gigantesca estrutura separada por eras, espécies animais, culturas humanas e uma ala exclusiva sobre o espaço (na qual há um planetário de chorar, narrado pelo Tom Hanks - aquele cara que fez Apollo 13).
É lá que o fracassado mas inventivo Larry Daley (Ben Stiler, dentro de seu padrão), temendo mudar-se outra vez de casa e decepcionar seu filho, aceita trabalhar como guarda noturno. Mas logo na primeira noite, uma surpresa: esqueletos de dinossauros, animais e estátuas ganham vida, graças a uma maldição egípcia. Cabe a Daley superar rapidamente o choque da descoberta, pois ao aceitar o emprego ele inadvertidamente tornou-se guardião daquele caos.
A diversão do filme vem justamente da quantidade de possibilidades que o próprio museu oferece, todas muito bem recriadas através de computação gráfica ou maquiagem. Hunos furiosos, um tiranossauro esqueleto, mamíferos famintos, uma cabeça tagarela da Ilha de Páscoa, dioramas (maquetes detalhadas) em crise, atrapalhados homens da caverna... a comédia brinca com boa parte do sensacional acervo da instituição, incluindo a icônica baleia azul, que faz uma participação especial. Para amarrar tudo isso há lá um fiapo de roteiro, que envolve um trio de velhacos (os ótimos veteranos Dick Van Dyke, Mickey Rooney e Bill Cobbs), o diretor do museu (Ricky Gervais, um gênio) e a estátua de cera de Theodore Roosevelt (Williams). Mas tudo é mera desculpa para esquetes cômicas (a do Átila o Huno é de longe a melhor), perseguições inusitadas e, pasme!, diálogos razoáveis e inesperados para um filme comercial de férias.
Fica a ressalva da má exploração do edifício. Devem haver umas 50 salas por lá, mas o filme não passa a dimensão do que é o Museu de História Natural, restringindo-se a meia-dúzia de cenários. Nada que não possa ser arrumado numa inevitável seqüência, porém.
Uma produção honesta, que entrega o que promete. Vale a visita, mas é melhor não se empolgar com Shawn Levy. Baixe os olhos e ele atropelará seu cérebro com piadas e situações infames com a força do estouro de uma manada de mamutes.
Ano: 2006
País: EUA
Classificação: LIVRE
Duração: 108 min
Direção: Shawn Levy
Elenco: Ben Stiller, Jake Cherry, Carla Gugino, Robin Williams, Dick Van Dyke, Mickey Rooney, Bill Cobbs, Ricky Gervais, Kim Raver, Patrick Gallagher, Rami Malek, Pierfrancesco Favino, Charlie Murphy, Steve Coogan, Mizuo Peck, Owen Wilson