Desde que a Sony entrou para valer no negócio de levar seus jogos para o cinema e TV, as adaptações sempre tentaram extrair o máximo dos games em um exercício onde a valorização da marca sempre foi a maior prioridade. Until Dawn - Noite de Terror não faz nada disso, e como resultado é um dos filmes mais interessantes da PlayStation Productions.
Com uma história que não lembra em praticamente nada o game de terror de 2015, protagonizada por um elenco quase todo inédito, o longa de David F. Sandberg (Quando as Luzes se Apagam, Annabelle 2) começa com uma viagem aparentemente despretensiosa, na qual a adolescente Clover (Ella Rubin) refaz os passos de sua irmã desaparecida junto de outros quatro amigos. O trajeto leva o grupo para o sinistro Vale Glore, onde eles rapidamente se veem presos em uma armadilha.
No local, várias criaturas assustadoras e fenômenos sobrenaturais caçam o grupo, que precisa sobreviver à noite. Se todos morrem antes do Sol raiar, o pesadelo recomeça. No entanto, o número de repetições é limitado - como diz a profecia, caso eles não passem pela noite, vão se tornar parte dela. O misterioso personagem de Peter Stormare (o Diabo de Constantine), que também existe no jogo, é uma das poucas ligações com o original.
Mesmo sem pegar tantas inspirações, no entanto, o roteiro estabelece rapidamente um terror de repetição onde o grupo entende muito bem as regras do jogo, mas não sabe exatamente o que esperar - e onde cada tentativa agrega informações que podem ajudá-los a montar esse quebra cabeças. Para quem tem familiaridade com videogame, basta dizer que Until Dawn é praticamente um roguelike em forma de filme.
Do texto à atuação do conjunto de protagonistas, esta adaptação não dá espaço para nenhuma nuance, mesmo com todo o drama psicológico que ronda Clover e o trauma do sumiço de sua irmã. Na sucessão das noites, o filme vai se rendendo completamente ao trash, pegando uma legião de estereótipos do terror em conjunto completo, dos enquadramentos à maquiagem, para manter o grupo tenso. É gigante de slasher pra lá e velhinha fantasma pra cá, sem nenhuma preocupação com coerência ou qualidade. A ideia de repetição é tudo o que basta para Sandberg e cia. - até mesmo o sentido das coisas é secundário.
Mas é nessa estética de juntar, sem medo, um pouco de tudo que o terror proporciona, que o filme se encontra. Until Dawn não tem vergonha nenhuma de ser o que é. Não tem vergonha de ser trash, não tem vergonha de fazer corpos explodirem sem nenhuma explicação. Não tem, inclusive, vergonha de usar elementos do videogame para contar sua história. Curiosamente, é um filme que tem menos vergonha de ser videogame do que o próprio Until Dawn original, um game nascido de uma época onde ser parecido com filmes era sinônimo de maturidade no meio.
Essa tendência, na ocasião, resultou em um game de estrutura robusta e controles pobres, que tenta chamar a atenção mais como filme interativo do que qualquer outra coisa, com direito a elenco de atores da série B de Hollywood (e um Rami Malek em início de carreira, relegado a um papel secundário). Muito mais honesto e sem pretensões, o filme de Until Dawn é horrível e divertido. E nunca diz a você que é nada além disso.
Until Dawn: Noite de Terror
Until Dawn
Ano: 2025
País: Estados Unidos
Classificação: 18 anos
Duração: 103min min
Direção: David F. Sandberg
Roteiro: Blair Butler, Gary Dauberman
Elenco: Michael Cimino , Maia Mitchell , Belmont Cameli , Ji-young Yoo , Odessa A'zion , Ella Rubin , Peter Stormare , Maia Mitchell
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