A Pixar nos deixou mal acostumados. Fato. É por isso que já tem gente por aí falando que a empresa entrou em decadência depois de ser vendida para a Disney. Mas o que podemos fazer se foi daqueles computadores - e, principalmente, daquelas mentes criativas - que saíram alguns dos maiores filmes dos últimos 20 anos, como Toy Story, Wall-E e Ratatouille, para citar só três deles? Um dos argumentos utilizados por este grupo de críticos é que a Pixar se rendeu às necessidades do mercado (e à casa do Mickey), produzindo continuações (Carros 2, Universidade Monstros, Procurando Nemo 2), que ajudam a alimentar as lojinhas de seus parques temáticos com mais produtos fofinhos e altamente rendáveis.
valente
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A criação de Valente (Brave), o primeiro projeto da casa protagonizado por uma personagem feminina - e ainda por cima uma princesa! - seria a prova definitiva da "decadência criativa" do estúdio que nasceu sob as asas de George Lucas e se desenvolveu embaixo dos olhares de Steve Jobs. O que estes críticos não falam é que a animação é quase tão linda quanto as próprias planícies da Escócia em que se baseia e que o 3D criado é um dos melhores já vistos. A utilização de densas florestas da região criam a profundidade necessária para realmente levar o espectador para dentro da história, sem a necessidade de ficar jogando objetos na cara do público ou fazer os personagens saírem voando ou caindo em túneis que parecem montanhas-russas, o grande vício do gênero.
E ainda tem mais uma vez a homenagem da Pixar e seu chefão, John Lasseter, ao estúdio Ghibli, de Hayao Miyazaki, presente nas criaturas fantásticas que levam a princesa Merida até a casa de uma bruxa, que deve ser irmã da Yubaba, a bruxa má de A Viagem de Chihiro. É neste momento que a história realmente começa a se desenrolar. Merida é uma jovem de espírito livre, que não quer seguir as normas de conduta da realeza e se rebela contra seu pai e, principalmente, sua mãe, ao não aceitar que sua mão seja colocada em disputa. Ao fugir de casa para espairecer, acaba encontrando a tal feiticeira - um ótimo alívio cômico, assim como os trigêmeos, irmãos de Merida - e faz um pedido, sem saber o preço que pagaria pelo seu pacto.
É preciso admitir que o desenrolar da história segue bastante a cartilha Disney, que - vale sempre lembrar - são regras que ajudaram a cimentar os gêneros da animação e dos contos de fadas e transformá-los no que eles são hoje. Ou seja, não há demérito algum aqui, porém, fica sempre aquele ideal de que os roteiristas da Pixar poderiam ter criado algo diferente e genial de novo. Não é, mas está longe de ser algo apenas mediano. A história é bem redonda e está muito bem contada, e ainda tem o pozinho de fazer chorar que a Pixar sabe dosar tão bem.
O grande desenvolvimento técnico de Valente é o cabelo de Merida, que representa a sua personalidade, livre e até selvagem, em contrapartida ao penteado perfeitamente alinhado e contido de sua mãe. Mas enquanto a princesa consegue dar a volta por cima e mostra o seu valor aos pais, fazendo valer a sua vontade, a Pixar parece ter abaixado temporariamente a cabeça para sua sua mãe (a Disney). Que seja só um truque para despistar a atenção antes de se rebelar e continuar cavalgando por aí atrás de aventuras criativas e tiros certeiros. É o que eles nos ensinaram ser o certo. É o que esperamos deles.
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Ano: 2012
País: EUA
Classificação: LIVRE
Duração: 100 min
Direção: Neil Jordan
Elenco: Nicky Katt, Mary Steenburgen, Ene Oloja, Luis Da Silva Jr., Blaze Foster, Rafael Sardina, Jane Adams, Gordon MacDonald, Zoë Kravitz, John Magaro, Laila Liliana Garro, James Biberi, Brian Delate, Lenny Venito, Carmen Ejogo, An Nguyen, Ivo Velon, Larry Fessenden, Jesus Ruiz