Velozes e Furiosos 9 cresce seguindo os passos do MCU

Créditos da imagem: Universal/Divulgação

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Crítica

Velozes e Furiosos 9 cresce seguindo os passos do MCU

Ao mesmo tempo em que se expande, franquia se refugia na confraternização

24.06.2021, às 18H57.
Atualizada em 25.06.2021, ÀS 10H29

Uma coisa óbvia na teoria mas que espanta quando se materializa na prática: nenhum blockbuster americano hoje está imune a se influenciar pelo sucesso da Marvel e sua fórmula. Isso acontece em Velozes e Furiosos 9. É uma influência que se sente no filme de várias formas. E acontece antes de mais nada porque, assim como no MCU, a franquia Velozes oferece ao longo dos anos o mesmo filme como se fosse novidade - e precisa renovar sempre uma expectativa do público em torno disso.

O MCU fideliza sua base ao oferecer - como os quadrinhos já ensinavam desde sempre - uma continuidade que se promete minimamente amarrada, filme a filme, e parte central do prazer de quem é espectador e fã é justamente ter seu conhecimento acumulado atendido nesse serviço. O que Velozes e Furiosos 9 tem para dar não é muito diferente de um Vingadores Ultimato: uma trama não linear que vai do presente ao passado estabelecendo relações que se convertem em fan service, e que existem em função disso.

Desta vez, vamos ao passado não apenas para conhecer o irmão de Dom (Vin Diesel) que ninguém sabia que existia, interpretado pelo estreante John Cena. Uma correção de continuidade também envolve refazer uma cena de Velozes e Furiosos 6 para permitir o retorno de Sung Kang como Han. Da mesma forma, é preciso conhecer Velozes e Furiosos 3 para entender por completo quem são Sean, Twinkie e Earl, o trio que agora promete tunar Velozes em direção ao espaço sideral.

Ou seja, depois de 20 anos, em que a franquia de rachas e golpes em velocidade se reinventou como um espetáculo de intriga internacional, Velozes e Furiosos começa - como  num experimento de laboratório de física - a encolher depois de sua espetacular expansão. Esse encolhimento não acontece na escala da ação (inclusive a escala ainda fica cada vez maior, depois da aventura com submarino no Ártico no oitavo filme), e sim no próprio jeito como Velozes lida consigo mesmo: nas relações dos personagens, a autorreferência virou regra.

Isso pode ser maçante ou recompensador, dependendo de como o espectador se relaciona com a franquia. Ao mesmo tempo em que se desenrola como perseguições definidas por causa e efeito, a trama de Velozes 9 é uma sucessão de encontros, e nessas cenas não há nada, essencialmente, que “acontece”.

Dom e Magdalene Shaw (Helen Mirren) se cruzam em Londres? Rola um diálogo breve de exposição para justificar a cena, mas na prática ela só existe pelo prazer de vê-los juntos. Ou seja, Velozes e Furiosos se torna, em boa medida, uma grande confraternização, como o obrigatório almoço ensolarado que fecha os filmes e sublinha sempre o caráter episódico da franquia.

Para quem entende que o maior fan service não é saber notícias da família de Dom, mas a ação pirotécnica que desafia a física, Velozes 9 sonda novos limites de CGI para a série, e a “marvelização” nesse caso acontece tanto nas cenas de porradaria (Diesel e John Cena se batem como super-heróis, atravessando paredes com socos) quanto nas perseguições, com carros voando e saltando como verdadeiros action figures de borracha. 

Como não seria diferente, para que o público aceite o acordo com esses novos patamares do inverossímil é preciso colocar dentro do próprio filme um comentarista externo que acusa a própria inverossimilhança. É aí que entram os personagens de Ludacris e Tyrese Gibson, que além de protagonizarem a melhor cena do filme (Alfonso Cuarón engatinhou em órbita para que Velozes pudesse voar) se prestam a observadores (para não falar no estereótipo de menestrel, do negro irreverente), questionando os limites do filme e esse acúmulo absurdo de situações no qual a franquia se construiu. O desgaste da fórmula se sente dentro de cena.

Não é muito diferente - só para ficar na comparação com o MCU - dos alívios cômicos da Marvel feitos para desarmar a seriedade ou para semear via metalinguagem (já vão quase dez anos que descobrimos que o Agente Coulson colecionava cards do Capitão América) o território da autorreferência e da autoindulgência. O que vamos descobrir, nos filmes que restam no futuro da série, é se nesses últimos movimentos de Velozes a autorreferência será suficiente para continuar prendendo as atenções.

Nota do Crítico
Bom
Velozes e Furiosos 9
Fast & Furious 9
Velozes e Furiosos 9
Fast & Furious 9

Ano: 2021

País: EUA

Classificação: 14 anos

Duração: 145 min

Direção: Justin Lin

Roteiro: Daniel Casey

Elenco: John Cena, Ludacris, Sung Kang, Tyrese Gibson, Michael Rooker, Nathalie Emmanuel, Kurt Russell, Vin Diesel, Charlize Theron, Michelle Rodriguez, Helen Mirren, Jordana Brewster

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