Em Repulsa ao Sexo (1965), Roman Polanski transformou a sexualidade reprimida de uma jovem em uma história de horror. Wild, da alemã Nicolette Krebitz, dá outra resposta a mesma “auto-opressão” feminina, pavimentando o caminho para a loucura da sua protagonista com um espírito libertador.
Krebitz roteiriza e dirige o filme estrelado por Lilith Stangenberg, que interpreta Ania, uma jovem deslocada, com um emprego sem futuro, um avô prestes a morrer e uma irmã mais nova que é tudo que ela não é. Quando, no caminho para o trabalho, ela avista um lobo, sua realidade ganha outras cores. Pela primeira vez há paixão, desejo.
Wild então assume sem medo a sua estranha premissa, com Krebitz transformando a trama em um suspense. Da loucura anarquista de Ania nasce a tensão: o que vai acontecer agora? Cada passo na construção do improvável romance é intrigante.
Algumas cenas podem incomodar os mais sensíveis (ou mais caretas), mas a delicadeza dos enquadramentos e dos movimentos de câmera de Krebitz atribuem beleza até aos momentos mas escatológicos. Assim como o senso de humor do roteiro, consciente dos seus absurdos, não transforma Ania em um monstro. O público torna-se cúmplice da sua história de amor, mesmo que não compartilhe da sua paixão.
Wild vai ao extremo para questionar o contrato com a civilização que tornava Ania infeliz. Mistura de mundano e fantástico que o torna um conto de fadas sobre libertação humana, não apenas feminina ou sexual.
Leia mais sobre Festival de Sundance
*Wild fez parte da seleção Worl Dramatic do Festival de Sundance 2016. Paralelamente, o canal pago Sundance Channel terá na sua programação até 31 de janeiro o 10 Days of Sundance, com títulos que marcaram edições anteriores do festival, com exibições sempre às 23h.
Ano: 2016
País: Alemanha
Duração: 97 min