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Uma multidão de jovens, com vastas cabeleiras descuidadas e munidos de seus inseparáveis baseados, pregando o lema hippie "Paz e Amor" numa gigantesca fazenda em Nova York ao som de Jimi Hendrix. Essa imagem do lendário festival de Woodstock pouco tem a ver com o que vemos em Wood & Stock: Sexo, Orégano e Rock n Roll (Brasil, 2006), animação baseada nos personagens que o cartunista Angeli criou na época da Chiclete com Banana.
Os amigos Wood e Stock são dois roqueiros barrigudos e carecas de meia-idade, que se vêem dividindo o mesmo teto, após o exílio tântrico-sexual de Lady Jane (esposa do primeiro) e a morte do pai de Stock, agora um sem-teto e sem-mesada. Os dois senhores, na ausência da dona da casa, ficam responsáveis por cuidar da educação de Overall, um adolescente careta, preocupado com as aparências - fruto típico de uma sociedade capitalista - e filho de Wood.
O filme é bastante fiel às tiras de Chiclete com Banana, inclusive os traços parecem ter saído das mãos do próprio Angeli, que aprovou a obra. O responsável por esta ótima adaptação é o diretor gaúcho Otto Guerra, já experiente nesse tipo de trabalho. Em 1994, Otto dirigiu Rocky & Hudson: os Caubóis Gays, personagens de Adão Iturrusgarai também oriundos das tiras de jornal e, por que não, precursores de um certo segredo na montanha da costa-quebrada.
Mas o excesso de fidelidade de Wood & Stock ao material original dá alguns solavancos ao ritmo do filme. Em detrimento de uma história conexa, a animação segue uma estrutura de tirinhas coladas umas nas outras. Algo que para os puristas da nona arte, deve soar positivo, já que minuto após minuto há uma piada com aquele humor fino próprio das HQs de Angeli. Um humor que não causa gargalhadas, mas provoca aquele sorrisinho no canto da boca conjugado a uma reflexão.
Na trama, enclausurados em seu mais sujo do que nunca apartamento, graças à apatia talvez derivada dos cigarrinhos de orégano que tanto os alegram, Wood e Stock resolvem remontar a velha banda que tinham nos anos 70: Chiqueiro Elétrico. O grupo traz consigo diversos outros personagens de Angeli: Rampal, Sunshine, os Skrotinhos, Nanico e Meiaoito. O profeta Rhalah Rikota também está presente, assim como o cantor Elton John, que faz uma aparição especial num dos momentos mais engraçados do filme.
Quem também dá as caras é Rê Bordosa (ué, mas ela não tinha morrido?), dublada de forma magistral por Rita Lee, que também canta o tema de abertura do longa. A cultuada personagem rouba a cena diversas vezes e a voz da Primeira Dama do Rock brasileiro é perfeita para ela. Outro que deixa sua marca é o cantor baiano Tom Zé, que empresta a sua voz a um inspirado Raulzito. Tudo isso ao som da banda Júpiter Maçã que dita o tom Rock n Roll lisérgico da trilha sonora.
Enfim, Wood & Stock é a prova definitiva (se é que era necessária mais alguma) de que desenho animado não é exclusividade de crianças, tanto que fora considerada a primeira animação brasileira inadequada para menores de 18 anos - medida que foi revista e reavaliada para impróprio para menores de 16. É uma boa comédia sobre a (a)normalidade das pessoas, famílias e costumes, regada a muito orégano, sexo e rock n roll - talvez as únicas coisas que restaram da ideologia de Woodstock.
Ano: 2006
País: Brasil
Classificação: 16 anos
Duração: 81 min
Direção: Otto Guerra
Roteiro: Rodrigo John
Elenco: Júlio Andrade, José Vítor Castiel, Rita Lee, Lobão, Janaína Kremer Motta, Michele Frantz, Felipe Mônaco, Geórgia Reck, Tom Zé
