O k-pop ama a juventude – e, afinal, por que não amaria? Os jovens de até 25 anos, mais ou menos, são o público principal da música coreana, especialmente quando se trata de grupos novos que chegam para renovar a audiência e manter girando a folha de faturamento das grandes gravadoras. Nesse sentido, não é nada diferente do que já acontece no Ocidente. Mas o k-pop também cultiva uma relação unicamente ambivalente com o tempo, com as transformações que ele traz, com a possibilidade (ou, talvez, a realidade inescapável) de que toda a glória dessa juventude bem-sucedida e disciplinada que ele nos apresenta seja terrivelmente fugaz, finita, passageira.
Em vários momentos de TIMELESS WORLD, o filme que registra a primeira turnê do jovem grupo ZEROBASEONE pela Ásia, os integrantes declaram que gostariam de “parar o tempo naquele momento” de comunhão com os fãs. Trata-se, afinal, do triunfo definitivo após anos de treinamento e ainda mais anos de promoção. Conversamente, eles declaram também que querem “continuar brilhando para sempre” juntos. É um golpe baixo quando se leva em consideração que o grupo, formado no reality show Boys Planet em 2023, foi criado já com data de validade – como a maioria dos conjuntos que saem desse tipo de programa na Coreia do Sul, eles começaram a carreira já com uma previsão para se separarem: em dois anos e meio, ou seja, no final de 2025.
É claro que o sucesso fenomenal dos primeiros (e talvez únicos) anos do ZEROBASEONE já tem criado burburinhos na indústria sobre uma possível extensão de contrato, mas a pouca substância atribuída a esses rumores só sublinha a sensação de incerteza, e de nostalgia preemptiva, ao registro do show do grupo. Mesmo se essa história continuar, afinal, os protagonistas dela nunca mais serão exatamente quem são aqui – os meninos de ouro da indústria, fazendo o pulo da TV para o palco, em pé de igualdade adolescente com os fãs que os escolheram por votação. As coisas se transformam, as relações mudam (mesmo dentro de uma admiração que professa continuar para sempre), e parar o tempo ou viver em um mundo sem ele, no fim das contas, é simplesmente impossível.
O que TIMELESS WORLD tem de mais interessante e envolvente, portanto, é justamente seu status como registro desse momento fugaz. Sabendo disso, a dupla de diretores Oh Yoon-dong e Kim Ha-min (a mesma do recente LONSDALEITE, de Baekhyun) se dedica tanto à mitologização e ao engrandecimento dessa passagem do ZEROBASEONE pelo palco quanto à observação minuciosa da qualidade da performance que eles apresentam ali. Se em outros filmes da safra recente do k-pop a ideia sempre foi usar as pausas na performance para sublinhar a relação do artista com os fãs, aqui esse fanservice ganha um verniz de historiografia, com o uso muito mais frequente de imagens de arquivo e interrogações mais profundas dos integrantes sobre a trajetória que os levou até ali.
TIMELESS WORLD, enfim,conta a história do ZEROBASEONE para leigos enquanto legitima o seu sucesso ao mostrar aqueles que já se dedicam ao grupo. E, no palco, o filme cumpre também a sua missão de nos mostrar a energia desse grupo - o integrante mais velho, Kim Ji-woong, completou 26 anos em dezembro - em uma série de coreografias intrincadas, executadas pelos integrantes não só com precisão como também com uma consciência aguda da própria imagem. Como verdadeiras crias de um reality de competição, os meninos do ZEROBASEONE estão sempre performando para as câmeras, sempre afetando um frescor enérgico que transborda em pequenos gestos responsáveis por colorir o show além da competência brutal de sua execução.
Eles são jovens, cheios de vida, conquistaram seus sonhos e estão se divertindo à beça. Não é nem um pouco difícil se divertir junto com eles, ou desejar junto com eles que aquele momento de fato nunca passe. E é claro que passa, mas não custa sonhar.
Zerobaseone: The First Tour (Timeless World)
ZEROBASEONE THE FIRST TOUR [TIMELESS WORLD] IN CINEMAS
Ano: 2025
País: Coreia do Sul
Duração: 109 min
Direção: Kim Ha-min, Oh Yoon-dong
Elenco: ZEROBASEONE