Para se avaliar a qualidade de um filme da série Duro de Matar (Die Hard) é preciso verificar se ele cumpre uma série de requisitos estabelecidos desde o início da série e inalterados desde então. Depois de assistir ao filme, chega a hora de mais um artigo da série Da Frigideira, desta vez um pouco diferente, aplicando a tal fórmula e checando, ponto por ponto, se esta quarta película está à altura de suas antecessoras:
O filme tem as sequências de ação mais exageradas e absurdas possíveis?
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Sim, o diretor não mediu esforços em fazer deste o Duro de Matar mais exagerado da série! Carros, helicópteros e protótipos de aviões de combate de última geração são usados incansavelmente em sequências tão espetaculares quanto implausíveis.
O vilão é uma figura inteligente, sofisticada e interpretada por um ator muito melhor que Bruce Willis?
Bem, Timothy Olyphant não é nenhum Alan Rickman (o saudoso Hans Gruber do filme original), e perde pontos no quesito inteligência e sofisticação por interpretar um vilão americano ao invés de europeu, mas definitivamente é melhor ator do que Bruce Willis. Não que seja um grande feito, claro! Vale falar também da bela namorada do bandido (interpretada pela atriz havaiana Maggie Q., de Missão Impossível 3), que logicamente é um dos destaques do filme.
Notem, porém, que ninguém disse que ele era um vilão competente
Os vilões têm um plano ainda mais ambicioso e inverosímil que nos filmes anteriores, ainda que seu objetivo final seja, como sempre, apenas faturar uns trocados?
Sem dúvida! Depois de colocar um prédio, um aeroporto e até a cidade de Nova York como reféns, os vilões deste filme colocam nada menos que todos os Estados Unidos à sua mercê! Tudo, claro, para garantir o dinheiro que eles conseguiriam roubar muito mais facilmente com esse tipo de recursos se tivessem um plano menos absurdo e que não dependesse tanto de coincidências implausíveis...
O personagem de Bruce Willis, o policial John McClane, apanha do início ao final do filme, ainda que seus ferimentos não pareçam ter nenhum efeito além de deixá-lo mais sujo?
Sim, John McClane continua sendo o saco de pancadas dos heróis de ação. Não que isso (ou o óbvio cansaço de Bruce Willis, que começa a ficar velho demais para esse tipo de papel) o faça ter mais dificuldade em despachar um exército de bandidos ou pular em cima de aviões em pleno vôo, claro!
O personagem de Willis é perseguido do início até quase o final do filme por um assassino europeu indestrutível que é muito mais forte e habilidoso que o herói, mas que, no entanto, é incapaz de matá-lo?
Mais que isso! Neste episódio, o pessoal caprichou e chamou ninguém menos que o francês Cyril Raffaelli (13º distrito). Dublê profissional, acrobata de circo e praticante de karatê, kung-fu e parkour, Raffaelli consegue fazer sem ajuda movimentos que os tão celebrados astros de filmes de artes marciais chineses só fazem com a ajuda de fios! É um digno oponente para o indestrutível John McClane! Pena que, como o personagem de Willis matou algo como 90% da população alemã nos filmes anteriores, Raffaelli faça o papel de um assassino francês ao invés de alemão.
Algum membro da família McClane fica à mercê do bandido quando o vilão descobre quem está lhe causando tanta dor de cabeça?
Tradição é tradição! Neste filme é a filha de McClane que corre risco de morte, embora os vilões sejam tão patéticos que o rapto não provoque nenhuma mudança na atitude de McClane. Ou mesmo da menina!
McClane tem um parceiro engraçadinho que é incapaz em 99% do tempo mas o ajuda nos momentos decisivos do filme?
O mané da vez é um hacker regenerado (claro, afinal um criminoso não poderia ser mocinho em um filme desses ) interpretado por Justin Long (o fanboy nerd de Heróis fora de órbita, em um papel muito similar ). Ele consegue superar o exército de hackers do vilão quase sozinho, exceto na parte em que ele vai pedir ajuda a outro hacker, interpretado pelo santo padroeiro dos fanboys nerds, Kevin Smith. Os dois não comprometem, mas este é um filme de ação, não uma comédia!
McClane é um sujeito normal envolvido em uma trama acima de sua compreensão e que triunfa apesar de suas limitadas capacidades?
Não mesmo! John McClane virou um super-homem cheio de habilidades, tipo um Batman misturado com um daqueles personagens interpretados por um Stallone ou Schwarzenegger. Ele nunca erra, hesita ou duvida de suas próprias capacidades e transmite sua confiança para os que estão a seu redor. Ele nem mesmo fala um "fuck" a cada três palavras como nos filmes anteriores. Tudo culpa da vontade dos produtores de conseguir uma censura mais branda para o filme. Parece que o John McClane do século 21 é perfeito demais até para ter a boca suja! E é por isso que este longa, ainda que superior às outras continuações, nunca conseguirá chegar aos pés do inesquecível Duro de Matar original. Que os deuses do cinema o tenham.