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Depois de ganhar o Oscar, Uma Mulher Fantástica leva também o Platino

Drama de Sebastián Lelio sobre cantora trans consagra a potência do Chile nas telas

30.04.2018, às 12H08.

Se até Hollywood se rendeu ao charme (e ao espírito de denúncia contra a transfobia) de Uma Mulher Fantástica, concedendo a ele o Oscar de melhor filme estrangeiro de 2018, não seria o Troféu Platino – prêmio concebido há cinco anos com a ambição de se tornar a honraria maior da América Latina no cinema – que negaria a ele uma vitória honrosa em seu continente natal.

Construída pelo cineasta Sebastián Lelio como uma reflexão sobre o espírito de transformação inerente à condição humana, a produção - sobre uma cantora trans, vivida por Daniela Vega, às voltas com a intolerância - leva para o Chile as láureas de melhor filme, diretor e atriz. Foi premiada ainda nas categorias Melhor Roteiro, Montagem e Júri Popular, na cerimônia, realizada em Playa del Carmen, nas cercanias de Cancún. Lá, coube ao campeoníssimo mexicano de bilheteria Eugenio Derbez (Não Aceitamos Devoluções) ser o apresentador, tirando sarro das traduções hispânicas de títulos de filmes e do orgulho ufanistas de seus hermanos de outras nações latinas.

“O cinema do Chile foi assassinado pela ditadura. Voltamos da morte com fome, por isso nós estamos correndo atrás do atraso com pressa”, disse Lélio ao Omelete, antes da vitória, em que celebrou as boas críticas recebidas neste fim de semana, da imprensa americana, por outro filme de sua lavra, o drama LGBT Disobedience, lançado sexta nos Estados Unidos. “Foi uma boa arrancada e já estou bem avançado na refilmagem de Gloria, em que dirigi Julianne Moore”.

Deu Chile na cabeça ainda na categoria de melhor ator. Venceu o badalado Alfredo Castro, mais conhecido por De Longe Te Observo (curiosamente um drama venezuelano, Leão de Ouro de 2015). Castro foi laureado por Los Perros, produção sobre traumas tardios do governo de Pinochet revelada na Semana da Crítica de Cannes em 2017.

Maior rival de Uma Mulher Fantástica nos Platino, com oito indicações, a coprodução Brasil-Argentina-Espanha Zama, comandada pela mais cultuada diretora do continente de 2001 para cá, Lucrecia Martel, abocanhou três troféus: o de Fotografia, dado ao português Rui Poças; o de Som, dado Guido Berenblum; e Direção de Arte, confiado à pernambucana Renata Pinheiro. Um dos mais disputados fotógrafos do Velho Mundo hoje, Poças não compareceu à festa, mas foi substituído pela mineira Vania Catani, coprodutora do longa , que mandou um necessário recado aos Platino, destacando o valor da língua portuguesa numa festa dominada pelo idioma espanhol.

No terreno da trilha sonora, a láurea de música original foi dada a Alberto Iglesias por A Cordilheira, polêmico thriller político com Ricardo Darín. Inédito no Brasil, o filme sobre um conclave de presidentes nos Andes fez sua estreia em Cannes há um ano.

Primeiro Platino a ser entregue na festa, o prêmio de melhor longa-metragem de estreia ficou com a Espanha, dado a Carla Simón por Verão, 1993, centrado nos esforços de uma jovem para criar uma órfã soropositiva. E houve mais vitória para o cinema espanhol. Sucesso de público na Europa, a produção madrilena em computação gráfica Tadeo Jones 2: O Segredo do Rei Midas, de Enrique Gato e David Alonso, foi eleita melhor animação. Baseada em fatos sobre um artista circense com gigantismo, Handia, produção basca de € 3,5 milhões, foi contemplada com o prêmio especial de Educação e Valores, cota de moral e cívica dos Platino.

Ainda no bonde espanhol entrou o vencedor dos documentários: Muchos Hijos, un Mono y un Castillo, no qual o ator Gustavo Salmerón registra as excentricidades de sua mãe.

Desde 2017, os Platino andam reverenciando também a excelência da teledramaturgia, dando láureas a séries. O melhor seriado do ano foi El Ministério Del Tiempo, da Espanha, tendo sido projetada no Festival de San Sebastián, em setembro passado, para angariar prestígio entre os críticos. No elenco de TV, premiaram Blanca Suaréz, por Las Chicas Del Cable, e Julio Chavez, por El Maestro.

“A televisão é um aliado do cinema, ajudando os produtores uma vez que tornam os filmes conhecidos, aproximando-os do grande público”, diz Rafael Sánchez Jiménez, diretor de relações institucionais e comunicação dos Platino. “Não adianta para o continente produzir grandes filmes sem que eles consigam chegar ao conhecimento dos espectadores. A TV é essencial nisso e também na parceria de coprodução com muitos longas”.

Em 2019, os Platino serão entregues na Europa.

Confira a lista completa de ganhadores:

Filme: Uma Mulher Fantástica, de Sebastián Lelio (Chile)
Documentário: Muchos Hijos, un Mono y un Castillo, de Gustavo Salmerón (Espanha)
Animação: Tadeo Jones 2: O Segredo do Rei Midas, de Enrique Gato e David Alonso (Espanha)
Filme de estreia: Verão, 1993, de Carla Simón (Espanha)
Diretor: Sebastian Lelio (Uma Mulher Fantástica)
Atriz: Daniela Vega (Uma Mulher Fantástica)
Ator: Alfredo Castro (Los Perros)
Roteiro: Sebastián Lelio e Gonzalo Maza, por Uma Mulher Fantástica
Fotografia: Rui Poças, por Zama
Montagem: Soledad Salfate, por Uma Mulher Fantástica
Direção de arte: Renata Pinheiro, por Zama
Música original: Alberto Iglesias, por A Cordilheira
Som: Guido Berenblum, por Zama
Prêmio especial de educação e valores: Handia, de Aitor Arregi e Jon Garaño (Espanha, do País Basco)
Série: El Ministério del Tiempo
Atriz de série: Blanca Suaréz (Las Chicas Del Cable)
Ator de série: Julio Chávez (El Maestro)
Júri popular: Uma Mulher Fantástica

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