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Crítica

Desejo de Matar | Crítica

Eli Roth conversa com Frank Miller e moderniza o filme-de-vingança com ironia cartunesca

09.05.2018, às 17H23.
Atualizada em 10.05.2018, ÀS 23H01

Produto de uma era de desesperança, a série Desejo de Matar surgiu com o ator Charles Bronson em 1974, da mesma forma de outros filmes de exploitation, como uma reação a uma inquietação social urbana nos EUA. Embora o vigilantismo não saia de moda, o remake agora estrelado por Bruce Willis tem como marca, nas mãos do diretor Eli Roth, muito mais a tônica do consumo irônico do que o discurso engajado.

Willis faz Paul Kersey, que originalmente era um arquiteto de Nova Jersey e agora é um cirurgião de Chicago. Homem de família e "de bem", ele fica sem reação quando sua mulher e sua filha são vítimas de uma invasão domiciliar, e diante da morosidade da justiça Paul Kersey percebe que só lidará com o luto se caçar os bandidos sozinhos.

Depois de fazer seu nome com os turture porn da série O Albergue e revisitar o subgênero de forma sarcástica nas provocações de Bata Antes de Entrar, Roth visivelmente filia seu Desejo de Matar a essa tendência. O remake não tem a seriedade de outros longas da safra atual de justiciamento na terceira idade, como Busca Implacável ou os thrillers de Gerard Butler, e sim um espírito de gozação juvenil que aproxima muito mais Desejo de Matar de uma história em quadrinhos do que exatamente da série com Bronson.

O caráter cartunesco está inscrito mesmo na forma: a tela se divide em quadros como uma página de HQ para mostrar, ao mesmo tempo, Kersey trabalhando com seus utensílios de médico e aprendendo a limpar seu arsenal de vigilante. O grafismo da violência, bem típico de Roth, de cérebros estourando a cabeças virando, também estão mais próximos da caricatura encontrada em gibis ultraviolentos do que em filmes com um pé no realismo.

Se existe um parentesco a se definir aqui, Desejo de Matar está mais próximo de Frank Miller. Não só pela vida dupla do endinheirado Kersey que faz Bruce Willis parecer com Bruce Wayne, mas também pela narrativa entrecortada pelas comentários da mídia, que funcionam no filme como um coro grego a exemplo do que Miller fez em Batman: O Cavaleiro das Trevas. Os infomerciais de armas e os tutoriais online acrescentam mais ironia à receita, como se os EUA de Trump, com sua vocação para a autopromoção mais popularesca, fosse mesmo uma repetição dos EUA de Reagan.

Ao fazer um filme que abraça a artificialidade com sarcasmo (o longa abre com o noticiário dizendo que as taxas de crime subiram e termina dizendo que elas caíram) sem recorrer a metalinguagens sofisticadas demais para parecer inteligente, Roth realiza um remake que moderniza o original de forma bastante consciente e consistente.

Nota do Crítico
Ótimo
Desejo de Matar
Death Wish
Desejo de Matar
Death Wish

Ano: 2017

País: EUA

Classificação: 18 anos

Duração: 108 min

Direção: Eli Roth

Roteiro: Scott Alexander, Michael Ferris, Larry Karaszewski

Elenco: Camila Morrone, Bruce Willis, Vincent D'Onofrio, Dean Norris, Elisabeth Shue, Jack Kesy, Beau Knapp, Kirby Bliss Blanton, Mike Epps, Len Cariou, Kimberly Elise, Ronnie Gene Blevins, Ian Matthews, Nathaly Thibault, Christopher Tyson, Melantha Blackthorne, Dawn Ford, Sway, Kenny Wong, Moe Jeudy-Lamour, Stephanie Janusauskas, Richard Esteras, Jason Cavalier, Mike Chute, Naomi Frenette, Alex Zelenka, Luis Oliva

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