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Diretora defende <i>Histórias do Olhar</i>

Diretora defende <i>Histórias do Olhar</i>

29.09.2003, às 00H00.
Atualizada em 02.11.2016, ÀS 11H00

Histórias do olhar
Brasil, 2001 - Drama - 80 min.
RESENHA

Direção: Isa Albuquerque
Roteiro: Ana Lucia Andrade, Isa Albuquerque, Duba Elia

Elenco: Walmor Chagas, Maria Lucia Dahl, Cissa Guimarães, Jonas Bloch, Eliane Giardini.


Sempre fizemos questão de ressaltar que aqui no Omelete cabem vários temperos. Assim, leia a réplica de Isa Albuquerque, a diretora do longa brasileiro Histórias de Olhar, à nossa resenha (confira aqui) sobre o seu filme:

"Omelete
A MIOPIA DA CRÍTICA

Alguns críticos brasileiros perderam a capacidade de perceber as provocações propostas pelo cinema independente.Outros jamais a tiveram e se contentam em aplaudir as fórmulas ditadas pela indústria americana: aplaudem hoje aquilo que reprovaram ontem. Eu poderia encarar como mero exercício de retórica ou prevenção contra a ousadia de linguagem proposta por uma diretora estreante algumas das críticas que li sobre o meu longa-metragem, Histórias do Olhar; poderia ignora-las se estes formadores de opinião não tivessem usado seus poderosos veículos de comunicação em ataques virulentos e levianos contra o trabalho sério e responsável que envolveu toda a minha equipe de produção.

Ninguém tem a obrigação de aplaudir o Histórias do Olhar. O que choca é a deselegância demonstrada em algumas críticas só equiparável à linguagem dos piores pasquins da história da imprensa brasileira numa ação destrutiva absolutamente inexplicável contra o meu filme. O crítico Érico Borgo do Site Omelete sequer checou as informações que deu em seu texto. O meu longa metragem não foi rodado em digital, como afirma, mas em Super 16 mm com finalização em digital para o 35mm. A sua crítica preocupa-me, não só pelo equívoco de suas afirmações, como também pelo exagero com que ataca o meu filme feito realmente com muito sacrifício, como ele imaginou, no qual tive o cuidado de reunir grandes profissionais do cinema brasileiro, pois é o mínimo que um realizador deve fazer por seu trabalho é trata-lo com o necessário respeito e cuidado artesanal.

Preocupa-me a estreiteza do seu julgamento absoluto carregado de adjetivações como “a pior produção nacional dos últimos tempos”, o mesmo que vem sendo feito por alguns críticos para algumas produções brasileiras recentes, especialmente se são adaptações de clássicos intocáveis da literatura nacional, além da licenciosidade que utiliza para criticar o elenco com suas opiniões como classificar a atriz Cissa Guimarães de “chata” - um julgamento pessoal que não interessa a ninguém ou ironizar o cabelo do venerável ator Walmor Chagas, na composição visual de um maestro obcecado e preso ao seu passado. Tive a felicidade de escalar um grande elenco para interpretar as quatro histórias e algumas das interpretações “pouco convincentes” como julgou o crítico, já foram premiadas em festivais. A “adolescente magrela” Fernanda Maiorano foi contemplada com o prêmio de atriz revelação do Festival de Recife em 2002. Portanto, foi capaz de convencer o júri de seu talento e de sua linha de atuação. A análise do Senhor Omelete parece-me inconsistente e pouco fundamentada para alguém especializado em crítica de cinema. Não se faz omelete sem quebrar ovos!

Se é necessário explicar o filme ao crítico, vamos faze-lo: Embora conheça bem a forma aristotélica de escrever, permiti-me, juntamente com duas parceiras, a fazer um “roteiro solto” segundo acusam algumas dessas críticas, para deixar áreas de livre acesso ao pensamento do espectador, sempre tão condicionado a receber tudo pronto. A vida se encerra mas não se fecha. E o nosso roteiro não se fecha porque o meu objetivo era costurá-lo com o mesmo tipo de obsessão provocada por sentimentos complexos abordados nas diferentes histórias incomodando o espectador com a loucura quase imperceptível das situações cotidianas. Usei a liberdade de desenvolver o drama em diversas histórias, em lugar de tratar com linearidade mais um filme para a diversão e o deleite e a compreensão da crítica e do público. O que é melhor ou pior dentre os episódios de Histórias do Olhar não passa de opinião pessoal já que, nas diversas exibições do filme, sempre houve alguma preferência pessoal do público por uma ou outra história, um objetivo paralelo deste formato que propõe uma interação bem mais intensa com o público . “Desconexos”? Cada episódio aborda situações em universos distintos que se tangenciam na vivência das diferentes personagens, ou seja: é necessário explicar ao sr. Omelete que existem vários ingredientes em uma receita.

“Constrangedores”? Reuni 26 autores roteiristas de cinema e TV que escreveram contos baseados na mesma filosofia do filme para a publicação do livro HISTÓRIAS DO OLHAR, cuja primeira edição já está prestes a se esgotar e que não julgaram nem um pouco “constrangedoras” as histórias do filme baseadas em sentimentos imperfeitos. Todos autores de grande talento e muitos reconhecidos no mercado como: Luís Carlos Maciel, Bráulio Mantovani, Marcílio Moraes entre outros.

Além disso, os grandes atores como Walmor Chagas, Eliane Giardini, Maria Lucia Dahl e Camilo Bevilacqua, que trabalharam no filme, acreditaram no projeto, entre outras coisas, porque perceberam a originalidade do roteiro. A Distribuidora Imovision, de origem francesa, que atua no mercado há 15 anos importando títulos independentes de todo o mundo, escolheu justamente o “Histórias do Olhar” para iniciar o seu relacionamento com o cinema brasileiro. Histórias do Olhar não é um filme leve e foi concebido para inquietar. Mas ao que parece, incomodou bem mais ao crítico do que ao público dos diversos festivais dos quais participei.

Antes de estrear no circuito comercial, Histórias do Olhar encontrou empatia em platéias exigentes como a italiana (Premmio Del Pubblico em Trieste), a espanhola (Premio Especial L`Aiffa no Festival de Valência), além do prêmio para o talento de Fernanda Maiorano, atriz revelação no Festival de Recife. Ao longo de 2002, o filme fez parte da seleção oficial para mostra BR de cinema de São Paulo além de haver sido aceito em várias mostras mundiais não competitivas como Tróia em Portugal e San Diego (EUA) com grande receptividade por parte do público e agora foi um dos dois representantes brasileiros do Festival Internacional de Cinema de Brasília onde obteve a segunda maior votação pelo júri popular. Com base nesta trajetória de sucesso e embora tenha dirigido o meu filme de olhos bem abertos, posso parodiar Woody Allen em sua impagável comédia “Dirigindo no Escuro” e afirmar: “- ainda bem que os italianos, os espanhóis e os franceses existem!” O filme que está sendo alvo de ataques da crítica em meu país foi muito bem tratado no exterior. Atribuo essa rejeição a um caso talvez irreversível de miopia da crítica brasileira."

Isa Albuquerque
Diretora, produtora e co-roteirista de
HISTÓRIAS DO OLHAR

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