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Cara você vive, coroa você morre. A frase resume bem o estilo de vida de Domino Harvey (1969-2005), conhecida como a filhinha de papai que decidiu virar caçadora de recompensas. Com ela era oito ou oitenta, mas ao contrário do que a moeda girando no ar pode sugerir, sua vida nunca foi decidida na sorte. Suas atitudes, seus caminhos sempre foram trilhados com um propósito: fugir do tédio, da mesmice, da vida fácil.
Filha do ator Lawrence Harvey (Sob o domínio do mal, 1962) e da modelo Paulene Stone, a garota perdeu o pai aos 4 anos. Disposta a manter seu estilo de vida, a mãe se casou novamente, desta vez com um dos fundadores da rede de restaurantes Hard Rock Café, e se mudou para Beverly Hills. Domino continuou em Londres e foi se afundando nas drogas e se especializando na tarefa de ser expulsa das escolas. Aos 20 foi morar com a mãe em Los Angeles e começou sua série de passagens por clínicas de desintoxicação. Dizem que conseguiu ficar sóbria apenas na época em que morou em San Diego, quando trabalhou em um rancho e como bombeira voluntária na fronteira com o México. Ao ser recusada no corpo de bombeiros de Los Angeles ficou sabendo de um curso para se tornar caçadora de recompensas. Conseguiu espaço e se tornou parte do grupo liderado por Ed Martinez, veterano do Vietnam.
O cineasta Tony Scott (Top Gun, Chamas da vingança) comprou os direitos de transformar a história acima em filme após ler uma matéria no tablóide britânico The Sun. Pagou 300 mil dólares por isso em 1995. Scott e Domino se encontraram diversas vezes para que a garota contasse suas histórias ao cineasta. Os roteiros foram sendo desenvolvidos, mas sempre se focavam uma biografica tradicional. Foi aí que apareceu Richard Kelly (roteirista e diretor do maluco Donnie Darko) com uma idéia diferente: criar um filme semibiográfico, que mostrasse partes da trajetória acima e acrescentasse outros fatos de forma ficcional.
Domino (2005), o filme, começa com a protagonista presa, sendo interrogada por uma agente federal (Lucy Liu). Utilizando-se de flashbacks, a linha do tempo vai para frente e para trás, alternando a apresentação dos personagens que foram importantes na vida de Domino (Keira Knightley) e os fatos que a levaram até aquele momento. Vão do funeral do seu pai ao reality show apresentado por dois ex-Barrados no Baile.
Mesmo com um tema que poderia sugerir muita ação e um forte apelo dramático, o filme não deslancha como deveria. Scott, o diretor de fotografia Daniel Mindel (A identidade Bourne) e o time de montadores (Tony Ciccone, William Goldenberg e Christian Wagner) preferiram criar um gigantesco videoclipe de 127 minutos. Lindo - com uma fotografia estourada, colorida e uma câmera que não pára - mas exageradamente longo e repetitivo. Na tentativa de tornar a fita mais cool, várias frases ditas pela Domino são reproduzidas novamente em seguida ao que acabou de ser falado. Fosse Domino um filme um pouco mais sério, esta gagueira poderia representar as tais vozes que Domino dizia ouvir e que a levaram a se afundar nas drogas até que fosse encontrada morta na banheira de sua casa, com overdose de Fentanyl, um analgésico 80 vezes mais forte que a morfina. Mas nada disso é mostrado.
Scott preferiu bater insistentemente na tecla Meu nome é Domino Harvey. Eu sou uma caçadora de recompensas e assim calou as vozes dentro da cabeça da sua protagonista, seus abusos com as drogas e até a sua tendência bissexual. No filme, ela é retratada apenas como uma menina mimada, que preferia uma vida emocionante nas ruas a uma vida fútil nas passarelas ou círculos de socialites. A verdadeira Domino Harvey (que aparentemente nunca foi top model) não gostou muito desta versão, mas não está mais aqui para contar a verdade. Ela preferiu seguir à risca o ditado Viva rápido, morra jovem.
Ano: 2005
País: EUA
Classificação: LIVRE
Duração: 127 min
Direção: Tony Scott
Elenco: Keira Knightley