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Por que precisamos de mais filmes como Doutor Gama

Brasil precisa de mais narrativas nas telas

06.08.2021, às 19H15.
Atualizada em 23.08.2021, ÀS 11H39

Estreou na última quinta-feira (5) o filme Doutor Gama, do roteirista Luiz Antônio, com direção de Jeferson De. O longa-metragem brasileiro conta a história de Luiz Gama, considerado o primeiro advogado negro do Brasil.

Gama nasceu na Bahia no século 19, como homem livre, mas foi vendido pelo próprio pai quando tinha 10 anos. Ainda escravizado, aprendeu a ler e se interessou por política e por leis. Ele não era advogado por formação, mas possuía um vasto conhecimento que renderam uma autorização do Poder Judiciário do Império para advogar. Luiz Gama libertou mais de 500 pessoas escravizadas no Brasil, sendo ele mesmo o primeiro dessa lista.

Chega a ser difícil acreditar que uma personalidade como ele demorou tantos anos para ganhar um filme. Mais assustador ainda é pensar que o Brasil possui uma diversidade gigantesca de personalidades negras que mereciam ter suas histórias contadas nas telonas, mas não as têm.

O diretor Jeferson De sentiu o peso dessa responsabilidade quando aceitou comandar o longa. “Pensei comigo, essa é uma história que eu gostaria de contar, deste homem que tinha uma trajetória pessoal muito parecida com a de um herói. No início me veio à mente: ‘mas ninguém tinha feito um filme sobre ele?’. Tem diversos filmes sobre Tiradentes, até sobre independência ou morte, e nenhum sobre Gama. Então ele surge desta vontade de conectar as pessoas em uma ponte com a pesquisa histórica de sua vida. Esta não é uma obra definitiva sobre Gama; sua história pode ser, e espero que seja, desdobrada em muitas outras obras”, disse em entrevista coletiva.

Um filme sobre Gama é mais que uma homenagem à vida dele. É resgatar uma história que pouco conhecemos, mas que sem a qual talvez não tivéssemos avançado até aqui como sociedade. Então, por que não investir em mais produções como essa? O próprio diretor de Gama já se dedicou a desenvolver o filme Carolina (2003), sobre a escritora Carolina Maria de Jesus. Precisamos de mais filmes como estes para conhecer a realidade do nosso passado e os nomes que fizeram diferença na história do país.

Somente retratar as histórias dessas pessoas, entretanto, não basta. É preciso que haja diversidade do outro lado da câmera, como lembra a atriz Mariana Nunes, que interpretou Claudina, mulher de Gama.

“Precisamos de mais mistura nas equipes do audiovisual. Falamos muito sobre diversidade, e as pessoas confundem diversidade com cota. Elas não pensam em lugares de direção, de chefia, para além da diversidade, na inclusão. É necessário trazer o diverso e proporcionar condições para que ele seja pleno neste local”, disse ela.

O cinema tem responsabilidades quando se trata de narrativas e justiça social, mas é da educação básica que deveria vir toda a base para que as pessoas, ao menos, conhecessem a história do próprio país. Os atores do filme contaram que nem sequer tinham ouvido falar de Gama na escola ou na faculdade, por exemplo. Conhecer a vida de personalidades negras brasileiras deveria ser comum, já que a história branca sempre é contada. Então, quando Doutor Gama cumpre esse papel social que deveria ser do Estado, ele se mostra uma produção revolucionária.

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