Eike - Tudo ou Nada

Créditos da imagem: Desirée do Valle

Filmes

Entrevista

“A gente não tá julgando se é bom ou ruim”, diz produtor de Eike - Tudo ou Nada

Diretores Dida Andrade e Andradina Azevedo, produtor Tiago Rezende e o ator Nelson Freitas conversaram com o Omelete sobre contar a história de Eike Batista

Omelete
5 min de leitura
21.09.2022, às 10H17.

Eike Batista é um nome de estranho fascínio no imaginário nacional. Embora afastado dos holofotes nos dias de hoje, com o site pessoal carregando um simbólico “aguarde” abaixo de seu nome em caixa alta, o empresário por anos serviu tanto de exemplo quanto objeto de polêmica nos tabloides. A personalidade exacerbada impulsionava tudo, sobretudo durante o momento em que ele entrou pro top 10 da Forbes de nomes mais ricos do planeta, mas aparecia nas pequenas coisas, a exemplo da atitude recorrente de publicar no Twitter com textos em letra maiúscula.

Esse interesse pelo executivo segue aceso nos dias de hoje, ainda que a trajetória meteórica da OGX tenha concluído de forma trágica há nove anos, quando entrou com pedido de recuperação judicial e começou seu processo de desmantelamento e absorção por terceiros. Casos não faltam, sobretudo na vida pessoal de Eike, desde a relação difícil com a trajetória de enorme sucesso do pai, Eliezer Batista, ao tumultuado casamento com Luma de Oliveira no começo dos anos 2000 - até o filho Thor acumula uma ficha de manchetes próprias.

Todo o sensacionalismo tem sua parte de interesse, mas não explica muito da jornada do executivo nos negócios. Essa percepção norteia Eike - Tudo ou Nada, cinebiografia baseada no livro homônimo de Malu Gaspar que chega esta semana aos cinemas brasileiros e trabalha a figura do protagonista quase que exclusivamente pela trajetória da OGX, do entusiasmo com o leilão e a exploração do pré-sal nas costas do país em 2006 às prisões em idos de 2017.

Aos olhos do produtor Tiago Rezende, essa decisão se deve sobretudo à maleabilidade da figura de Eike, ao qual se refere do princípio como um personagem não óbvio - e o quanto isso passa por sua mentalidade empresarial. “Eu estou há cinco anos estudando ele, baseado no livro da Malu, e ainda não tenho um raio X do que ele é”, comenta ao Omelete; “O quanto de ingenuidade ele tem, o quanto de magia, o quanto de burrice, o quanto de genialidade… é um desafio encontrar o tom certo em um personagem controverso”.

Eike - Tudo ou Nada
Desirée do Valle

Diretores e roteiristas do filme, Dida Andrade e Andradina Azevedo corroboram essa informação no campo prático. “É um desafio colocar a história dele dentro de um recorte de filme, porque é claro que a vida dele caberia numa série de três temporadas” explica Azevedo, que ainda afirma que a decisão maior foi fazer um recorte que refletisse o momento do país: “Quando ele entra no petróleo, o Brasil estava vivendo um momento de euforia com o pré-sal. Isso nos interessava muito, então foi um trabalho de o que contar e o que recortar a partir disso”.

Apesar da atenção maior aos fatos por trás da ascensão e queda da OGX no mercado, os diretores não se seguraram de brincar com os fatos da estranha vida pessoal. O mais chamativo nesse momento é sem dúvidas a participação simbólica de Carol Castro como Luma de Oliveira em um momento onírico - “felliniano” segundo Azevedo - mas vale também para as rápidas aparições de um jovem Eike em trajes de natação, uma imagem que abre o filme e retorna ao longo da narrativa.

Segundo Dida Andrade, essas inserções ajudam a moldar a produção: “A gente tem um direcionamento da história, que é o começo, o meio e o fim, e tem as imagens que vão ficar marcadas na cabeça do espectador. Essas imagens são os momentos oníricos, que a gente espera que fiquem marcadas por décadas na cabeça, cenas que a gente olha e pensa ‘Essa é uma imagem forte’”. Além de Fellini, o diretor ainda cita o filme The Wall, baseado no disco homônimo do Pink Floyd, como exemplo que os criativos tomaram emprestado alguns conceitos para fabricar essa visão.

Reflexo do real

Enquanto a orquestra trabalha nesse equilíbrio entre sintetizar e expandir as impressões do público sobre a figura de Eike, Nelson Freitas preferiu encarar a missão de interpretar o empresário pela ótica da verossimilhança. “É desafiador fazer uma pessoa que existe no presente momento”, explica o ator na entrevista; “Eu sou um ator de muita composição, passei tanto tempo no Zorra Total que aprendi a gostar de compor personagens, mas aqui não tinha muito o que inventar, ele é contemporâneo”.

Eike - Tudo ou Nada
Desirée do Valle

O ator brinca que achou uma loucura quando a produção de Tudo ou Nada fez o convite - tanto ele quanto Rezende confirmam que a ideia veio da diretora de elenco Ciça Castello - mas no curso da conversa revela o grau de investimento que teve para compreender e viver a figura de Eike nas telonas. “Ele foi sendo deixado pelas pessoas, mas mesmo com todos os avisos ele vivia de inventar novas ideias”, diz Freitas sobre o período dos últimos anos da empresa; “De acordo com o livro, ele passou por depressões profundas, passava duas semanas sem aparecer no escritório e de repente aparecia com energia pra fazer uma novidade astronômica com um fundo milionário, como se fosse levantar os negócios de verdade”.

A grande pergunta, agora, é saber como Eike deve reagir ao filme. “É mais uma curiosidade que uma expectativa”, diz Tiago Rezende sobre o tema, ao qual ressalta que a produção teve autonomia completa para decidir como contar a história do executivo. “A gente não tá julgando se é bom ou ruim simplesmente, mas contando os fatos de acordo com nosso olhar”. Já Dida Andrade é mais lúdico com o pensamento: “Eu imagino que ele vai ficar bem chateado e pensar algo como ‘Pô, como não contaram que eu descobri a maior mina de prata da América Latina, que eu fui campeão mundial de corrida de lancha’, ou que não falamos do novo empreendimento dele”.

Eike - Tudo ou Nada estreia nos cinemas brasileiros nesta quinta-feira, 22 de setembro.

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