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Entrevista

Castelo de Areia | “Me atraiu contar a história de um soldado que não é herói", diz Fernando Coimbra

Filme sobre guerra no Iraque é o primeiro longa da Netflix dirigido por um brasileiro

20.04.2017, às 20H19.
Atualizada em 20.04.2017, ÀS 21H03

O próximo filme sobre a guerra do Iraque que será visto por espectadores do mundo inteiro terá a assinatura de um brasileiro. O paulista Fernando Coimbra, conhecido pelo longa O Lobo Atrás da Porta, dirige Castelo de Areia, coprodução entre EUA e Inglaterra que estreia dia 21 de abril pela Netflix. Com Nicholas Hoult (X-Men), Luke Evans (A Bela e a Fera), Henry Cavill (Batman vs Superman) e Glen Powell (Estrelas Além Do Tempo) no elenco, a trama gira em torno de Matt Ocre (Hoult), um militar que, durante a guerra do Iraque em 2003, integra uma missão para consertar um sistema de água quebrado na instável vila de Baquba. O problema é que os moradores do local são contrários à presença dos americanos e Matt tenta convencer a comunidade que eles estão no local para ajudar.

Coimbra, que já dirigiu quatro episódios de Narcos, é o primeiro cineasta brasileiro a comandar um longa para a Netflix. O filme tem o roteiro de Chris Roessner e é baseado em sua experiência pessoal durante a guerra, quando atuou no Triângulo Sunita do Iraque. Em entrevista ao Omelete, o diretor contou que Castelo de Areia chegou até ele através da repercussão de O Lobo Atrás da Porta, longa que estreou no Festival de Toronto de 2013 e atraiu olhares significativos de agentes do mercado norte-americano. Em junho de 2015, recebeu a proposta de pegar a diração do filme da Netflix já no segundo semestre daquele ano. “Me atraiu muito contar a história de um soldado nessa guerra que não é um herói e que não traz aquela visão que a maior parte desses filmes sobre o Iraque tem, a visão americana de que o exército americano é a polícia do mundo”.

O diretor, que nunca havia pisado no Oriente Médio, passou quatro meses na Jordânia em função do longa, trabalhando com uma equipe composta por boa parte de moradores da região. A vivência ajudou a consolidar a perspectiva de Coimbra de que o filme, apesar de ter a guerra como pano de fundo, é mais sobre os visões de mundo dissonantes do que sobre conflitos bélicos. Além das experiências inéditas na Jordânia, o diretor precisou entrar na cabeça dos soldados norte-americanos e entender também o ponto de vista deles para evitar que a trama tomasse rumos demasiadamente maniqueístas.

Do mesmo modo que abriu a mente para tentar compreender de algum modo o olhar dos soldados dos EUA, Coimbra conta que fez questão de dar espaço para que a narrativa iraquiana fosse tão humanizada quanto a outra. "Algo que eu fiz questão nesse filme foi ter a visão do americano e do iraquiano no mesmo nível, e não o iraquiano como terrorista ou subdesenvolvido. É uma coisa que me irrita na maior parte dos filmes americanos sobre a guerra do Iraque, ver que o personagem iraquiano nem chega a se construir como uma pessoa direito".

Coimbra conta que fugir da glamourização da guerra foi algo que definitivamente o fez se apaixonar pelo projeto. O diretor define o filme como a jornada psicológica de um homem empurrado em um conflito com o qual ele não se identifica, mas que acaba mudando profundamente sua forma de ver o mundo. "O fundamental para mim é o choque entre um discurso de liberdade que motiva os soldados e a real motivação dessa guerra, que é econômica, corporativista, neoliberalista, que não tem nenhuma relação com liberdade. Eu li muitos relatos de soldados que foram para o Iraque dizendo que estavam protegendo a liberdade dos EUA. Para um americano talvez isso faça sentido, mas para um brasileiro, por exemplo, não faz nenhum. A pessoa sai do país dela, intacto, para destruir outro sob o pretexto de uma liberdade ameaçada. O que ela está fazendo, de certa forma, é destruir a liberdade do outro".

Embora o filme seja baseado nas experiências do roteirista, a história da estação de água bombardeada pelos americanos não aconteceu de fato, ainda que Roessner tenha presenciado situações semelhantes. Em O Lobo Atrás da Porta, o diretor também parte de experiências reais para construir livremente sua própria trama. "Acho que a realidade é mais surpreendente que a ficção. O Lobo não é uma adaptação, é livremente inspirado, mas lendo sobre a história real eu vi coisas que eu jamais pensaria escrevendo ficção, que surpreendiam pelo nível de complexidade do ser humano. Castelo de Areia é uma história de guerra, de extremos, de algo que foge completamente da rotina" e completa: "eu não sou fascinado por guerra, mas sou fascinado por histórias, por experiências e por personagens".

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