Filmes

Entrevista

"Meus filmes ajudaram as lentes do mercado de cinema a se virarem para o Ceará", diz Halder Gomes

Diretor fala ao Omelete sobre projetos futuros e mercado brasileiro

09.04.2018, às 09H32.
Atualizada em 13.04.2018, ÀS 03H04

Cinco anos atrás, quando Cine Holliúdy, uma comédia de costumes de orçamento microscópico, falada em cearencês, chegou ao circuito, ninguém podia esperar que ela iria se tornar um fenômeno popular e, menos ainda, antever que sua premissa ainda renderia um seriado de TV e uma continuação para as telonas. Mas tudo isso virou realidade na vida do diretor Halder Gomes, hoje um dos pilares do Ceará na indústria do audiovisual. Tem uma “parte dois” em finalização para sair no segundo semestre, batizada de A Chibata Sideral, com Edmilson Filho retomando papel do exibidor de filmes Francisgleydisson. E há um seriado para a TV Globo no forno. Nesta conversa com o Omelete, Gomes, que fechou o ano de 2017 com um blockbuster inesperado – Os Parças -, fala sobre o sucesso e seus novos caminhos de criação.

Jarrod Bryant

Omelete: Para quando nós podemos esperar a parte dois das aventuras de seu herói, o Francisgleydisson? O que ele vai enfrentar em seu novo filme?

Halder Gomes:  Cine Holliúdy 2 - A Chibata Sideral, já está filmado e finalizado. Deve estrear no segundo semestre de 2018. A batalha contra a TV foi perdida e, desta vez, Francisgleydisson e sua família vão ter que virar realizadores pra não deixar de lado a paixão pelo cinema. Francisgleydisson vai produzir e dirigir um sci-fi, inspirado numa série de abduções na pacata cidade de Pacatuba, interior do Ceará. Desta vez o filme se passa em 1980.

Omelete: Quais serão as aventuras dele no seriado de TV da Globo? Pra quando é projeto Cine Holliúdy – A Série?

Halder Gomes:  A série tem uma linda e divertidíssima proposta de metalinguagem de cinema, pois cada episódio dialoga com um gênero. Em meio a estes gêneros, Francisgleydisson e os demais personagens se verão intrincados em tramas com lutadores, vampiros, aliens, western, filmes bíblicos, política, etc. É um universo muito lúdico, fantástico e riquíssimo da essência da comédia original que inspirou a série.

Omelete: O que você aprendeu sobre cinema nacional durante o processo de filmagem desta franquia que Cine Holliúdy virou?

Halder Gomes:  Foi um grande desafio, pois tínhamos dez episódios complexos de realizar, numa equivalência de filmar três longas metragens no prazo de um ano e meio. É um ritmo intenso, mas tendo que manter o capricho artesanal para ter o cuidado e o look de cinema. É um grande desafio de produção e direção, por exemplo, filmar em um único dia cenas de quatro episódios distintos. Além do mais, foi uma grande troca de aprendizado de universos e ritmos distintos (cinema e tv), e um simbiótico intercâmbio entre escolas diferentes de atores, produção e direção. Tive a honra e a benção de ter uma parceira sublime, Patrícia Pedrosa (que assina a direção geral), junto comigo em toda jornada. Daqueles trabalhos que se formam lindas e abençoadas parcerias.

Omelete: Há uma pergunta que permeia toda a franquia Cine Holliúdy que você já pode responder: qual é a maior dificuldade de se fazer cinema no Brasil hoje?

Halder Gomes:  Vejo pelo lado contrário. Vejo pelas facilidades de fazer cinema no país, se comparado a maioria dos países que produzem sistematicamente conteúdo de cinema. Dispomos de uma Agência de Cinema (ANCINE) que, além de disponibilizar inúmeras linhas de produção vai editais e FSA (Fundo Setorial do Audiovisual) para todos os perfis de realizadores, prospecta novas janelas para a nossa produção. Um exemplo é a Lei que obriga as tvs fechadas estrangeiras exibirem e produzir conteúdo nacional pra suas grandes. Isso, entre outras ações, revolucionaram a nossa produção. Vejo essa dificuldade mais pelo aspecto da limitação de salas de cinema per capita no país do que pela questão da produção.

Omelete: Como ficou o projeto O Shaolim do Sertão 2? E como fica o futuro de Os Parças? O que este filme trouxe de lição pra vc? Foram quantos espectadores?

Halder Gomes:  O Shaolin do Sertão 2 já está sendo escrito por L.G. Bayão. Ele também escreveu O Shaolin do Sertão e Cine Holliúdy 2 - A Chibata Sideral. Pretendemos filmar no segundo semestre de 2019. Os Parças 2 também já tem o aceno de se produzir a sequência, mas é preciso encontrar uma janela capaz de alinhar as intrincadas agendas de direção e elenco. Mas já há uma luz no horizonte, possivelmente no fim do ano. O filme Os Parças trouxe mais uma afirmação do que lição para minha carreira. Trouxe a afirmação do potencial da comédia popular bem executada e com pitadas regionais de identificação de um povo e uma cultura - no caso, os nordestinos. O filme encerrou sua carreira com 1.620.000 espectadores, com um lançamento inicial de apenas 247 salas. São números absolutos (no Nordeste bateu Star Wars em números totais) e médias fenomenais (a maior do país em 2017). Pra mim foi a afirmação de um trabalho e a recompensa pela devoção a cada projeto, pois junto com o Cine Holliúdy e O Shaolin do Sertão, fechou-se uma bem sucedida trajetória de 3 sucessos/cases/fenômenos de bilheteria seguidos. Algo muito raro a carreira de um diretor em qualquer lugar e época.

Omelete: Como você avalia a situação do cinema do Ceará hoje?

Halder Gomes:  O cinema no Ceará vive um momento bom diante das políticas de descentralização dos investimentos do Fundo Setorial. Existe uma produção de qualidade ativa e ávida por resultados em circuitos de festivais e comerciais, além da produção de conteúdos televisivos. Estes resultados virão em breve de forma mais sistemática conforme os projetos financiados vão sendo concluídos. Da minha parte, fico muito feliz em ver os resultados comerciais dos meus filmes ajudarem as lentes do mercado se virarem para o Ceará.

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