Filmes

Entrevista

Motorrad | "Bom cinema de gênero precisa ser doido e estranho", diz Vicente Amorim

Cineastas carioca fala sobre o thriller de terror sob duas rodas que estreia nesta quinta (1º)

26.02.2018, às 19H10.

Há uma leva de filmes nacionais de terror, elogiados em festivais no exterior, previstos para estrear em circuito daqui até dezembro e coube a Motorrad - única produção a defender o Brasil na seleção oficial de Toronto (TIFF), em 2017 – puxar esse bonde macabro, sendo o primeiro a entrar em cartaz, nesta quinta (1º).

Filmland International/Divulgação

Elogiado por seu ritmo frenético em sua passagem no TIFF e laureado com o prêmio de melhor filme no Festival Rio Fantastik, o novo longa-metragem de Vicente Amorim (que dirigiu Viggo Mortensen em Um Homem Bom) é um jogo de gato e rato sob duas rodas. Feita com personagens delineados pelo quadrinista Danilo Beyruth, a trama, escrita por L.G. Bayão a partir de uma ideia do proditor L.G. Tubaldini Jr., acompanha o esforço de um grupo de jovens para escapar de uma horda de motoqueiros cujo rosto jamais é visto.

Carla Salle é a mulher misteriosa que vai atrair o jovem Hugo (Guilherme Prates) e seus amigos para uma trilha, num terreno pedregoso, onde o perigo vai do violento à alegria. Na entrevista a seguir, Amorim relata os desafios de se apostar numa narrativa de suspense no cinema brasileiro e relembra os percalços que foi filmar na Serra da Canastra, em MG.

Omelete: Por que é tão difícil fazer o dito "cinema de gênero" no Brasil e de que forma Motorrad desafiou essa dificuldade?
Vicente Amorim: O mainstream no Brasil sempre se dividiu entre filmes realistas e comédias populares. Os produtores e os agentes públicos olhavam com desconfiança para o cinema de gênero, que era encarado como uma curiosidade, na melhor das hipóteses, e não como algo viável, artística ou comercialmente. O outro lado da moeda era o cinema de autor, que, sem ambições comerciais, foi “a” aposta “segura” de duas gerações de cineastas. Para os produtores tradicionais, acostumados com quase um século dividido entre realismo e comédias populares ou o porto seguro do cinema de autor, cinema de gênero era doido, estranho e caro. Tentei durante vinte anos fazer um filme de gênero, sem que nenhum produtor topasse. Os produtores tradicionais não estavam totalmente errados: bom cinema de gênero precisa ser mesmo doido e estranho e os produtores brasileiros são caretas demais. Mas não precisa mais ser tão caro, como provamos com o Motorrad. Precisa, sim, de um bom conceito, talento, garra e entrega.

Qual foi o maior desafio técnico das filmagens?
Os desafios “naturais”: frio, calor, chuva, distância. Fazer ação nessas condições é muito difícil. Só a equipe mais bad-ass do cinema brasileiro consegue.

Qual foi a contribuição mais significativa do quadriniista Danilo Beyruth para a narrativa de Motorrad?
Além da criação dos personagens, ele ajudou na supervisão do tom geral do filme.

O que a experiência deste filme te ensinou sobre os dispositivos do medo, seja como terror ou como thriller psicológico?
Medo precisa ser estabelecido da forma mais bruta, logo de cara. Depois, é preciso trabalhar com a expectativa desse precedente, superando-o a cada novo momento do filme.

Como está seu atual projeto?
Este novo filme se chama A Divisão e fala sobre os policiais que combateram a onda de sequestros no Rio de Janeiro nos anos 1990. Foi todo rodado e já está em pós-produção. Será um thriller policial épico, violento e emocionante.

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