Filmes

Entrevista

"Veneza é um filme da minha maturidade", diz Miguel Falabella

Carmen Maura estrela filme baseado em peça da Argentina

09.02.2018, às 13H59.

Primeira escola de samba do Grupo Especial do Carnaval do Rio de Janeiro a desfilar na segunda-feira (12), a Unidos da Tijuca terá como enredo a trajetória de sucessos do ator, autor, diretor teatral e, agora, mais um vez, cineasta Miguel Falabella, que a partir do 12 de março começa as filmagens de Veneza, com a espanhola Carmen Maura como protagonista. Há dez anos, o criador da série da TV Globo Brasil a Bordo (atualmente no ar, às terças-feiras) estreou como cineasta em Polaróides Urbanas (2008), dirigindo Marília Pêra. Agora ele a atriz querida por Pedro Almodóvar: aos 72 anos, Carmen estrelou cults como Mulheres À Beira de Um Ataque de Nervos (1988) e Maus Hábitos (1983). É dela o papel de Gringa, uma antiga garota de programa que virou dona de um prostíbulo – hoje em crise.

Divulgação/TV Globo

“Trabalho muito na Argentina, nos teatros de lá, onde já montaram várias peças que escrevi, e pensei em ter a Norma Aleandro no papel da Gringa. Mas ela me admitiu que seus 82 anos já não são tão saudáveis e que eu deveria ter outra atriz. Foi ela quem sugeriu a Carmen. Elas têm o mesmo agente. Eu mandei o roteiro pra Carmen sem ter esperanças. Imagina trabalhar com uma estrela internacional daquelas. O roteiro chegou pra ela numa quinta. Segunda ela me ligou, dizendo: ‘El guijón es brillante. Quiero hacerlo’. Imagina a minha alegria”, diz Falabella, que sorri de orelha a orelha ao falar sobre a homenagem na Sapucaí. “Esbarrei com o Ziraldo outro dia ele me disse que ser homenageado por uma escola de samba tem, no Brasil, o mesmo efeito que, na Europa, é receber o título de sir”.

Produzido por Julio Uchôa (de Soundtrack), com locações em Quissamã (RJ), no Teatro Municipal carioca e na cidade italiana de onde toma seu título emprestado, o projeto é uma adaptação da peça teatral homônima do argentino Jorge Accame. “Fiz algumas adaptações: criei, por exemplo, uma trama paralela sobre uma garota de programa que se apaixona por um rapaz que sonha ser trans e tem ereção quando se veste de mulher”, diz Falabella.

Em seu roteiro, Gringa é uma cafetina destinada a quitar suas dívidas com um amor do passado, regressando à Itália onde desapontou (e roubou) seu amado. Mas esse regresso se dará de maneira fabular. Quando era prostituta, ela viveu um grande amor com um italiano, mas roubou o que podia dele para abrir seu próprio bordel. Agora, mais velha, doente e cega, suas “meninas” e um fiel cliente e colaborador, Tonho (papel dado ao ator Eduardo Moscovis), vão ajudá-la a retornar a Veneza. Dinheiro para passagens ninguém tem: mas imaginação não falta a Tonho e às garotas de programa do local. Elas vão convencer um circo local a encenar que estão todos na terra das gôndolas.

“Polaroides... foi um exercício para ver se eu sabia dirigir cinema, sem o risco de fazer TV filmada. Já Veneza é mais ambicioso, um filme da minha maturidade. Um filme sobre uma mulher que, na velhice e na cegueira, alcança a lucidez de perceber que foi cruel com o único homem que amou”, diz Falabella, que trouxe de Polaroides Urbanas o fotógrafo Gustavo Hadba (de Faroeste Caboclo). “Ele é um parceiro de criação e, fora isso, fotógrafo, no cinema, é o cara que tem que estar mais grudado no diretor, pois ele é o cara que traduz tudo o que você pensa em imagens. E este filme não é realista: a vida das personagens é desgraçada, mas eu não olho pra elas desgraçadamente”.

Na conceituação visual do projeto com Hadba e o diretor de arte Tulé Peak, Veneza será uma fábula desde a abertura, como se fosse Peixe Grande, do Tim Burton. “Eu tenho muito de Fellini, o que já ajuda. E uso como referência as cores usadas pelo diretor Luchino Visconti em Senso – A Sedução da Carne”, diz Falabella, que já tem planos para filmar a peça O Som e a Sílaba, num projeto já roteirizado, para trabalhar após a experiência com Carmen Maura. “Quero que Veneza seja um projeto para ser visto fora do Brasil. Eu me aproximo dos espanhóis e dos argentinos porque somos todos irmanados na tragédia da América Latina. Os espanhóis colonizaram os países latinos. Tem uma cena do filme em que há uma jukebox, trazida pelo personagem do Du Moscovis de um cassino do Paraguai. Na jukebox tem vinis com músicas antigas, boleros... Essa coisa do bolero está em mim e com ela quero fazer um filme lindo”.

Uma cena em especial comove Falabella: “Há um momento no roteiro em que as prostitutas de Gringa procuram localizar Veneza num mapa mundi”, conta o diretor. “Ao abrir o Atlas, elas dizem, emocionadas: ‘Puxa, mas como o mundo é colorido’. O que eu mais quero, com este filme, é que ninguém saia dos cinemas com os olhos secos. Quero choro”.

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