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![]() Richard Dreyfuss |
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![]() Josh Lucas e Dreyfuss |
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![]() Destruição impressionante |
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![]() Mia Maestro, "uma coisa" |
Richard Dreyfuss, de Tubarão, Contatos imediatos do terceiro grau e A garota do adeus (filme pelo qual ele ganhou o Oscar em 1977), anunciou sua aposentadoria alguns anos atrás e sumiu do mapa. Mas surpreendeu a indústria no ano passado ao aceitar o convite de Wolfgang Petersen para participar de Poseidon, refilmagem contemporânea do filme-catástrofe de 1972.
No drama ele interpreta o arquiteto gay Nelson, um homem à beira do suicídio que revê sua vida ao avistar a onda gigante que tombará o navio.
Entrevistei o brincalhão e simpaticíssimo ator pelo telefone e assim que atendi a chamada fui bombardeado por perguntas. Parecia até que ele era o entrevistador.
Richard Dreyfuss: Alô. Quem é?
Omelete: Érico Borgo, do site Omelete...
Sobre o que vocês falam?
É um site de cultura pop, falamos sobre cinema, quadrinhos, videogames...
Faz quanto tempo que o site existe?
Er... 6 anos...
São populares?
Sim, muito! 150 mil leitores diários.
[Nesse momento percebi que teria que cortá-lo ou nosso tempo se esgotaria sem falarmos a respeito do filme...]
De onde você está falando?
Estou em Londres.
E você esteve aí durante esses últimos anos em que esteve afastado da mídia?
Andei por aqui, estudando, desenvolvendo documentários, lecionando... coisas assim.
E o que fez com que você voltasse ao cinema?
Dinheiro!
Ah! Ahaha, é um ótimo motivo. Então é você o responsável pelo custo de 160 milhões de dólares de Poseidon?
Ahahaha, sim. O cheque é todo meu. Sério, foi uma ótima oferta salarial e eu não costumo receber muitas delas. Eu também precisava do dinheiro e pensei "essa é uma boa oportunidade de realizar um bom projeto por um bom salário". Quer dizer, é mais ou menos pelos mesmos motivos que as pessoas vão trabalhar, não? ehehehehe
É assim que deveria funcionar, pelo menos. Eu li em algum lugar que você se machucou durante as filmagens, é verdade? O que aconteceu?
Na verdade eu fui o primeiro a me ferir. Machuquei as costas logo na primeira semana, mas me recuperei e continuei trabalhando. Mas todo mundo se machucou. Ossos se quebraram, tivemos lacerações, sangramentos...
Um set violento então?
Sim, todo mundo ficou bem detonado nesse filme.
Seu personagem, o Nelson, está prestes a se suicidar quando vê a onda e pára. Em que ele pensava nesse momento?
AHAHAHAHAHAHA, em muito pouco! Hahahahahahahaha. Quer dizer, se você vê um trem vindo em sua direção a 200 km por hora realmente não tem tempo de pensar em muita coisa... você só grita WAAAAAAA e corre dali. Não dá pra parar e pensar: "essa é uma excelente oportunidade pra eu me matar, é só me jogar dentro da onda gigante". Mas, falando sério, a pessoa que está tentando cometer suicídio quer controlar a própria morte. Quando essa onda monstro aparece no horizonte e vai matar a todos no meio do Atlântico, o impulso é avisar os outros. Achei perfeito e bastante razoável o fato dele não se atirar no mar naquele momento e ir salvar os demais.
Você vê isso como um ato de heroísmo?
Eu vejo isso como um ato humano. É isso que as pessoas fazem em catástrofes ou na guerra: o mal necessário, o bem desagradável. Se pensarmos bem ele não tinha a menor chance naquela situação. Ele faz o que tinha que fazer. Buscar a moral nisso é algo que só acontece mesmo nos filmes. O seu pai ou mãe ou avós ou qualquer um da sua família deve ter passado em algum momento de suas vidas por uma guerra e ter feito coisas notáveis, não porque eles quiseram, mas porque é isso que se faz numa guerra, você tenta salvar sua vida. Isso não torna você bom ou mau.
Eu vejo o Nelson como a antítese do Roy Neary, de Contatos imediatos do terceiro grau, porque ele pularia na onda só pra ver como era.
AHAHAHAHA. Não... ele provavelmente correria como o Nelson. Sabe, o que você faz no momento da catástrofe, aquele momento em que a razão inexiste e que a lógica não funciona, aquilo não é o que Roy Neary faz. Ele perseguiria a coisa com convicção, com paixão e passaria um longo tempo tentando entendê-la.
Por falar em Contatos Imediatos, você revê seus filmes passados?
Ah... você relê seus textos antigos?
Putz, eu tenho certa vergonha deles...
Eu digo isso sempre à minha filha. Não fiz os meus filmes para que eu os assistisse. Fiz para que ela pudesse vê-los.
Você tem algum favorito entre eles?
Não, não... tenho um monte. Gosto de todos menos de uns quatro ou cinco. Mas essa lista eu levarei para o túmulo...
Voltemos ao Poseidon. Quanto de tela azul foi usado naquela cena impressionante que mostra o navio emborcando? Ou aquilo foi através de miniaturas? É tão perfeita...
Nada de miniaturas! Não usamos em momento algum. O que Hollywood faz melhor é justamente essa coisa dos efeitos especiais e é por isso que as pessoas vão ver os filmes. Eles estão melhores do que nunca nisso. É excitante como eles criam essa magia.
E como você, como ator, sente a diferença entre a tecnologia de hoje e seus filmes antigos?
Bom, o tubarão quebrou um monte de vezes [ele refere-se, claro, ao clássico Tubarão de Steve Spielberg]... mas os atores estão sempre trabalham com o faz-de-conta. Temos que imaginar que uma nave está sobre nós, que um tubarão está atacando e esquecer que as pessoas verão aqui tudo na tela. Atuar é basicamente fingir, então não faz muita diferença pra nós a tecnologia... a não ser que eles comecem a animar totalmente os atores por computação gráfica, ahahahaha.
Quais são seus planos no momento? Voltar à sua aposentadoria?
No momento eu estou estudando na universidade de Oxford, aprendendo a lecionar. Eu realmente gosto de História, de lecionar História. É um hobby meu.
E você não pensa em fazer um pouco mais de dinheiro em Hollywood antes disso?
Sabe, tentei fazer isso durante um bom tempo, mas o que aconteceu é que acabei trabalhando demais e meus cheques diminuíram. Então percebi que não estava indo a lugar algum e mandei tudo pro inferno. Eu adoraria ser rico e ter cheques gordos, mas como isso não estava acontecendo, preferi ir fazer as coisas que mais amava no momento em vez de continuar algo que eu já tinha feito - e que vinha fazendo há 40 anos. Agora também estou fascinado com essa coisa toda da Internet, essa coisa que você faz.
Isso explica o interrogatório do começo da conversa.
Sim, quero entender os fenômenos de popularidade na internet, como as pessoas escolhem seus sites. A tecnologia e a interatividade também me atraem. Seu site é interativo?
Confesso que não. Mas estamos querendo mudar isso futuramente.
É algo fascinante. É o que diferencia a mídia da televisão, por exemplo, e o verdadeiro valor da internet. Como a Wikipedia...
[Nesso ponto, Dreyfuss deu um salto temático - o qual ainda estou tentando entender - e perguntou de sopetão:]
Tenho uma ótima amiga no Brasil, Sônia Braga. Você a conhece?
Claro! Ela é famosa aqui, mas anda sumida. Tem feito umas pontas em seriados dos EUA, como C.S.I., pelo menos acho que foi C.S.I....
Estivemos juntos no Rio de Janeiro. [Dreyfuss e Braga trabalharam juntos em Luar Sobre Parador em 1988]
Vocês conversam com freqüência?
Já faz alguns anos que não nos falamos, mas sim, mantivemos contato. Ela é uma mulher maravilhosa e tem muita classe.
Você gostaria de voltar ao Brasil?
Sim! Nunca mais consegui comer uma feijoada decente!
Ah, você gosta de feijoada?
"Oh boy!" Especialmente se puder ver ao fundo as garotas na praia com aquele visual delas.
Ahahahaha, por falar em garotas, como foi atuar no set de Poseidon, repleto de atrizes ensopadas? Era um enorme concurso de camiseta molhada?
AHAHAHAHAHAHA, na verdade estávamos tão concentrados em não morrer debaixo dágua que era difícil apreciar a vista. Mas, claro, havia a Mia Maestro... ela é uma coisa.
Foi difícil trabalhar naqueles cenários alagados?
Ficar debaixo d´água não era o problema pra mim. Eu sei nadar e gosto. O problema era escalar, chutar, socar, rastejar, cair, chutar, socar... isso que me perturbou um pouco. Mas não tenho medo de água.
Tem medo de quê?
Provavelmente de ser enterrado vivo ou de pegar fogo. Quero morrer rápido, sabe? Ser atropelado por um ônibus depois de ter feito amor.
Parece um bom modo de morrer. Última pergunta: onde está o seu Oscar?
Em cima da geladeira.
Faltam pingüins aí em Londres então?
Pingüins?!
É. Era mania no Brasil ter pingüins de porcelana em cima da geladeira até uns anos atrás.
Eu não fazia... a menor idéia...
Muito obrigado pelo seu tempo e pela agradável entrevista.
Obrigado! E diga aos seus leitores para irem ver o filme.
Pode deixar. Caros, Omelenautas: vão ver o filme! Estréia nesta sexta, dia 23 de junho no Brasil ;-)
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