Depois de encerrar o Festival de Veneza, Outrage Coda, desfecho da trilogia Ultraje do japonês Takeshi Kitano, chega à Mostra de São Paulo. Ao Omelete, o ator e cineasta falou durante o Festival de Cannes 2017 sobre o fim da saga que ele protagoniza sobre as disputas de cobiça e honra dentro da Yakuza.
"Tentei seguir um caminho mais contemplativo, menos pop em minha produção, filmando dramas existenciais, como Dolls, e todo mundo que reclamava da brutalidade dos meus filmes anteriores sentiu falta do meu estilo violento", brinca Kitano sobre o tom de Ultraje Coda, continuação de Outrage (2010), que disputou a Palma de Ouro em Cannes, e Outrage Beyond, saiu em 2013.
A trama do terceiro filme volta a envolver Otomo (Kitano), um dos "gerentes" de uma célula da Yakuza envolvida numa disputa de poder com quadrilhas rivais. Ele agora trabalha na Coreia do Sul, mas a morte de um dos seus capangas - assassinado por um mafioso que espancou duas prostitutas de Otomo - o leva de volta ao Japão. "Falar de máfia é falar de honra. É entender a institucionalização da exceção", diz Kitano. "Criar cenas de ação depende de um atento corpo a corpo com o tempo: o que mais interessa não é o grafismo do sangue e sim a tensão que a espera e o inusitado geram em nós."
A filmografia de Kitano como realizador é marcada por exercícios de flerte com a violência, como em Adrenalina Máxima (1993). Ganhador do Leão de Ouro do Festival de Veneza por Hana-Bi – Fogos de Artifício em 1997, ele recentemente participou da versão americana de Ghost in the Shell. "É importante desafiar a seriedade quando se filma: a ironia é um caminho para o distanciamento e a lucidez", filosofa o cineasta.
