Realizador de Cidadão Kane (1941), produção considerada por muitos o maior filme de todos os tempos, Orson Welles morreu em 1985 deixando como herança a seus fãs um longa-metragem inacabado, o drama The Other Side Of The Wind, que, finalmente, foi concluído. Sob os cuidados do biógrafo do cineasta, o diretor Peter Bogdanovich, que atua neste projeto encarado há décadas por Hollywood como uma lenda urbana, a produção pode ser lançada no segundo semestre, pela Netflix.
Antes, o projeto, rodado a duras penas entre 1970 e 76, tendo como protagonista John Houston - uma lenda da direção em Hollywood, conhecido por cults como O Falcão Maltês, de 1941. A trama narra o regresso de um cineasta polêmico, que, após anos de exílio na Europa, decide filmar um projeto complexo para os padrões dos anos 1970.
"Pode ser que a gente vá a Toronto também e a outros festivais. Foi difícil conseguir o dinheiro necessário para finalizar o projeto, mas arrumamos cerca de US$ 5 milhões para concluir a edição a partir do material que Orson deixou. Ele deixou cerca de 45 minutos montado, mas, como brigou com os produtores ao fim das filmagens, nos anos 1970, deixou muita coisa a ser editada", disse Bogdanovich ao Omelete. "É impressionante, contudo, ver como é precioso o trabalho de direção de Welles e perceber como Houston está à vontade como ator. Comecei a fazer ficções há 50 anos, com Na Mira Da Morte, com Boris Karloff, inspirado no que aprendi vendo grandes diretores como Orson".
Realizador de um marco dos anos 1970, A Última Sessão de Cinema, Bogdanovich fez parte do elenco de The Other Side Of The Wind, assumindo o segundo personagem mais importante da trama, o diretor Brooks Otterlake. "Olhando o que fizemos, até que eu estou bem em cena, pois Orson dirigia atores como ninguém", brinca o diretor, que em 1992 lançou o livro Este É Orson Welles, com suas conversas com o realizador que, além de Cidadão Kane, entrou para a história por longas como Soberba (1942) e A Dama de Shanghai (1947). "Sempre estive mais perto dos diretores do passado do que de meus pares de direção dos anos 70, não apenas por meu amor pelo cinema, mas pela preocupação de fazer com que as gerações mais jovens pudessem conhecer mestres como Welles, John Ford, Howard Hawks e outros".
Bogdanovich cuidou da finalização de The Other Side Of The Wind com o apoio da viúva de Welles, a croata Oja Kodar, coautora do roteiro desta saga cinéfila. No roteiro de Welles e de Kodar, Jake Hannaford (Houston), diretor famoso por seu temperamento explosivo, passou anos na Europa, avessos aos trâmites de seus conterrâneos dos EUA nos estúdios. Cansado de sua estada europeia, ele volta aos sets a fim de rodar um longa chamado O Outro Lado do Vento, que promete devassar a indústria. Além de Houston, outros diretores como Cameron Crowe, Claude Chabrol, Dennis Hopper (que também era ator) e Paul Mazursky atuam no filme, ao lado de atrizes como Mercedes McCambridge e Natalie Wood.
Welles levou para o projeto suas experiências pessoais em embates com produtores e estúdios de Hollywood. Um dos aliados de Bogdanovich no resgate do longa foi o produtor Frank Marshall (Aracnofobia), um parceiro de longa data de Steven Spielberg, para quem produziu a franquia Indiana Jones. Marshall também trabalhou como ator no set de Welles e contribuiu para a busca por recursos para a edição final.
"No meio das filmagens, Orson me chamou um dia e me pediu: ‘Se eu morrer, termina o filme por mim’, com convicção", diz Bogdanovich. "Eu ouvi aquilo surpreso, dizendo: ‘Não diga isso, você ainda vai durar muito. Precisa viver muito’. Mas ele me olhou com uma cara de quem precisava de um alento, precisava ouvir um ‘Sim, eu terminarei este filme’. E só agora consegui cumprir a promessa, trabalhando com Frank no lançamento. Existe por trás deste feito mais do que a importância de preservar a memória de Welles: é o prazer de ver algo inédito dele, cheio de frescor".
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