[O texto abaixo traz spoilers de Free Guy: Assumindo o Controle]
Originalmente um lançamento da 20th Century Fox, Free Guy: Assumindo o Controle chega aos cinemas como a mais nova estreia da 20th Century Studios, nome do lendário estúdio agora que ele pertence à The Walt Disney Company. Só que essa não foi a única mudança que a Casa do Mickey trouxe à mais nova comédia de ação de Ryan Reynolds. Uma boa dose de easter eggs surpreendentes e divertidos, exclusivos às maiores franquias da empresa, dão as caras no terceiro ato do filme. Tratou-se de uma mudança de (quase) última hora que surgiu da fusão entre a aquisição, a criatividade e ousadia do astro canadense e do diretor Shawn Levy, e a flagrante vontade da Disney de dar a uma herança de outro selo uma identidade mais "de casa".
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Quando está perto de conseguir expor o mau caratismo do desenvolvedor de jogos Antwan (Taika Waititi), Guy (Reynolds) é confrontado por uma versão mais musculosa (e inacabada) dele mesmo: Dude. Enquanto apanha mais do que qualquer ser humano aguentaria, o personagem de videogame recorre aos óculos que usa, ferramenta que guarda todos os acessórios disponíveis no game Free City, para acessar um arsenal repleto de referências. De lá, ele tira o canhão sônico Mega Buster, de Mega-Man, um dos machados do game Fortnite, a arma de gravidade de Half-Life 2, bem como a arma de portais de Portal. O mais legal, entretanto, vem do Universo Cinematográfico da Marvel (MCU) e de Star Wars, com o punho do Incrível Hulk, o escudo do Capitão América e o sabre de luz de Anakin Skywalker.
"Nós tivemos essa ideia assim que a Disney comprou a Fox. Ryan e eu pensamos 'como podemos tirar vantagem disso?', e então pensamos em colocar algo da Marvel ou da Lucasfilm na produção. Logo, escrevemos uma carta para Bob Iger, Kevin Feige e Kathleen Kennedy. E a carta basicamente dizia: 'Caros senhores e senhora, vocês possivelmente considerariam nos permitir o uso do escudo do Capitão América, ou dos punhos do Hulk, ou de um sabre de luz? Humildemente, Ryan Reynolds e Shawn Levy'. Para a nossa surpresa, eles responderam que sim. Nós retrucamos: 'Para qual?', e eles disseram: 'Todos'", lembrou Levy em papo com o Collider.
Vídeo promocional de Free Guy apresenta o visual de Ryan Reynolds como Dude.
Só que, não contentes em se valer de alguns dos adereços mais badalados do cinema atual, Reynolds e Levy ainda bolaram uma forma de ter um gostinho ainda maior do MCU em Free Guy. "Chris Evans estava gravando Em Defesa de Jacob em Boston, então Ryan logo pensou: 'Espera. Chris Evans está em Boston'. Ele ligou para Chris e disse: 'Se tivermos uma câmera montada só esperando por você, você pode vir e filmar por 10 minutos só para que façamos uma piada no filme?', e Chris disse que sim. E foi assim que fizemos: tínhamos uma câmera esperando em um restaurante, ele chegou e nós filmamos uma piada", adicionou Levy.
Com esses poucos minutos de fan service em Free Guy, a Disney não só se mostra mais flexível quanto às possibilidades narrativas que a convergência de tantas propriedades icônicas sob uma mesma companhia pode oferecer, como também manda um recado sobre a força e influência crescentes que detém hoje no cenário do entretenimento. Quando foi adquirido pela Casa do Mickey, o filme já estava em produção, sendo ativamente readaptado pelo novo estúdio para ser o carro-chefe das produções "compartilhadas" entre ele a finada Fox.
Assim, mais que uma história original (que se encaminha para ser o nascimento de mais uma franquia original), Free Guy: Assumindo o Controle é um documento e uma mostra do poderio comercial que a Casa do Mickey detém após a sinergia de US$71 bilhões com a 21st Century Fox. Uma guinada que, por bem ou por mal, está só começando a ser plenamente exploradas nas telonas. Deadpool e Korg que o digam.