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Grace de Mônaco | Crítica

Banhado em artificialidade, filme é mais eficiente como propaganda turística do que cinebiografia

29.10.2015, às 21H57.
Atualizada em 04.11.2016, ÀS 00H04

Quando foi exibido no Festival de Cannes do ano passado, Grace de Mônaco (Grace of Monaco, 2014), filme dirigido por Olivier Dahan, diretor responsável por levar antes a vida da cantora Edith Piaf para às telonas, a reação negativa do público serviu como um aviso para aqueles que teriam o desprazer de acompanhar a confusão de objetivos que é o longa, buscando encontrar um balanço entre a vida pessoal da vencedora do Oscar de Melhor Atriz em 1955, Grace Kelly (Nicole Kidman), e os conflitos políticos envolvendo o seu marido, o príncipe de Mônaco, Rainier III (Tim Roth).

Começando com uma frase da própria Kelly, dizendo que "um retrato de sua vida como um conto de fadas seria um conto de fadas por si só", o roteiro de Arash Amel tenta o espectador a esperar um retrato quase lírico da vida da atriz e princesa, cheia de situações beirando o realismo mágico. A chegada dela a uma vida nova na aristocracia europeia e os futuros conflitos políticos, incluindo uma possível guerra, podem causar certo nível de descrença, ainda mais quando o longa aborda o tema de maneira artificial e pouco convincente.

Kelly era conhecida não apenas por seus trabalhos no cinema e na política. O lado humanitário da atriz e sua vontade de reabilitar um hospital abandonado é mais um dos ingredientes da mistura mal explorada criada por Amel. A personagem, como de se esperar, ganha profundidade, porém envolta em artificialidade, transformando uma empatia do público com as causas e objetivos da princesa em uma tarefa difícil.

Artificialidade é um dos fatores mais recorrentes em Grace de Mônaco, passando para a atuação de Kidman, impossibilitada de oferecer um trabalho melhor visto que a maior parte de suas cenas procura desidratar a atriz com lágrimas desnecessárias, fugindo da naturalidade tão característica de seus trabalhos. Roth, vivendo o príncipe e marido de Kelly, e o resto do elenco também são amarrados por um roteiro truncado e uma mão pesada da parte de Dahan.

Uma vez que a beleza do principado é uma das poucas coisas de real substância a serem passadas pelas lentes do diretor de fotografia Eric Gautier, Grace de Mônaco, além da bagunça narrativa, funciona como uma propaganda turística convincente para aqueles interessados em deixar seu país por alguns dias e apreciar as várias paisagens de Mônaco, como fez Hitchcock no começo do longa em sua breve participação.

Quando o filme dá brecha para o lado artístico de Kelly entrar em cena, ele ganha uma sobrevida e até momentos dignos de atenção. Suas conversas com o diretor de obras em que Grace Kelly brilhou, como Janela Indiscreta, e o desejo da atriz de voltar a atuar em Hollywood figuram entre as poucas partes onde o roteiro não apela para o melodrama.

Com uma hora e 40 minutos que mais parecem eternas três horas, Grace de Mônaco é um filme que busca desesperadamente alcançar um objetivo e abranger todas as facetas da impressionante vida de Grace Kelly, mas acaba falhando em sua missão e arrastando o espectador por uma tortuosa viagem melodramática e artificial.

Nota do Crítico
Ruim
Grace de Mônaco
Grace of Monaco
Grace de Mônaco
Grace of Monaco

Ano: 2013

País: França, EUA

Classificação: LIVRE

Duração: 103 min

Direção: Olivier Dahan

Elenco: Nicole Kidman, Milo Ventimiglia, Paz Vega, Tim Roth, Parker Posey, Frank Langella, Derek Jacobi, Geraldine Somerville, Roger Ashton-Griffiths, Nicholas Farrell, Robert Lindsay, Olivier Rabourdin, Pascaline Crêvecoeur, Jeanne Balibar, André Penvern, Flora Nicholson, Yves Jacques, Jérémie Covillault, Philip Delancy, Jean Dell, Guillaume Briat, Nicholas Hawtrey, Alban Casterman, Laurent Jumeaucourt, Ariane Seguillon, Alexandre Pottier

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