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Green Room | Crítica

Não tem mais bobo no terror de sobrevivência

12.10.2015, às 11H42.
Atualizada em 29.06.2018, ÀS 02H37

A curta mas forte carreira do roteirista e diretor Jeremy Saulnier, de Blue Ruin, mostra um olhar interessado nos impactos da violência. Tudo gira em torno dela em seu longa mais recente, Green Room (2015): desde o potencial da violência, para efeito de suspense, até a sua plena consumação, para efeito de terror.

A trama gira em torno de uma banda punk iniciante, que por 350 dólares aceita tocar num bar neonazista de beira de estrada, perto de Portland. Ali os jovens testemunham um assassinato não premeditado, e acabam presos dentro do bar até a chegada do líder dos nazis, interpretado por Patrick Stewart. A consciência de que tudo inevitavelmente terminará em matança, muito clara para a banda desde cedo, impede que a trama emperre em lamentos e coitadismos; Saulnier faz aqui um filme realista, no sentido em que nenhum personagem de Green Room deixa de repente de raciocinar, concluir, reagir.

Eles não são, em outras palavras, típicos personagens anestesiados de filmes de terror - embora Saulnier esteja claramente jogando dentro da estrutura bem definida de um terror de sobrevivência (a estrada, a cabana isolada, a polícia fora de cena, os vilões organizados como família). Green Room basicamente troca os caipiras canibais iletrados por neonazis metódicos e estudados, e esse upgrade no nível de escolaridade, por assim dizer, faz toda a diferença aqui.

Porque não interessa a Saulnier fazer um filme sobre condições primitivas (a vítima pura e ingênua, o vilão simplesmente selvagem), em que a violência seja uma descoberta, e sim um filme em que a violência seja um dado conhecido, existente, praticado em níveis diferentes por todos, rotineiramente. A importante cena dos jovens roubando gasolina no início (importante porque demarca que eles não serão o tipo disfuncional de refém) já é uma pequena violência em si. E em nenhum momento os personagens de Green Room deixam de ter noção dela. Na verdade, o espírito do punk é incitá-la.

E se o vocalista interpretado por Anton Yelchin diz, numa entrevista no começo, que a banda não tem presença na Internet porque para eles nada substitui a energia do momento, ao vivo, é isso que Green Room entrega. Ao acelerar a exposição e fechar cenas com interrupções (como na hora do disco no apartamento), Saulnier mantém a trama tensionada o tempo inteiro, e o que gera suspense em Green Room não é somente a expectativa crescente da violência mas principalmente essa intensidade com que as coisas se desenrolam. Como a lógica define ações (até a escalada do terror se justifica, quando o nazi autoriza o armamento pensando na cena do crime), e raramente temos diálogos não funcionais (entre os jovens, só o diálogo da ilha deserta é "injustificável"), o filme não desconversa, e exige nossa atenção o tempo inteiro.

Isso não significa que o horror em Green Room seja encenado sem reflexão, quando se efetiva. Na verdade, ao contrário da tendência ao sadismo que domina o gênero hoje, Saulnier não encena a violência ostensivamente (corpos mutilados são mostrados de relance ou nas sombras). Um momento importante que diferencia a violência dos mocinhos e dos vilões é a cena do sufocamento do nazi, demorada, custosa, sofrida, ao contrário das mortes cometidas pelo bando, repetidas mecanicamente como o comando a um cão de caça. Por mais que a violência seja uma presença conhecida, sua manifestação tem um custo, uma responsabilidade. Em Green Room, um filme inteligente sobre atos de barbárie, a violência é um aprendizado.

Nota do Crítico
Ótimo
Green Room
Green Room
Green Room
Green Room

Autor: Jeremy Saulnier

Ano: 2015

País: EUA

Classificação: 18 anos

Duração: 94 minutos min

Direção: Jeremy Saulnier

Roteiro: Jeremy Saulnier

Elenco: Anton Yelchin, Imogen Poots, Alia Shawkat, Joe Cole, Callum Turner, Mark Webber, Patrick Stewart, Kai Lennox, Eric Edelstein, Macon Blair

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