Se não fosse a ganância de alguns produtores, as lamúrias dos críticos de cinema seriam bem menos constantes. Claro que estou falando da vontade desvairada de ganhar dinheiro aproveitando-se de alguma franquia ou personagem de sucesso. Só assim para explicar Hannibal - A Origem do Mal (Hannibal Rising, 2007), um terrorzinho com momentos gore e sotaque europeu, que deveria dipensar a carne humana e passar a comer arroz e feijão para chegar ao Hannibal Lecter de O Silêncio dos Inocentes, que Anthony Hopkins ajudou a tornar um dos maiores vilões da história do cinema.
A vontade de achar um motivo para o jovem aristocrático se tornar um assassino serial nos leva à Lituânia, no meio da Segunda Guerra Mundial. Quando exércitos russos e alemães estão chegando cada vez mais perto de seu castelo, papai Lecter, mamãe Lecter e os dois filhinhos vão se esconder na casa de campo. Não demora para que as bombas e balas os encontrem por ali. Órfãos, a pequena Mischa e seu irmão mais velho, Hannibal, tentam sobreviver ao inverno europeu, e vão conseguindo, até que um grupo de soldados de Hitler os encontra.
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É desnecessário contar aqui o que acontece em seguida, basta dizer que a desculpa encontrada pelo criador da série (e agora roteirista de cinema), Thomas Harris, para tornar Hannibal um matador sem sentimentos é o seu desejo de vingança. Após passar um tempo vivendo sob a tutela russa, o jovem (já interpretado por Gaspard Ulliel) se arrisca a uma fuga para o Ocidente. Chega, então, a Paris. Porém, na casa onde vivia seu tio, ele encontra apenas sua viúva, a Sra. Murasaki (Gong Li).
Por serem os dois vítimas da Guerra, eles logo criam uma estranha cumplicidade. É uma época de aculturamento para Hannibal, que aprende com a tia as tradições japonesas e na faculdade de medicina a "arte" de cortar carne - pegou a "sutileza"? E não pára por aí. A vontade de explicar também a iconografia clássica da série faz com que Hannibal vista uma máscara parecida com a que o personagem ficou marcado, quando interpretado por Hopkins. Além de desnecessária, a cena não serve sequer para esconder as caretas do limitado protagonista francês, que foi visto recentemente em Eterno amor.
Geralmente, as prequels, ou prólogos, são formas de "ressuscitar" um personagem que está morto e por isso não teria como voltar. Hannibal - A Origem do Mal é um raro caso em que conseguiram matá-lo mesmo antes que ele existisse.