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Happy Feet - O pingüim: Entrevista com o diretor e elenco

Falamos com Robin Williams, Elijah Wood e George Miller

23.11.2006, às 00H00.
Atualizada em 04.12.2016, ÀS 11H00

Happy Feet - O Pingüim
Happy Feet
Austrália/EUA, 2006
Animação/Musical
87 min.

Direção: George Miller
Roteiro
: George Miller, Judy Morris, John Collee, Warren Coleman

Vozes no original: Elijah Wood, Brittany Murphy, Robin Williams (Ramone), Nicole Kidman, Hugh Jackman, Carlos Alazraqui, Denise Blasor, Elizabeth Daily, Khamani Griffin


George Miller

Elijah Wood

Robin Williams

Los Angeles, 10 da manhã. Estou em um luxuoso hotel de Beverly Hills e quando desço para o lobby para perguntar onde seria a coletiva com Robin Williams, Elijah Wood e George Miller, dou de cara com Robin Willians, Elijah Wood e George Miller andando na direção contrária à minha. Obviamente eu estava indo para o lugar errado. Fingi que não era comigo, fui até a recepção do hotel e confirmei o local da entrevista. Durante a meia hora que a coletiva durou, Elijah tentou ser sério, George Miller tentou explicar seu filme e Robin tentou e conseguiu divertir a sua platéia com piadas e imitações hilárias. Infelizmente você não vai poder ouvir as imitações, mas peço que feche os olhos e imagine a cena :-)

Happy Feet - O Pingüim parecia ser um filme infantil, mas na verdade tem muito mais por trás. De onde veio isso?

George Miller: O que eu quero passar com esta história não é apenas uma coisa. Os significados estão lá para que cada um da platéia escolha o que achar mais importante. Para mim, a história é sobre pertencer ao mundo, com seus amigos, as pessoas que você ama, a sua comunidade.

Foi uma decisão consciente colocar os pingüins adelie como latinos?

GM: Para mim, foi. Nós procuramos entender como os pingüins são. Os pingüins imperadores, que podem ter até metade da altura humana, são bem elegantes e passam boa parte do tempo sobre o gelo. Já se você for a uma colônia dos adelies, que vivem na costa, em áreas com muitas pedras, você verá que eles são mais frenéticos. E isso me lembrou muito a cultura latino/mediterrânea. Então, essa foi uma forma de diferenciá-los.

Essa é para Elijah e Robin. Vocês já tiveram seus momentos de Mano, em que sabiam que o que estavam fazendo era o certo, mas precisavam da aprovação das outras pessoas?

Elijah Wood: Antes de ser um adolescente, eu me achava meio diferente porque achava que eu era mais velho do que realmente era. Sempre fui mais responsável que a maioria dos garotos de 8, 10 anos. Eu me considerava um adulto e acho que isso é bem parecido com o Mano.

Robin Williams: Como filho único, eu também fui um pouco assim. Foi só quando eu saí para ir para a faculdade que descobri essa coisa chamada teatro de improviso e pensei hmm, isso é bem mais divertido do que economia (risos). Até então, eu sempre tive que ser bastante adulto, mas daí descobri essa liberdade com a qual eu ganho minha vida hoje.

Essa é para Robin. Você já fez muitas dublagens na sua carreira. Quantas vozes diferentes você consegue fazer, já que você sempre acha algo diferente?

RW: [Fazendo voz bem grave] Obrigado. Eu faço muitas vozes de proteção de testemunhas, especialmente agora, com este governo. [Volta ao tom normal] Fazer vozes diferentes para mim é criar um personagem que não tem nada a ver com você. Eles podem filmar enquanto você dubla, para pegar algumas expressões, mas no fim é algo completamente novo. Como ser um pingüim muito poderoso. Ou um [fazendo voz do personagem Amoroso] pingüim Barry White. Para trazer de volta o verdadeiro amor. Eu quero você comigo, querida. Venha e bote o seu ovo. Yeah! Agora traga ele aqui pro papai. Yeah! [volta à voz normal]. Fazer todas estas vozes é um dom. É divertido pra caramba e me dá a chance de trabalhar com George... [imitando o sotaque australiano] Ele é um bastardo. Ele sempre quer mais. [Volta à voz normal] E para mim foi muito especial trabalhar ao lado de todos aqueles comediantes latinos. E isso para mim é sempre uma ótima chance para me divertir muito e foi isso que aconteceu. E quando eu vi o filme pensei Uau, isso é uma mistura de Riverdance (peça de sapateado irlandês) com Marcha dos pingüins.

Mas as pessoas que você realmente tem que agradecer são os animadores e George. Eles fazem todo o trabalho pesado. Nós só damos para eles uma inspiração e eles vão muito além ao criar características únicas para personagens que você só emprestou a sua voz. Isso é incrível. George me falou que há 7 milhões de penas em um pingüim. Em um só! E é realmente maravilhoso ver o resultado final.

Agora, uma pergunta para George Miller. Sendo um filme de animação, todos acham que vai ser um filme simples, para toda a família. Mas o terceiro ato da história fica mais sombrio e vai para lugares completamente inesperados. Você teve que lutar para conseguir manter isso dentro de um estúdio, como foi esse processo?

GW: Bem diferente de outras experiências que eu tive, nunca houve uma luta com o estúdio. Este projeto teve dois grandes financiadores, Warner Bros. e Roadshow. O bom é que no campo da animação, você pode ver o filme bem cedo, ainda que numa forma bem crua. E desde esta época todos viam o que era o projeto. Nunca houve uma briga. Na verdade, eles sempre me encorajaram a ir adiante, sem medo. E como contador de história, o que eu mais gosto é a forma como se conta uma história e o que sempre me deixava maravilhado era o que ficava nas entrelinhas. Era isso o que eu queria.

Sobre o terceiro ato, de um ponto de vista da história, o que é bom frisar nas características do Mano é que mesmo sabendo que ele era diferente, ele é muito otimista. E foi muito interessante levá-lo para um lugar onde ele não tem mais nada além dos seus pés. Se você prestar atenção, quase nada consegue deixá-lo triste.

Eu gostaria de saber se algum de vocês já foi à Antártida, para este filme, ou até mesmo antes de tudo isso começar. E queria saber do Robin Williams se ele tentou dar ao seu pingüim latino uma outra origem.

RW: Todos os adelies são comediantes latinos, então acho que ficaria meio estranho se o Ramon fosse de outro lugar. [E começam de novo as vozes e sotaques] Ele podia ser australiano, mas acho que não ia funcionar. Ou talvez neozelandês. Ou canadense e não vamos nem falar dos outros pingüins. [voltando ao normal] Então, eu escolhi ir por essa direção porque todos os outros amigos também eram latinos e escolhi um argentino porque [começa o sotaque argentino] existe um certo ‘machismo’ e eu queria fazê-lo o pingüim ‘más fuerte’. Pequeno, mas ainda potente. E lá no meio dos adelies, o tamanho não é importante. Se você dá uma pedra, o amor, ‘mi corazón és más importante’. [fim do show] E se você vive na Califórnia, você vê que 60% da população é de origem hispânica e temos um governador austríaco. [Começa então a grunhir, imitando o Schwarzenegger]. Sobre a Antártida, eu ainda não fui. Mas quero ir logo. Está derretendo. E eu li uma matéria que eles acharam petróleo lá, então é melhor me apressar.

GM: Tivemos duas expedições da nossa equipe que foram até lá para a divisão neozelandesa, capturar imagens de referência dos cenários, dos pingüins. Mas o trabalho era voar até lá, deixar o equipamento e voltar. Não ficaria mais do que uma hora na Antártida. Eu fiquei bastante tentado, mas achei que seria trapacear. Não daria para dizer que eu fui para lá se fiquei no máximo uma hora. O que eu posso dizer é que conheço algumas pessoas que já foram para lá, e não só cientistas, e acharam tão maravilhoso que não vêem a hora de poder voltar. Eles dizem que é algo épico e elementar, e também meio frágil ao mesmo tempo. Toda a história da humanidade está escrita lá, de vulcões a Chernobyl e a camada de ozônio. E coisas que estão sendo feitas estão destruindo tudo.

Agora uma pergunta para Elijah. Gostaria de saber se você gostava de ir ao zoológico. E se você já tinha se colocado no lugar deles. E queria também saber se você canta.

Sim, eu já fui a vários zoológicos. E se você tem qualquer sensitividade, você fica com aquela sensação de que aquilo não está certo. Eu procuro ir aos zoológicos que estão envolvidos em programas de conservação e tem lugares maiores para os animais. E sobre a minha voz, eu consigo segurar uma nota. Profissionalmente, você vai ter que perguntar para outra pessoa.

Como está o seu selo musical?

EW: Está começando. O primeiro lançamento será o novo disco do The Apples in Stereo, em fevereiro. Há muito tempo sou fã da banda, então é uma coisa muito legal começar este trabalho com uma turma que eu gosto tanto. Não podia começar melhor. E eu dirigi o vídeo deles uns dias atrás.

Eu sempre gostei muito de música e venho pensando em montar um selo há bastante tempo. E é bom fazer parte de algo que você acredita e gosta e dar seu apoio à música. É gratificando você encontrar uma banda e meio que cultivar este artista e fazê-lo ser ouvido.

Então você não levou para o lado pessoal quando George escolheu você para ser o único pingüim que não sabia cantar?

EW: Na verdade, foi muito divertido cantar tão mal. E eles fizeram soar ainda pior no filme. Ficou ótimo, ainda mais engraçado. Eu não consigo cantar tão mal daquele jeito!

E o que você achou do jeito que o pingüim se parece com você?

EW: Eu não acho que sejamos tão parecidos. Não sei. Acho que é porque eu me envolvi tanto com o mundo dos pingüins e me acostumei tanto com o visual do Mano que eu via o Mano ali. Mas várias pessoas estão falando isso pra mim.

GW: Os animadores e os modeladores procuraram algumas características e acabaram usando os seus olhos, o que, aliás, deu um trabalho enorme. E agora vou contar um segredo que acho que nem você sabe. Para fazermos Mano cantar tão mal, nós pegamos a sua voz e acrescentamos alguns cantos dos pingüins de verdade.

EW: Então foi isso!! Porque ficou meio esganiçado.

RW: Então para os pingüins você está ótimo! (risos)

Agora outra pergunta para George Miller. Você se inspirou mais nos musicais ou nos pingüins para fazer este filme?

GM: O que mais me inspirou foi um documentário da BBC e National Geographic que eu vi há uns 10 anos chamado Life in the freezer. Quando eu vi aquelas criaturas maravilhosas e como eles viviam, eu vi que tinha uma história ali, com esta peculiaridade de que cada pingüim tem a sua canção do coração e a usam para achar o seu par, já que todos se parecem idênticos. Daí, quando tive a idéia de um pingüim que não podia cantar, mas que dançava muito bem, vi que estava no meio de um musical. Eu sempre adorei os musicias. Eles têm tudo a ver com ritmo, que na minha opinião é fundamental para contar uma história. Até então, eu nunca tinha pensado em fazer um musical.

Essa é para os atores. Qual o grau de liberdade que vocês têm na criação dos personagens?

RW: Liberdade total! Pegue o personagem do Amoroso, por exemplo, que é uma reencarnação do Barry White. [e começa a imitação] Eu sempre quiser ser um negão, mas isso envolveria muita maquiagem. Mas eu sei que você sabe que tem muito amooor. [fim do show] É claro que eles mostram pra você um rascunho do que como o personagem vai ser, mas quando você o vê em ação é algo completamente diferente. Eu já trabalhei em outras animações em que tinha de falar palavra por palavra, pois eles já tinham o desenho pronto e eu tinha que fazer as palavras caber ali.

Por isso que mais uma vez eu digo que o maior mérito aqui fica para os animadores. O trabalho deles é 90%, enquanto o meu é só 10%. Eu só entro lá e empresto a minha voz. Ela podia ser [começa a imitar Marlon Brondon] diferente, sabe? Só uma pedra e você a segura assim, sabe? [Ou como Chris Walken] Seria formidável ouvi-lo como um pingüim! Mano! Andando! Cantando! Eu sou um dançarino! [ou ainda um DeNiro] Legal. [ou ainda o Pingüim Pacino] Ei, o Pingüim Pacino... ei, o que você está fazendo? Tome cuidado! [fim do show] Vozes são muito divertidas de se fazer.

Sr. Miller, por que você optou pelo realismo e quais as vantagens de usá-lo a contar a história.

GM: A escolha veio do jeito dos pingüins e do maravilhoso cenário onde eles vivem. Eu pensei por que tentar caricaturizar e exagerar algo que foi criado de forma tão bela pela natureza? Foi uma escolha muito difícil, tecnicamente. Fazer algo realista demanda uma energia gigantesca. E tem ainda o meu passado com a live-action, com exceção de Babe, que era live-action, mas usava um pouco de computação e animatronics nos animais. Então, acho que foi meio que um caminho natural mesmo.

Enquanto você estava fazendo o seu filme, quando foi que A marcha dos pingüins surgiu e o que você pensou na época?

GM: Este filme começou muito antes de A marcha dos pingüins e já que era um projeto da Warner Bros. [por meio da Warner Independent], nós estávamos sabendo de tudo desde o começo. E quando o filme começou a fazer sucesso eu achei aquilo ótimo. O nosso filme vem de um roteiro original. Não é uma seqüência, nem uma adaptação de um livro. E A marcha dos pingüins criou o seu próprio caminho. Fiquei muito feliz que a Warner o pegou e obteve sucesso. Ajudou a mostrar o que acontece lá e como são extraordinárias estas criaturas.

Nesta indústria há muita pressão. Você foi pressionado em qualquer sentido? Outra coisa: gostaria que você falasse sobre o quarto Mad Max. Como está o projeto, Mel Gibson está envolvido?

GM: Quando se está fazendo um filme, o meu trabalho como diretor é proteger a narrativa. Basicamente, o que mantém minha mente ocupada é como contar a história, o que não é nada fácil, pois você tem acertar o ritmo certo, as idéias. Quando se faz uma animação, você pode fazer coisas que não dá para fazer em live-action. É mais fácil chamar os atores para refazer algumas cenas. Não precisa remontar cenário, mudar câmeras de lugar. Tudo o que você precisa é ver a disponibilidade dos atores de vir até o estúdio para mudar toda uma cena. Não dá tempo de pensar muito nessa história de pressão. Mas no momento em que não há mais nada que você possa fazer, é o pior momento. Tudo está fechado e enterrado. Agora fica a expectativa o que as pessoas vão achar?. Eu ainda não vi o filme completo. Vi tudo em vários pedaços. E quero fazer isso no meio de uma platéia pagante, para não haver nenhum tipo de pré-conceitos. Eu adoro quando ouço que no fim de uma sessão tinha gente dançando. E também adoro ver que as pessoas conseguiram ver algo mais na história. Vamos ver como o público vai reagir a tudo isso.

E sobre Mad Max, faltavam poucas semanas para começar a filmar Mad Max 4 quando a Guerra no Iraque veio e fez a cotação do dólar despencar, diminuindo o nosso orçamento. E, ainda pior que isso, nós não conseguíamos enviar os containeres, não conseguíamos seguradoras para o nosso equipamento. E nessa época a Warner Bros já tinha lido o roteiro de Happy Feet e disse venha, vamos começar logo com este projeto e um espaço nos estúdios da Fox, em Sydney, estavam disponíveis, então tínhamos que ir para lá imediatamente. Eu tenho uns outros dois filmes que eu quero fazer, daí vou voltar a pensar em Mad Max. E sobre Mel, eu acho que ele ia fazer o filme naquela época, mas acho que a paixão dele hoje se transferiu para trás das câmeras. Ele tinha 21 anos quando fez o primeiro filme e agora está com seus 50 e este não é um filme sobre um velho andando pelo deserto. E pelo próprio fato dele estar mais interessado no que acontece por trás das câmeras mudou o foco dele e este é um filme que precisa de um ator sedento por atuar.

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